Ou, se preferirem, a ética é inerente ao comportamento das pessoas num mundo supostamente civilizado. Se não é, deveria!

Lembram da música ‘Conceição’, talvez o maior hit de Cauby Peixoto? ‘Conceição’, composição legendária de Jair Amorim e Dunga, talvez seja o que melhor explique as perplexidades do mundo novo em que vivemos. Ninguém é culpado de nada, ou, como dizia a música, “se subiu, ninguém sabe, ninguém viu...”.

E todos recorrendo ao brocardo jurídico, “Nulla Crimen, Nula Poena, Sine Lege”. E que significa, “Se não existe lei, não existe crime”, e muito menos qualquer possibilidade de alguém ser apenado...

Esqueceram-se da velha, maltratada e cinicamente ignorada ética. Não se faz ou deixa de fazer o que quer que seja pela inexistência de leis. Apenas, primeiramente, e acima de tudo, por uma questão de ética.

E que nos dicionários segue sendo definida como “O ramo da filosofia que tem o objetivo de refletir sobre a essência dos princípios, valores e problemas fundamentais da moral, tais como a finalidade e o sentido da vida humana, a natureza do bem e do mal, os fundamentos da obrigação e do dever, tendo como base as normas consideradas universalmente válidas que norteiam o comportamento humano...”.

Alegando inexistência da lei, e tentando fugir das monumentais multas e ressarcimentos a que inexoravelmente serão condenadas, as big techs, que deitaram e rolaram com nossos dados, e com os direitos autorais de produtores de conteúdo, dentre outros crimes, defendem-se hoje em centenas de processos e tribunais.

Da mesma forma com que eventos pontuais e específicos, organizações procuram tirar seus orifícios fecais de desconfortáveis seringas, alegando que “não se julgam e muito menos consideram-se responsáveis”.

Na semana passada, um casal de turistas da cidade de São Paulo, em férias, surpreendeu-se com uma microcâmera numa falsa tomada de um quarto alugado no condomínio Oka Beach Residence, na cidade de Porto de Galinhas, Pernambuco. Realizadas através do site líder global em reservas, Booking, que imediatamente suspendeu a propriedade da plataforma.

Por sua vez, o condomínio disse não ser responsável, uma vez que as transações e reservas são realizadas diretamente entre inquilinos e proprietários. E outros eventuais suspeitos ou envolvidos silenciaram...

É esse o mundo em que vivemos hoje. Onde, e em decorrência do tsunami tecnológico, faz com que milhões de negócios considerem-se irresponsáveis no que fazem, mesmo porque, como ainda não existe lei, não podem ser cobrados...

Em tempo, segundo nos ensinou Oscar Wilde, a ética tem uma espécie de 2ª Instância, exclusividade de pessoas dignas, que se chama caráter.

Segundo Wilde, “Chamamos de ética o conjunto de atos que as pessoas adotam quando todos estão olhando. O conjunto de atos que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de caráter...”.

Ou ainda, como nos ensinou Blaise Pascal. “A consciência continua sendo o melhor livro sobre moral, e o que menos é consultado...”.

É isso, amigos, em tempos de disrupção monumental e compulsiva, a última manifestação formal decorrente, sempre serão leis e regulamentos. E aí, enquanto leis e regulamentos não existem, o que conta mesmo é nossa consciência individual.

E que, segundo Scott Fitzgerald, referindo-se a seu personagem antológico, The Great Gatsby, “Um senso de dignidade fundamental é concedido desigualmente às pessoas ao nascer...”.

Se você tem, e mais que acredito que você tenha, siga sua consciência, sempre, independentemente da existência ou não de leis e regulamentos.

Se assim continuar, “caosaremos”. Morreremos, todos, no caos...

Francisco Alberto  Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br