Ponto interessante do período do confinamento é que todos foram atingidos, de uma maneira ou outra. Praticamente todas as categorias se viram diante do imprevisível, do desconhecido, do inesperadamente novo. Sem ter como recorrer a manuais, benchmarks ou qualquer outra ferramenta histórica.

A humanidade foi capturada em algo semelhante durante a gripe espanhola no início do século passado; mas ainda assim, muito longe do que foi – e está sendo – a covid-19. Lá, como agora, não havia remédio ou vacina, ricos e pobres passavam pelo mesmo problema, países de todo o mundo se defrontaram com a pandemia, economias sofreram agudamente.

Sem saída aparente, sem solução conhecida, sem a chance de incorporar conhecimento para resolver o problema, o jeito foi inventar, criar possibilidades. Porque até mesmo onde havia excesso de demanda, novos procedimentos e processos tiveram de ser implementados. Em tempo recorde.

Nesse momento, como um acordo não intencional, percebeu-se que o jogo era outro. Que a separação entre agências e clientes havia mudado, que os prazos haviam mudado, que as entregas exigiam outra dinâmica, outro propósito, outras práticas.

O processo de integração de equipes e os trabalhos colaborativos, que vinham se intensificando nos últimos tempos, deixaram de ser uma opção desejável para se tornarem o modus operandi mais presente e eficiente para garantir a dinâmica exigida pelo novo momento. Ou pensávamos juntos, ou seríamos penalizados pela inércia. E a inércia nessa situação não era aceitável.

Uma boa ideia voltou a ser aprovada com duas ligações telefônicas, sem necessariamente uma extensa defesa. O problema, de fundo universal e espraiado por todos os contextos, tornou o desafio comum a todos. A agência estava entendendo e participando ainda mais do problema do cliente em suas diversas dimensões.

No cotidiano, até os contratempos com a tecnologia, as conference calls que falhavam, os sinais que caíam, ou os barulhos ao fundo, eram relevados. Reciprocidade também na generosidade do entendimento do outro e suas dificuldades, que eram de todos.

Esse ensaio, meio atabalhoado, meio improvisado em alguns momentos, mas com propósitos fortes, reais, deixou, com certeza, aprendizados e possibilidades.

Caberá a todas as partes repactuar essa relação quando o ritmo for outro, quando as limitações forem outras, quando aparentemente estivermos de novo na normalidade. Mais espaço comum para construções colaborativas, com o mesmo sentido de propósito de agora. Mais atores a um só tempo.

Juntos.

Esse é o mantra que o confinamento social nos entregou.

Vamos usá-lo.

Esse artigo faz parte da série “Sabemos que vamos mudar, mas como isso vai acontecer na prática?”, que traz reflexões, aprendizados e transformações trazidas por esse momento inédito da pandemia. O conteúdo é assinado por Marco Antonio Vieira Souto, Head de Estratégia do Grupo Artplan.