De repente, os “velhinhos” com mais de 60 anos foram expostos como o grande problema de saúde mundial.

A pandemia do novo coronavírus trouxe uma visão preocupante quanto à propensão dessa faixa etária em ter um maior agravamento da sua saúde quando acometidos pela Covid-19. “Cuidemos dos velhinhos!” passou a ser a recomendação uníssona em todo o mundo.

E aí fomos assolados com posts tragicômicos de velhinhos tentando “escapar” de filhos para dar uma saidinha de casa. Idosos ridicularizados. Pois bem, com o tempo, todos foram entendendo melhor o comportamento dessa pandemia e, de fato, há uma mortalidade maior nessa faixa etária e naqueles já fragilizados por outras doenças.

Mas, afinal, não é natural que seja
assim? Se analisarmos as complicações decorrentes da simples gripe influenza, com a qual já estamos acostumados a lidar, não perceberemos o mesmo comportamento?

É natural que os mais jovens e os sem doenças preexistentes sejam mais resistentes, não? Levanto esse ponto porque o estigma do velhinho frágil, sujeito ao excesso de cuidados, conflita com a constatação – antes da pandemia – de que as pessoas com mais de 60 anos mereciam a atenção por outros motivos, bem mais nobres.

O que se constatava é que essa faixa etária, que é a que mais cresce no mundo, deve ser vista como um grupo alvo de respeito, com potencial de consumo superior aos mais jovens. Para ilustrar, trago de volta um estudo sobre o qual escrevi no ano passado, falando da tal Silver Age.

Trata-se da pesquisa Tsunami60+, feita pela Hype60+ em 2019, envolvendo quase 2.500 pessoas acima dos 60 anos no Brasil, cujos dados conflitam frontalmente com a visão frágil dos mais velhos que a pandemia trouxe.

Só para ter uma noção da representatividade desse público, segundo a ONU, em 2017, o mundo tinha 962 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 2050, esse número passará para 2,1 bi – o equivalente a 25% da população mundial. No Brasil, hoje temos 30,3 milhões de idosos e seremos 68,1 mi em 2050. Com a queda da taxa de natalidade no Brasil, prevê-se que o nosso país, em 2050, estará entre os 10 mais “velhos” do mundo, à frente dos mais desenvolvidos.

Em 2016, a expectativa de vida no Brasil já era de 76 anos. E onde estavam esses maduros com mais de 60 anos, antes da pandemia? Fazendo tricô ou arrastando chinelos pela casa? Nada disso! Era mais fácil achar uma avó numa academia do que tomando chá com bolinhos em casa.

A maioria dos pesquisados declarava estar bem de saúde física e mental. Muitos trabalhando. Mais de 63% deles ainda são os provedores da família. São bem ativos no dia a dia. Passeiam, namoram e transam (numa frequência menor, mas com qualidade). Vemos vovós passeando em shoppings com suas netas, usando roupas compradas na mesma loja.

A internet não é mistério para sessentões de todas as classes sociais. Muitos estão superativos no Facebook e WhatsApp, entre outras plataformas, até games.

A tal Economia Prateada é considerada a terceira maior atividade econômica do mundo, uma indústria que movimenta US$ 7,1 tri anuais. Nos EUA, esse segmento já representa mais de 25% do consumo. No Brasil, o consumidor maduro movimenta cerca de R$ 1,6 tri/ano.

De acordo com a Goldman Sachs, quando comparado com os mais jovens, o consumo dos maduros cresceu 3 vezes mais rápido na última década. Enquanto isso, 63% dos negócios têm como target os millennials. Minha intenção em trazer esse tema de volta é para criar uma contraposição a esse retrocesso da imagem daqueles com mais de 60 anos.

Se você acha que esses “velhinhos” estereotipados agora como frágeis são um problema, pense duas vezes. A pandemia vai passar e eles voltarão às suas atividades de sempre, esbanjando disposição, fazendo a economia girar mais depressa. Cuidado com a sua percepção equivocada de agora. Velhinho frágil uma ova!

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) alexis@ampro.com.br