De todas as causas que a publicidade ajuda a defender com talento e maestria para seus clientes, existe uma em particular que passa despercebida pelas próprias agências. Precisamos falar sobre etarismo. Esse é o tipo de preconceito presente, quase nunca citado e afeta diretamente a qualidade sobre a quantidade do que a nossa Indústria coloca no ar.

Ter mais de 40 anos, 50, 60 ou 70 não deveria ser um defeito dentro de uma agência de publicidade. Não o é nas indústrias adjacentes das quais nos servimos, como no cinema, artes, literatura e  ciência. Admiramos o último filme de Scorcese; a atuação brilhante da Viola Davis; o último ensaio de Murakami ou a mais recente peça de Fernanda Montenegro. A Globo acaba de contratar Eliana com 51 anos. E aposta muito nela e em seu talento.

É inteligente valorizar os que vieram antes. A frase de Isaac Newton “se vi mais longe, foi por estar nos ombros de gigantes”, é perfeita para explicar que o acúmulo de conhecimento nos prepara para saltos maiores. Mas, conviver no mesmo espaço que pessoas mais velhas claramente incomoda uma geração que quer salvar as baleias e conter o aquecimento global.

Sabe aquele quase roteiro maravilhoso? Aquele craft que bateu na trave? A quase frase conceito inteligente que não chegou lá? Eles podem fazer isso e muito mais. Não precisa ser só em concorrências em que não podem aparecer como autores. Se toda profissão tivesse de começar de novo, sem levar em conta o que foi feito e suas técnicas, seria um eterno reaprender da mesma lição. Veja a Nasa, que esqueceu como se faz foguete e cápsulas espaciais. Nesse momento dois astronautas estão presos na estação espacial, pois não confiam no veículo da Nasa para voltar à Terra. Nossa indústria faz parte do ramo do conhecimento que não pode deixar de aprender. Mas precisa de gente boa para ensinar.
Bom é aprender, mas ótimo é aprender com o erro dos outros, pois é mais rápido e econômico. Mas precisa dessa troca. Interação. Empatia. E aí que a coisa não evolui. A publicidade global entendeu o valor do profissional brasileiro experiente 10 a 15 anos atrás com a importação em massa desses talentos. Esses craques brasileiros migraram, com suas famílias, para Inglaterra, Estados Unidos, Singapura, China, Austrália, Nova Zelândia e Europa em geral e têm feito a diferença na qualidade do trabalho que esses países produzem.

O que me motiva a escrever sobre esse assunto é que a publicidade ganhou nos últimos tempos uma missão extra: melhorar o mundo. Mas é preciso também melhorar o mundo dentro das agências. E não me refiro à mesa de pingue-pongue e puffs espalhados numa área de descompressão. Em 1975, o comercial criado por Washington Olivetto e Francez Petit, ‘O homem de 40 anos’ ganhou o primeiro Leão de Ouro em Cannes. 40 anos depois desse prêmio, em 2015, houve uma reedição desse comercial dizendo que pouco tinha mudado. E quando você vê o comercial novamente entende que pouca coisa mudou. Aqui um trecho:

“Nenhum país pode se dar ao luxo de desperdiçar suas pessoas mais experientes”. “Procure descobrir o talento e a vontade de trabalhar que podem estar escondidos dentro de uma cabeça coberta de cabelos brancos”.  Diz a locução do incrível Ferreira Martins, ao intercalar imagens de pessoas como Ghandi, Picasso, Frank Sinatra e Albert Einstein – os quais começaram a fazer sucesso só depois dos 40.

O ser humano com mais experiência pode ser também uma causa das empresas. Afinal, ele é natureza também. Uma causa silenciosa como as verdadeiras causas são. A convivência dos mais experientes com os mais jovens é a maneira mais criativa e econômica de formação de profissionais. E estamos precisando disso para ontem.

Flavio Waiteman é é sócio e CCO da Tech&Soul (flavio.waiteman@techandsoul.com.br)