Luke Alkins, de 42 anos, foi a primeira pessoa a pular de um avião sem paraquedas. E sobreviveu. Saltou do avião a sete mil metros e controlou a direção da sua queda livre até atingir uma rede de circo de 100 metros quadrados que amorteceu seu peso (encr.pw/noparachutes). Podemos dizer que Luke inovou, pois fez um salto de paraquedas sem o paraquedas. Foi o primeiro no mundo a fazer isso e por enquanto o único.

Inovação é coisa séria. Usar a palavra inovação não nos faz inovadores. Postar sobre inovação também não. Saltar sem paraquedas, faz. Mas daí é trabalho.

Trabalho e coragem. Quantas vezes por ano você topa saltar sem paraquedas naquilo que você faz para viver? Na comunicação, a inovação pode custar caro. Ou render altos ganhos e a liderança de um segmento. É um trabalho para profissionais com duas das qualidades raras e admiráveis: coragem e preparação. A coragem é algo natural em alguns e um músculo a ser exercitado em outros, como todo talento na vida. Preparação é puro esforço mesmo.

Muito se tem falado nos grupos de criativos e profissionais de marketing sobre projetos de inteligência artificial. Para implementá-la em nosso dia a dia vamos precisar de pessoas com coragem e preparação, além de vários saltos sem paraquedas.

Mas é isso que define depois quem fala para a plateia e quem aplaude no final. Pensando um pouco mais sobre essa palavra usada todos os dias em nossa indústria, inovar é flertar com o fracasso sem perder o sorriso no rosto. Uma constatação importante: existem grandes campanhas de comunicação, originais, criativas e efetivas onde não há inovação, mas originalidade e talento. Bom também e muitas vezes apenas por não precisar. Apple é vista como uma empresa inovadora sem ter criado vários produtos com os quais obteve sucesso. Há muitos méritos nisso.

Veja o caso dos veículos elétricos nos Estados Unidos. Hoje, o americano médio já começa a acreditar que a GM e a Ford são os pioneiros dos carros elétricos naquele país. Talvez porque a Tesla nunca tenha se importado muito em apenas informar sobre a sua inovação, fora de sua bolha.

O ideal é ouvir o Chacrinha: “quem não se comunica se trumbica”. Milhares de empresas relevantes e inovadoras de fato, em diversos segmentos, fazem isso. Até dois anos atrás a vantagem tecnológica da montadora Tesla lhe dava o protagonismo da imagem de inovação. Até abriu patentes, mas agora, com o tsunami tecnológico da mobilidade a entrar em todas as marcas, talvez não seja mais assim. Saberemos a verdade em alguns anos.

Talvez um pouco da “coragem” esteja nos dados, na experiência, no craft, na preparação. Amir Klink não se considera um aventureiro, mas um planejador minucioso. Da mesma forma Luke, o não paraquedista, calculou o tamanho da rede de circo que daria conta de amortecer o impacto lá embaixo e topou pular daquele avião.

Fez os cálculos, colocou alma nisso e teve sucesso. No vídeo, incrível por sinal, fico pensando no que ele estaria pensando durante o salto. Com toda certeza não pensava em paraquedas.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br