Em um planeta onde a inteligência artificial está mudando a forma de ver o mundo e as relações, tendo o papel de disparar a produtividade nas empresas, prevenindo catástrofes e combatendo até a mudança climática, é fato que o surgimento desta tecnologia nos surpreende a cada dia. Seu imenso poder nos ajuda em processos de forma precisa, certo? Mas, em paralelo e tão surpreendente quanto esta ferramenta superinovadora, está o poder do olhar humano, a sensibilidade de captar o momento exato, a troca, o afeto.

Dirigir uma câmera na mão com um olho na tela e o outro na ação, percorrendo caminhos e sentimentos, nos faz refletir que essa sensação nós não vamos encontrar nestas ferramentas tecnológicas capazes de substituir até algumas profissões. E aí me pergunto: será que algum dia serão capazes? Eu acredito que não e, ao longo da minha carreira como diretora de cena, a bagagem com diversos filmes e clientes, o transitar em mundos bem distintos a cada dia, a troca de experiências com pessoas, a sensibilidade no set de filmagem, a pluralidade, ocorre entre nós humanos e não entre máquinas.

Sempre me inspirei em histórias reais, na diversidade de gente comum, em emoções, em poder usar o meu trabalho para dar voz às minorias. Isso sim é a realização de um sonho, pois é nesse lugar que eu consigo expressar a minha visão de mundo, trazendo o sentir em cada situação, em cada respiração e em cada ação. Hoje, o verdadeiro propósito dos meus trabalhos é transmitir e acreditar que sempre terá alguém que vai se identificar com aquela mensagem e aquilo pode ser transformador! E por que não? E se você perguntar qual o meu objetivo através da comunicação, te digo que é tocar o coração das pessoas, fazer a diferença, pois só assim sinto que valeu a pena todos os perrengues que passei fora do país em busca da realização de um sonho de cursar cinema na SVA de Nova York, sendo a única estrangeira da turma.

Ainda vivemos em uma sociedade que mostra que de um lado há forte apoio às minorias e o respeito à diversidade, mas de outro um conservadorismo persistente. E eu me pergunto: em um mundo múltiplo e diverso, qual o papel das marcas e como devem se posicionar? Recentemente, realizei um projeto chamado Vozes da Diversidade, para a Disney, onde pude dirigir pessoas reais, dividindo suas dores, inspirações e superações dentro do universo dos filmes e personagens que os inspiraram. Aliás, estudar cada um desses filmes para poder criar esse universo onde fizesse com que o elenco se sentisse pertencente foi um dos maiores desafios da minha carreira, mas posso dizer que o resultado valeu a pena!

A Uber também realizou uma campanha sobre o assédio e eu tive o privilégio de assinar a direção e fazer parte deste projeto. Educar e mostrar para as pessoas que
o assédio não está somente nas abordagens mais agressivas, mas também na sutileza das palavras, como por exemplo, “Você deve ser casada por estar indo cedo para casa”, é mais do que comunicar, é prestar um serviço de utilidade pública, é desconstruir algo ainda tão velado para muitas delas! Também não poderia deixar de mencionar como foi transformar um briefing sem mostrar o rosto do elenco. O Pão de Açúcar Natal realizou uma campanha surpreendente, onde o elenco iria fazer uma receita da avó. Posso dizer que foi bem desafiador transmitir emoção do neto em relação ao caderno de receitas, pois tive de trazer a sutileza com os movimentos de câmera, movimento das mãos do ator, corte e trilha, e o resultado trouxe o quentinho no coração que o cliente tanto buscava!

Sempre me imaginei em cenas de filmes e sempre soube que os produzir seria o caminho que eu gostaria de traçar. E como já dizia Thomas Carlyle, escritor escocês, “Um homem sem propósito é como um navio sem leme”.

Nicole Pelosi é diretora de cena da Produtora Associados