Sem dúvida, estamos vivendo um momento de muita transformação e, quando me perguntam qual o desafio na publicidade atual, eu respondo que o grande desafio é saber como vai ficar o processo da comunicação com as novas configurações do digital. A pandemia acelerou um movimento que já vinha acontecendo e temos na nossa frente um grande estímulo para buscar novas oportunidades, para pensar o novo e fazer comunicação com qualidade, conectada com as novas formas de contato com o público.

Se antes vivíamos uma situação “relativamente” cômoda, onde tínhamos os canais específicos para os anúncios e contávamos com as audiências dos veículos, para que a nossa mensagem chegasse ao nosso público nos intervalos comerciais, no digital não. Não temos mais um só gerador de audiência, temos milhares! E somos nós, agências e clientes, que vamos gerar a nossa audiência. Nesta nova configuração, fica evidente, cada vez mais, a importância dos produtores de conteúdo, muito mais do que era no passado. Agora, quando vamos nos comunicar com um nicho de consumidores, eles só vão acessar seu material e seu produto se a comunicação for relevante para o interesse dele.

A comunicação se torna mais abrangente e focada em nichos para o consumo de mídia e fica mais evidente que, para que ela seja efetiva, é cada vez mais relevante o processo criativo, o trabalho feito com competência, a importância do planejamento estratégico, do planejamento de comunicação, reforçando valores que você sempre teve, mas com novos processos para que se alcance os mesmos objetivos. Temos um cenário diferente, com fortalecimento de setores como o e-commerce e o rompimento das fronteiras geográficas, então, o que vejo como grande transformação é como vamos romper essas barreiras.

Além da questão do mercado, internamente vivemos muitas mudanças. Por exemplo, minha agência atende o setor público e o de saúde, que não parou durante a pandemia. Tivemos de nos adaptar ao home office rapidamente, sem parar o atendimento. E hoje, vemos que em vários setores conseguimos ter uma produtividade maior do que tínhamos no formato convencional com pessoas trabalhando com a rotina que encaixa melhor no seu dia a dia.

Ficamos em Feira de Santana, no interior da Bahia. Aqui temos excelentes profissionais, mas antes, para trazer alguém de fora, era preciso oferecer uma estrutura para o profissional viver na cidade e ter de contar com a sua adaptação ou não. Agora, podemos trabalhar com profissionais do Brasil inteiro. As adaptações são muitas e precisamos de foco no caminho que vamos trilhar. As agências não podem pensar só em resolver os problemas de comunicação, mas também têm de lidar com as questões estratégicas do cliente. O grande diferencial da publicidade atual é participar com a empresa de um diagnóstico profundo do mercado onde ela está inserida, do seu produto, para onde ela está indo e saber como se situar nesse contexto.

Precisamos ter em mente sempre que, ao mesmo tempo que temos novos desafios, abrimos também um mar de oportunidades. A diferença está na forma como vamos encarar o problema e a rapidez de adequação aos processos. Podemos ser a empresa tradicional que vai se fechar em si mesma e tentar repetir os processos que vinham acontecendo ou podemos ser quem vai mergulhar e desbravar esse mar de novas possibilidades.

André Mascarenhas é vice-presidente do Sinapro-Bahia, fundador e CEO da Artecapital Propaganda - andre.mascarenhas@artecapital.com.br