O bloco de mármore vindo de Carrara com mais de quatro metros estava lá exposto no atelier à vista de todos os florentinos que passavam por ele e nem o notavam, pois era apenas uma pedra recortada de uma montanha. Apenas Michelangelo olhava para o bloco e enxergava ali, incrustradas, as formas de David. Bastava então, para o artista, retirar o excesso de mármore até a visão que ele tinha ser possível a todos. Isso é arte, energia e foco.
Em comunicação comercial, sem visão e talento, um bloco de mármore é e sempre será apenas um bloco de mármore. Os excessos de nosso bloco, no dia a dia de trabalho, são as distrações que levam nossa energia, atrapalham o nosso foco, impedem muitas vezes de imaginarem e terem a visão da obra acabada. E o que mais existe hoje são distrações que nos impedem de ver o que interessa.
Os 5 tipos mais comuns de distração:
Concentrar-se apenas em resultados de um lado da balança, sabendo que a balança deveria se equilibrar entre resultado financeiro e resultado de marca. Na época de fartura, quem descuida de marca não faz poupança para a época de alta demanda, quando a marca ajuda a preservar as margens nas vendas difíceis. É como uma passada: prestígio, grana; grana, prestígio.
Falta de filtro com as tendências. A cada temporada aparece uma tendência tecnológica de comunicação que promete mudar tudo. Vieram os Arquivos Não Fungíveis, que até estão por aí, mas já não tanto. Chat bots, TV conectada, coisas conectadas, realidade aumentada, livestreaming, reconhecimento facial, 5G, blockchain, internet das coisas. O metaverso na versão Meta ensaiou e ensaiou, mas todos esperam mesmo o VR da Apple. Se bem que a vida dentro de uma tela de zoom nos cansou um pouco na pandemia. Aliás, as ações da Zoom e da grande maioria de empresas de tecnologia variam em viés de baixa que já dura quase um ano. A inteligência artificial (AI) vem cada vez mais potente, e vai depois de um tempo. Daí a gente entende que, da próxima vez, pode melhorar ainda mais. E vai. O meu ponto é que, se uma marca correr atrás de acompanhar toda inovação, não vai ter fôlego para um dia estar à frente de seu setor. Consistência e foco, foco e consistência é melhor do que uma paixão de verão e desconexão com o plano estratégico. Faltou falar da ascenção do Koo, no vacilo do Twitter, que fica para outra ocasião.
Querer que a marca ou a empresa esteja em todos os lugares ao mesmo tempo. Falar sobre tudo o tempo todo. Entrar em quase todas as conversas quentes disponíveis. A música é feita de notas e pausas. Silêncio também conta no diálogo e pode dizer muito você ter um tom de voz comedido. Ou em vez de gritar por atenção ser a pessoa interessante na festa, para onde todos olham.
Vivemos em bolhas. Todas as bolhas são veículos. Todos esses veículos possuem uma tabela de mídia. Só a criatividade eficaz e a aprovação de uma ideia original por um cliente corajoso pode subverter essa lógica e furar todas essas bolhas. O efeito viral é mesmo fenômeno, não regra.
Cuidado com os dados. Sob tortura eles podem confessar qualquer coisa. O contexto é tudo na medição de resultados. É muito comum atribuir sucessos a índices completamente irrelevantes e endereçar fracassos baseado em premissas erradas. Mais uma vez, escolher o interlocutor certo e trabalhar junto com profissionais que possuem resultado comprovado e consistência é
a melhor maneira de obter resultados verdadeiros.
Cuidado com as distrações, pois são elas que nos impedem de imaginar, focar e colocar energia e talentos suficientes para tirar David do bloco de mármore.
Flávio Waiteman é CCO/Founder da Tech and Soul flavio.waiteman@techandsoul.com.br
