A cada dois ou três anos nos estarrecemos com a relação mais que promíscua que existe entre algumas empresas, alguns juízes e alguns territórios deletérios, tóxicos e pornográficos da Justiça brasileira. E, de novo, constata-se que nada mudou. Não obstante todos os escândalos mais que escancarados nos últimos 10 anos, parece que as empresas e um determinado tipo de magistrado acreditam que nada vai acontecer com eles, porque sempre foi assim aqui no Brasil e assim seguirá sendo.

Muitos dos juízes que hoje integram o Supremo foram patrocinados em eventos
de toda a sorte por algumas das grandes e corruptoras empresas. Que encontram nesses juízes corruptos – corruptos sim, na medida em que aceitam trocos – o caminho mais rápido, econômico e eficaz, para conseguirem decisões que contemplem seus interesses. Desgraçadamente, a corrupção culposa ou dolosa ainda segue sendo a característica preponderante em parcela expressiva da Justiça do Brasil. Inclusive, e talvez principalmente, nas decisões das instâncias superiores...

Acordamos no domingo, 5 de março, com a seguinte manchete no Estadão, em matéria assinada por Luiz Vassallo: Empresas com causas que somam R$ 158 bi pagam eventos a juízes... Vergonha!!! Cadeia neles. Corruptores e corruptos. Diz, Luiz Vassallo: “O Estadão levantou 30 grandes processos que têm patrocinadores com partes nos autos ou interessados nos julgamentos. Empresas e entidades com interesses em causas que tramitam na Justiça e envolvem, pelo menos, R$ 158,4 bilhões em multas, indenizações e dívidas, e patrocinam seminários e fóruns no Brasil e no exterior. Eventos com shows de artistas renomados, jantar em cassinos, baladas, e passeios de lanchas...”. Os poucos magistrados que atenderam a Vassallo ponderaram tratar-se de “atividades acadêmicas...”. É isso, amigos. Não existe justiça no Brasil! Ponto. E, se não existe Justiça, não existe segurança jurídica. Dentre as farras, bebedeiras e comilanças, expondo de forma escatológica o desprezo que tem pelos demais brasileiros, membros do Supremo deixaram se patrocinar, por exemplo, pela Febraban – Federação Brasileira de Bancos – em eventos em Portugal e Estados Unidos. Onde estiveram presentes, com todas as despesas pagas e jetons, os seguintes ministros do STF: Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, e o chorão, Gilmar Mendes. O ministro do STF, que se comoveu com o advogado do maior bandido e ladrão da história da política de nosso país. Ou damos um jeito na Justiça, ou a Justiça vai condenar nosso país à miséria total e definitiva.

Adorei meu curso de direito da Universidade de São Paulo, Faculdade do Largo de São Francisco. Tenho asco e não paro de vomitar diante do ponto de degradação que chegou a Justiça em nosso país. Em tempo, segundo o autor da matéria histórica, Luiz Vassallo, apenas dois juízes do Supremo – Rosa Weber e Edson Fachin – recusam-se a comparecer nesses eventos. E todos os procurados, ministros do STF, e STJ, preferiram manter-se calados. O tal do direito de permanecerem em silêncio, diante de tanta escatologia. O odor é insuportável.

No dia 1º de maio de 62 aC, a segunda mulher de Júlio Cesar, Pompeia Sula, jovem bonita, realizou uma festa em seu palácio exclusivamente para mulheres. Apaixonado por Pompeia, Publius Clodius não resistiu e disfarçou-se em tocadora de lira e entrou de forma clandestina na festa. Foi descoberto, maior escândalo, e Júlio Cesar, no dia seguinte, divorciou-se de Pompeia Sula. No final de sua petição de divórcio, termina dizendo, “a mulher de Cesar não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Exatamente o oposto e de como procede parcela expressiva dos magistrados do país.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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