Quando fui convidada para escrever essa coluna Inspiração, a minha mente deu várias voltas em histórias que pudessem ser engraçadas, inéditas ou mirabolantes. O que será que me inspira? Tem de ser algo que as pessoas achem superdiferente, que chame a atenção!

Sentando para escrever, percebi que não tinha outro jeito. Eu sei o que me inspira, eu sei o meu propósito e é isso que quero compartilhar.

Aos 24 anos, trabalhando em agência de publicidade, no que eu acreditava ser o momento perfeito para meu crescimento profissional e pessoal, meu corpo “travou”.

Eu me lembro como se fosse ontem. Estava prestes a viajar para cobrir um evento no Rio de Janeiro e tive uma dor na cabeça que parecia a morte, liguei para minha mãe pensando que estava tendo um AVC.

Depois daquele dia, foram 2 anos até ter o meu diagnóstico. Eu sentia dor, especificamente na cabeça, todos os dias, sem trégua.

Foram três longas internações, muitos remédios, incontáveis idas a neurologistas, igrejas, centros espíritas, psiquiatras, psicólogos e tudo o que vocês podem imaginar.

A busca incessante por um diagnóstico e tratamento.

Eu tive de parar de trabalhar e achava que nunca mais conseguiria me realocar no
mercado de trabalho, achei que todos me veriam como “café com leite” (inclusive eu mesma).

Nesses 2 anos, os mais difíceis da minha vida, eu só me perguntava: “por que isso está acontecendo comigo?” e “ por que comigo? “. Eu não conseguia levantar da cama de tanta dor que sentia, chorava todos os dias, ficava no quarto escuro, não queria levantar, não queria comer e não queria ver ninguém. Meus pais e família estavam desesperados.

Nas idas aos hospitais, via as pessoas vivendo normalmente, trabalhando, sorrindo e eu sentia muita vontade de viver novamente como elas. Achava que nunca mais conseguiria.

Muitas pessoas não entendiam o que eu estava passando, pensavam que eu estava doidinha (muitos dos médicos também achavam).

Depois de muita persistência, com o amor e o apoio que recebi dos meus pais e da minha família, fui diagnosticada com uma doença rara: disautonomia do sistema nervoso. Doença totalmente tratável, controlada com medicação, fisioterapia e paciência.

Aos poucos, durante o tratamento, enquanto não podia voltar para agência (pois tinha crises e não conseguia ficar muito tempo em pé), comecei a trabalhar como freelancer para pequenos e médios negócios da região em que eu morava.
Nesse cenário, o meu médico, um dos melhores neurologistas do Brasil, me chamou para cuidar do marketing dele.

Atualmente, 60% do meu trabalho é atender médicos e compartilhar informações de qualidade sobre saúde, doenças raras e outras condições.

O meu “por que comigo?” virou “para que comigo?” É esse o propósito. Hoje eu entendo. Todos os dias quando acordo percebo que tudo acontece da forma que deve ser.

Eu tenho tesão em viver. Eu tenho vontade de levantar e de criar. Muitas vezes, choro enquanto tomo banho só de pensar que consigo levantar e fazer isso sozinha.

Eu agradeço.

Não trabalho mais no automático e não vivo mais no automático. Tenho presença.

Algo diferente me preenche: a vontade de viver. A vontade de ajudar outras pessoas.

De evitar novos sofrimentos. De levar luz por onde eu estiver.

Talvez eu precisasse da sombra para enxergar a luz.

Um dos piores momentos da minha vida me inspira todos os dias. Ele me inspira a ser uma pessoa melhor para a minha família, para meus amigos, clientes, parceiros, colaboradores e, principalmente, para mim mesma.

Paloma Quintela é head de planejamento e conteúdo, cocriadora da Pontelo Digital