O conceito de VUCA — que descreve volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade do mundo atual — tornou-se ainda mais relevante com os desdobramentos políticos e econômicos recentes. Com a posse de Trump e sua postura conservadora e negacionista em relação às questões climáticas e sociais, o mundo parece estar entrando em um novo ciclo de instabilidade.
Nesse cenário, é crucial entender como as empresas, especialmente nos EUA, e em outras partes do mundo, estão respondendo aos desafios impostos pelo contexto VUCA e o impacto disso nos princípios ESG (ambiental, social e governança).
Enquanto os Estados Unidos podem retroceder em termos de ESG sob uma nova liderança de Trump, o resto do mundo tem mostrado sinais de resistência a essa tendência. A União Europeia, por exemplo, permanece firme em suas metas de neutralidade de carbono e em sua regulação de mercados financeiros com critérios ESG.
Mercados emergentes também começam a incorporar ESG como parte de suas estratégias de crescimento a longo prazo, impulsionados por investimentos estrangeiros e pela necessidade de mitigar riscos climáticos. China e Índia, apesar de desafios internos, também estão buscando um papel de liderança global em sustentabilidade, com investimentos crescentes em energia renovável e tecnologias verdes, fazendo da economia verde um vasto campo de geração de novos negócios.
Que o digam os novos players de energia alternativa, com um crescimento constante de fontes alternativas, como eólica e solar, gerando demandas por novos equipamentos e inovação. Essas iniciativas podem criar um contrapeso à possível desmobilização americana.
No contexto VUCA, o ESG torna-se um guia essencial para empresas que desejam navegar pela incerteza. A volatilidade de políticas públicas e mercados exige resiliência e capacidade de adaptação, enquanto a incerteza reforça a necessidade de transparência e boa governança.
A complexidade do sistema global — incluindo cadeias de suprimentos internacionais e demandas de stakeholders — torna o foco social e ambiental um diferencial competitivo.
Finalmente, a ambiguidade de direções futuras exige que as organizações adotem princípios que transcendem as políticas locais. Como as empresas devem se posicionar? Com pragmatismo e visão de longo prazo, conseguimos vislumbrar quatro pontos focais para as empresas neste momento:
1- Resiliência Estratégica: Empresas devem preparar-se para operar em diferentes cenários regulatórios e manter o foco em longo prazo, evitando retrocessos em suas políticas de sustentabilidade.
2- Diálogo Global: Alinhar-se com práticas internacionais para manter a competitividade em mercados estrangeiros, mesmo que as políticas locais sejam desfavoráveis. Abrir-se para outros mercados alternativos.
3- Educação e Informação: Engajar consumidores e investidores, mostrando os benefícios financeiros e reputacionais do ESG.
4- Inovação Sustentável: Apostar em tecnologias e soluções que promovam a transição para uma economia mais verde e inclusiva.
Embora o governo Trump possa representar um obstáculo à agenda ESG nos Estados Unidos, as pressões globais e os princípios de mercado continuarão a impulsionar empresas em direção à responsabilidade social e ambiental.
Não se deve subestimar a maturidade internacional em torno de políticas alinhas com o capitalismo consciente: isso transcende um governo ou um país, por mais poderoso que seja.
No mundo VUCA, ESG é não apenas uma escolha ética, mas também uma estratégia de sobrevivência e crescimento.
O nosso Brasil tem aí a oportunidade de se fixar como um líder da economia verde, atraindo novos parceiros e diminuindo a dependência do maior país do mundo, sem deixar de lado o seu grande peso como fornecedor de commodities.
Com serenidade e pragmatismo, superaremos essa fase incômoda e incerta.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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