Para mim, 2023 é um ano de muitas expectativas e esperanças depositadas! O dia 1º de janeiro foi histórico para o Brasil! Depois de quatro anos tenebrosos, ver Brasília tomada pelo povo e ver uma mulher negra entregando a faixa para o novo presidente é muito representativo.

Vai além da entrega de uma faixa, mas é a demonstração da importância da diversidade e da pluralidade dentro do atual governo e para o país. Na África, foi criado pelos povos akan (então habitantes das atuais regiões da Costa do Marfim e Gana) os Adinkra, que são um conjunto de símbolos ideográficos que captam a essência de aspectos da vida.

O mais conhecido deles, Sankofa, que é representado por um pássaro com a cabeça voltada para trás, patas firmes no chão, segurando um ovo com o bico, ou por um coração estilizado. Ele representa um antigo provérbio: “nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás”, ou, ainda, segundo Abdias do Nascimento, “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”.

E, tem muito a ver com momento que estamos vivendo, agora, e com a busca do progresso, transformações nas estruturas da sociedade e o crescimento em todos os aspectos. Para qualquer pessoa ou país é importante seguir, mas não podemos esquecer o passado, os erros e os acertos, os aprendizados.

O que me inspira a seguir é reconhecer a luta dos meus ancestrais, para que eu estivesse aqui hoje. É ver pessoas que há anos lutam pelos direitos humanos, pela inclusão e diversidade em todas as esferas de poder, como Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial; Margareth Menezes, como ministra da Cultura; Silvio Almeida, no Ministério dos Direitos Humanos, estão entre os dez ministros que se autodeclaram negros.

Saindo da seara política, ver Helena Bertho eleita a Profissional de Inovação do Ano e nomes como Ricardo Silvestre, 26, e o cantor Djonga, 28, na lista Under 30 da Forbes Brasil. Isso é muito importante para mim, mulher negra, periférica, mãe de três filhos e, com certeza, para milhares de jovens, crianças e para os que estão nessa luta há décadas, com a certeza que nada foi em vão.

Foram tantos nãos, tantas barreiras derrubadas e várias que ainda precisam ser transpassadas. É importante seguir, mas não deixar de passar as lições e aprendizados. O Brasil esconde sua história há séculos e não podemos mais seguir sem entender esse passado. Será necessário ensinar as crianças de várias gerações para que cresçam e consigam ser livres de pensamento e opinião de fato. Para que escolham e identifiquem as suas reais potencialidades, que não se permitam aceitar como verdade aquilo que massantemente está sendo dito, para que valorizem o ser e não o ter.

A frase “Entre a esquerda e a direita, continuo preta”, da filósofa  Sueli Carneiro, uma das maiores intelectuais do Brasil e referência histórica do movimento negro, traduz o meu sentimento. É fundamental e necessário comemorar cada conquista e se sentir representado, mas ainda existe um logo caminho a ser percorrido.

A metamorfose que estamos vivendo, com certeza, me inspira a continuar a trabalhar para ajudar a construir um país mais justo e democrático. Eu quero ver mais indígenas, LGBT+ e negros em cargos de poder. Eu quero ver mais negros nos comerciais de TV, em papéis de protagonismo nas novelas, quero presidentes de empresas negros. Eu quero um “Obama”, na Presidência do Brasil e isso não é um sonho! É o próximo passo!

Silvana Inacio é diretora da Si Comunicação e apresentadora do podcast ‘Santa Melanina’