Em 2009, concluí meu primeiro mandato como presidente do Sinapro-Bahia. Era um outro mundo. Fui a primeira mulher a presidir a entidade, o que comprova que a publicidade vinha avançando na compreensão do papel da mulher, embora houvesse paradigmas a quebrar. Nossa diretoria, consciente da importância do Sinapro como representação legal da categoria, muito realizou em benefício das agências e do fortalecimento da classe. Nossa maior dificuldade foi a crise de 2008, que trouxe a retração do crédito e a redução da atividade econômica. Contudo, sobrevivemos.

Assumi, novamente, a presidência do Sinapro-Bahia em setembro de 2019. Com seis meses de mandato, veio a crise da Covid-19 e o susto da OMS, caracterizando que o mundo vivia uma pandemia. A medicina pouco sabia da Covid. As medidas sanitárias indispensáveis colocavam as pessoas em casa, atingindo, sobretudo, quem precisava viver de trabalhos presenciais e afetando os mais vulneráveis. A população lotou as emergências hospitalares, que não dispunham de estrutura de saúde suficiente para atender à demanda. O governo federal divergia da medicina e resistiu a comprar vacinas. O povo começou a morrer e todos nós perdemos entes queridos em uma das maiores tragédias de todos os tempos – que fique aqui registrada a minha solidariedade com os parentes das pessoas que perderam a vida para a Covid-19.

Nossa existência virou às avessas. O isolamento social gerou tristeza, nostalgia e depressão. As vítimas fatais da Covid cresceram até 670 mil pessoas, da mesma forma que aumentou o desemprego e a violência contra a mulher. Em 2021, a fome alcançou mais de 33 milhões de pessoas. Algumas marcas realizaram campanhas de solidariedade. Percebemos que a atividade publicitária precisava mudar e a primeira medida adotada foi o home office, para proteger as equipes. Essa mudança funcionou. Depois, veio o modo de trabalho híbrido. O cliente demandava a presença das nossas equipes, além de precisarmos intercambiar ideias com os colaboradores.

Os anunciantes pareciam confusos naquele primeiro momento da pandemia. Foi necessário lembrar a eles que “anunciar é mais importante na crise do que fora dela”. Como iriam vender, sem divulgar seus produtos e/ou serviços? Onde anunciar? No offline e no online, porque nada é mais eficiente do que uma mídia integrada. Cresceu a audiência da televisão, porque as pessoas queriam informações com credibilidade sobre a pandemia. E o digital entrou rasgando na vida das pessoas. Vivemos em um país com um alto número de desempregados (cerca de 21 milhões de pessoas – 2022), mas temos carência de profissionais qualificados para atender à demanda de transformação digital e dos novos negócios web-based.

A propaganda é uma indústria que emprega cerca de 438 mil pessoas no Brasil e tem o poder de estimular outras indústrias, porque acirra a concorrência e, ao fazê-lo, beneficia o consumidor, abrindo um leque de opções de consumo. A propaganda já vem se reinventando para atender à transformação digital, sabendo, no entanto, que a criatividade será sempre o seu maior diferencial. É com a certeza de muitas lições aprendidas e o peito cheio de esperança que vislumbro o fim de 2022 e a chegada de um 2023 realmente novo. Acredito que a publicidade será, mais do que nunca, uma atividade imprescindível para a verdadeira retomada do crescimento em nosso país, com redução das desigualdades e de todo tipo de violência. E encerro convidando você a propagar comigo essa visão.

Vera Rocha é CEO da Rocha Comunicação, de Salvador, ex-presidente do Sinapro-BA e diretora da Fenapro
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