No final de 2021, o mercado do vinho foi à loucura.
O motivo? O sucesso do lançamento do Vinho Oreo, um vinho tinto com aromas de chocolate e cookies&cream, que esgotou em menos de 24h.
O produto foi desenvolvido pelas marcas Barefoot e Oreo com o objetivo de ser o “par perfeito” da Oreo Thins, em uma releitura (adulta e inusitada) da tradicional harmonização de cookies com leite: cookies com vinho.
Dentro desse conceito, o lançamento do Vinho Oreo se deu através da venda de um kit contendo duas garrafas do vinho e um pacote de Oreo Thins. Esses kits poderiam ser adquiridos pelo site oficial do produto por USD24,99 (aproximadamente R$135 reais, sem impostos).
O sucesso foi imediato e o estoque esgotou em menos de 24h. Até o momento, não há previsão para venda de novos kits.
Aqueles que conseguiram adquirir o vinho Oreo encontraram na garrafa um blend das uvas Malbec, Petite Sirah e Teroldego, adicionado de sabores de chocolate e cookies&cream. No rótulo, o produto é descrito como sendo um “vinho de uvas com sabores naturais”.
Muito embora a adição de sabores em bebidas alcóolicas não seja nenhuma novidade, no mercado no vinho, essa prática não é tão difundida e sua utilização divide a opinião de especialistas.
Aqueles que são avessos à adição de aromas e sabores nos vinhos justificam sua opinião, especialmente, com base na tradição milenar da bebida e na ideia de que os vinhos devem ser uma expressão do local em que as uvas são cultivadas. Mesmo que sejam argumentos válidos, ainda assim, eles parecem desconsiderar completamente as forças de mercado.
O que mais poderia significar o sucesso do Vinho Oreo (esgotado em menos de 24h) que não a busca dos consumidores por vinhos diferentes, produtos inovadores e harmonizações inesperadas?
Inclusive, outros produtos de igual tradição milenar também se transformaram para atender a demanda por produtos inovadores, como é o caso da cerveja, cuja história remonta 6 mil anos atrás. Contudo, as cervejas “diferentonas”, como a brasileira Skol Beats, não causaram o mesmo espanto que os vinhos aromatizados.
Além disso, míopes são aqueles que pretendem repudiar a adição de aromas nos vinhos sob a justificativa de que os vinhos devem ser uma expressão do local em que as uvas são cultivadas. Isso porque a maioria dos vinhos tradicionais (não aromatizados) são vinhos produzidos em larga escala. Ou seja, não exprimem o local de cultivo das uvas, porque costumam ser feitos com uvas (ou mosto) de diversos lugares diferentes. Isso sem mencionar o imenso número de aditivos enológicos que podem ser usados para manipular vinhos (tradicionais ou não), por exemplo, adição de taninos, ácido tartárico e até mesmo cor, por meio do aditivo chamado MegaPurple.
Enfim, independentemente de opiniões pessoais e filosóficas sobre vinhos aromatizados, fato é que o mercado de vinhos está dando sinais de que está se reinventando e se reorganizando para atender diferentes demandas e nichos consumidores.
E, ao contrário do que muitos podem acreditar, isso não necessariamente significa o “fim da tradição”. Tudo indica que os vinhos tradicionais co-existirão com os vinhos aromatizados, trazendo benefícios para o consumidor (que terá um leque maior de opções para escolher) e para a indústria (que atrairá novos consumidores e novos investimentos). Segurem suas taças que muitas novidades ainda virão.
Andreia Berthault criou a plataforma digital Red Submarine, onde orienta e educa sobre vinhos