Não sei você, que perde tempo com estas linhas mal escritas, mas falando de mim para comigo, definitivamente não estou adequado aos novos tempos. Não me acostumei ainda com as manias contemporâneas. Estou ficando velho. E ranzinza. Mas não consigo compreender alguns comportamentos que estão se tornando padrão. Um exemplo? Fácil: o pessoal que anda pra cima e pra baixo com uma garrafa térmica com água e toma um golinho a cada 5 minutos. É preciso fazer isso mesmo?

Chegamos até aqui sem essa mania e só agora descobrimos que goles de água podem ser a salvação da vida? O ser humano foi criado para viver próximo a um veio d’agua para ir se hidratando a cada minuto? Já existe prova científica de que é preciso viver com um odre à mão para bebericar continuamente? Mudando de assunto, eu pergunto, quem foi que descobriu que somos uma raça de bichos totalmente aparelhada para comer carne, mas não devemos fazê-lo? Somos dotados de dentes, mandíbula, estômago de carnívoros, mas é de sacanagem. O certo é comer plantinha?

Vamos abandonar a linguicinha, a mortadela e o presunto porque de uma hora para outra, depois de séculos vivendo cada vez mais e com menos doenças, concluímos que estas delícias fazem um mal danado para nosso corpo. Não consigo entender. Posso até concordar que a vida sedentária seja prejudicial, que fomos feitos para caminhar e lutar pela comida. Então existe certa lógica na esteira das academias, onde estão instaladas umas paródias das veredas que nossos avós percorriam a pé, em busca de alimento.

Mas se for para imitar de verdade os antepassados, que se caminhe duas ou três horas num aparelho, encha-se o bucho de carne e durma-se até dar fome de novo. Assim é que era.

Andar, caçar, dormir, comer. E só largar o soninho quando der fome. Qual seria a razão para imitar boi ou ovelha e viver de capim? Não que eu ache que os vegetarianos sejam doidos. Eu também tenho pena dos bois e vacas, dos porquinhos que são sacrificados para saciar a nossa fome.

No início dos tempos eles até tinham uma chance de escapar de nós, seus predadores. Hoje não há a oportunidade da fuga, do drible, que deveria dar aos integrantes de nossa cadeia alimentar alguma perspectiva. Lutemos, pois, para que a vida e a morte dos bichos seja mais divertida. Que sejam proibidas as práticas que tiram deles a alegria de viver antes do sacrifício. Tudo bem, as galinhas lá de casa, por exemplo, têm à disposição um terreno bem grande para ciscar.

Estou pensando até em presenteá-las com um galo, apenas para o prazer, já que não pretendo me tornar um criador. Elas comeriam do bom e do melhor, fariam sexo sempre que quisessem e seriam sacrificadas exatamente como suas antepassadas pré históricas: na marreta.

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A luta de Bolsonaro contra a Folha e a Rede Globo me lembra a história que eu já contei aqui do ventríloquo que para se distrair enquanto esperava o trem resolveu brincar com um menino que conduzia uma cabra amarrada a uma corda.

O ventríloquo fingiu que falava com um cachorro e um gato que vadiavam pela estação. Fazia de conta que a cada um perguntava o que estava fazendo e usando seu talento dava a impressão que eles respondiam. O menino, assustado, tentava esconder a cabrinha atrás de si. Até que, acreditando que o artista falava de verdade com os animais, apelou: “Moço, não fala com essa cabra! Ela é muito mentirosa…”.

O presidente tenta desmoralizar os veículos de comunicação como medida preventiva.

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor
(lulavieira.luvi@gmail.com)