Isso aconteceu porque eu me peguei em diversos momentos me questionando como é difícil listar coisas que te inspiram com 23 anos e trabalhando nesse mercado há apenas um ano. O fato é que todos aparentam ter melhores referências que você, sabem os filmes mais conceituais, leram livros melhores e isso fez com que eu me perguntasse se as coisas que me inspiram eram, de fato, inspiradoras. Aliás, foi difícil pensar nas coisas que me inspiram, porque nunca parei pra analisar isso de fato. Então, nesse um mês refletindo, escrevendo, apagando, escrevendo de novo e por aí vai… acho que cheguei em algum lugar no meio de tantos devaneios sobre o assunto.

Esse processo de reflexão começou com o fato de abraçar uma verdade. Nasci em 1999, cresci rodeado por uma cultura pop e nunca tive tanto contato com MPB e coisas que muitos consideram como um amor inerente a qualquer brasileiro. Eu sempre gostei muito de música, videogames e desenhos. Guitar Hero III e Tony Hawk American Westland fizeram eu me apaixonar pelas músicas que tocavam nos games e me motivaram a andar de skate aos 7 anos.

Sempre estive rodeado por HQ’s, cresci com os filmes da Marvel desde o primeiro X-Men até as sagas que a Marvel Studios vem fazendo. Cansado de jogar e acompanhar youtubers jogando, decidi abrir o próprio canal de gameplays e um outro de vlogs, também estudei música por dias e horas com o intuito de me tornar um músico profissional. Em paralelo a todo esse universo de games e música, eu assistia alguns animes. Mesmo não sendo o mais otaku da galera da escola, eu curtia animes como Naruto (que mudou a minha vida), Bleach (que eu não terminei), Sword Art Online, Fairy Tail… No geral, eu sempre me cercava de muitas coisas que prendiam a minha atenção totalmente.

Então chega o ponto em que, aos 15 anos, eu começo a me interessar por cinema
e a percepção de que tudo isso, que pra mim era mágico, não era levado tão a sério e filmes difíceis de assistir junto a livros “chatos” começam a vir ao meu conhecimento. Nessa idade eu não estava interessado nos filmes do Tarkovisky, na real eu não assisti até hoje (preciso assistir). De uma certa forma, isso foi me colocando em um lugar onde tudo aquilo que eu tinha apego não significava nada por não ser algo soviético ou por não ter uma super filosofia por trás, mas eram coisas super legais ao meu ver.

Olhando tudo isso eu percebo que o que sempre me cativou foi a estética, seja ela qual for e o que de fato ela representa. Os traços dos animes e a maneira como eles são animados, a narrativa dos games que eu jogava, o movimento do corpo enquanto eu tentava acertar alguma manobra no skate, a distorção e a melancolia das bandas de shoegaze e midwest Emo, que eu ouvia, me fizeram compreender que uma das coisas que me inspiram, de fato, é a estética como uma maneira de cativar interesse em algo. Mas eu vejo, por outro lado, que só a estética pela estética não faz muito sentido e então chegamos ao segundo ponto dessa minha reflexão.

Com o passar do tempo, eu fui aprendendo a assistir filmes que não fossem blockbusters, conheci livros que mudaram muita coisa que eu pensava, Carta ao Pai, do Franz Kafka, se tornou o meu livro favorito e o meu autor favorito. Passei a me interessar por história da arte, que na época de escola era uma matéria que eu detestava, e, com um pouco de tempo e conversa entre amigos, as coisas que eu gostava começaram a se ampliar.

Revisitando as coisas que eu gostava e ainda gosto, comecei a entender que elas não eram totalmente vazias e, todo esse universo literário e cinematográfico que comecei a buscar mais, me ajudou a perceber as entrelinhas nessas diferentes formas de narrativas. Com cada personagem, uma angústia; e com cada angústia, um motivo. Tomar conhecimento disso fez eu compreender que, desde as bandas que eu ouvia até os animes, o que me atraía não era só a estética, mas a busca pelo significado dentro dessas diferentes estéticas. E esses significados poderiam ser sobre a obra em si, sobre uma questão interna minha, sobre uma associação com um ciclo social, e, mesmo que essa minha busca fosse inocente, ela sempre esteve lá.

Então, toda essa reflexão me traz até o presente. Confesso que ainda não sei dizer o que de fato me inspira, ou se consigo falar do Franz Kafka do jeito que muitas pessoas falam sobre os seus autores prediletos, mas essa sensação de que existe muito significado em coisas simples me cativa muito.

Acredito que, para o meu trabalho, esse desejo de tentar entender, olhar com outras lentes a partir de uma perspectiva de que tudo é muito maior do que eu, me ajuda a buscar de forma sensível o valor de cada elemento de uma obra que eu faça, seja ela um filme, um texto ou qualquer outro tipo de coisa que eu possa vir a fazer.

Eu quero buscar os significados das coisas em mim, das coisas fora de mim, para então poder juntar tudo isso em trabalhos onde, de alguma forma, seja possível estabelecer um vínculo de comunhão com as pessoas, com histórias que possam entregar significados que façam sentido para cada um.

Natan Neves é Creative Assistant da Stink Films