Belíssimo filme da Volkswagen com Maria Rita e sua mãe, Elis. Emocionou a grande maioria das pessoas com suas imagens apaixonantes e uma mensagem inesquecível de Belchior. Mas enfureceu alguns outros.

E a minha dúvida é exatamente essa, por que enfureceu a tantos?

O problema seria a música? Bem, a música é o que a MPB tem de melhor. Além de ser uma composição maior de Belchior, ele mesmo numa entrevista disponível por aí, 20 anos depois de lançá-la, disse que ela é atemporal.

Contém uma verdade humana e comportamental que faz cada um lembrar de onde veio e para onde pode ir.

E, mesmo sem termos vivido a época em que foi composta, a maioria de nós pelo menos, o seu contexto nos mostra que “Como nossos pais” é superior em qualidade a muito o que se tem hoje e, basicamente, acaba com argumentos como: “ninguem vai lembrar”, “mas quem compôs?”, “é velho”.

A qualidade é importante e as pessoas gostam também. Basta servi-las com aquilo que é realmente bom. Não foi a música que enfureceu tanto as pessoas.

Seria a forma? Reviver Elis com inteligência artificial? Isso poderia abrir problemas éticos? De direitos autorais? “Será que ela autorizaria?” eu ouvi.

Bem, vendo pelo lado da família de Elis, basicamente todos artistas e empresários, devem adorar que as novas gerações curtam o seu talento e voz.
Redescubram a artista. E, só a eles e a mais ninguém interessaria esse assunto. Vibramos com o filme do Elvis ano passado, realizado por Baz Luhrmann.

E, Elvis não está vivo, pois não? Baz apenas não quis usar inteligência artificial, e sim um ator.

AI é apenas uma ferramenta. Que, no caso do filme da Elis, passou toda a emoção que precisava. Será que o que enfureceu as pessoas foi a Elis jovem? Junto com a jovem e talentosa filha?

Todos querem viver para sempre e o talento descomunal assusta. Elis tem um talento descomunal, como poucos brasileiros.

Uma outra hipótese é que o filme foi um estrondoso e instantâneo sucesso. De uma agência, AlmapBBDO, que está aí há décadas fazendo um trabalho de classe mundial. Foi puro talento e competência que o fez passar de celular para celular.

O filme poderia estar nos cinemas, na TV, em qualquer tela. Mas foi um viral imediato.

E viralizou pelo brilhantismo da ideia, pelo altíssimo nível de produção, pela qualidade do som em dueto da Maria Rita e Elis, pela escolha e filmagem das imagens que mostram o contato das pessoas com a marca. Vai saber, não é mesmo?

Talvez para quem tenha dito e confirmado, com dados, que a publicidade tinha ido embora de nossas vidas, essa campanha nos mostra que ela está voltando.

Num mercado em que todo dia aparece uma nova disrupção, um novo guru, uma nova tendência de comunicação do próximo verão, é bom saber que quem ainda dirige essa Kombi é a criatividade.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br