Não há dúvidas de que estamos na era da energia. Em todos os sentidos do termo: seja energia humana, para fazer frente à overdose de demandas do dia a dia, mas também a energia, em si, aquela que faz girar a economia, cada vez mais sua dependente.

Eu me refiro à energia que roda motores, que ilumina e alimenta o mundo da inovação. Não à toa, energia termina com IA.

A IA, cada vez onipresente, é uma atividade eletrointensiva, isto é, depende de muita energia.

Energia para fazer seus computadores processarem TBs e mais TBs de dados, para resfriar todas essas máquinas de funcionamento contínuo, 24 horas ao dia, 7 dias por semana.

O negócio da IA mobiliza o mundo inteiro: nos EUA anuncia-se um empreendimento de US$ 500 bilhões. Já nos EAU (Emirados Árabes Unidos), o seu sheik trilionário não esconde o desejo de ser um líder desse mercado emergente, com investimentos bilionários.

De repente, surge uma tal de Deep Seek e bagunça tudo, mostrando caminhos alternativos, bem mais simples e baratos.

O fato é que, por trás da IA, existe um mundo de oportunidades, seja no campo de processamento e provimento de soluções, seja no campo de hardware e infraestrutura, com a demanda por datacenters enormes.

E no meio disso tudo está a energia. O mundo já estava sedento de energia para tocar seus processos de produção e a IA catapulta essa demanda para outro patamar.

E como o Brasil se posiciona nessa história toda? Competir com os players do peso que se apresentam é utopia, mas inserir-se como um viabilizador de energia é oportunidade de ouro para nosso país abocanhar sua fatia desse mercado de trilhões.

O Brasil deve sair da era do Yes! Nós temos banana!, das commodities, para Yes! Nós temos energia!. Energia pra dar e vender! Sei que sou repetitivo (quem é leitor desta coluna já deve estar cansado de me ver enfatizar a força da energia brasileira), mas é o que temos de mais promissor pra oferecer para o mundo neste momento de proliferação da IA.

O Brasil tem uma matriz energética única: mais de 90% da eletricidade brasileira é advinda de fontes alternativas. E essas fontes só crescem na matriz energética.

A solar deu mais um grande salto em 2024 e se firmou como 2ª fonte na matriz energética brasileira, superando 20%, perdendo apenas para a hídrica (45%).

A eólica continua crescente ao sabor dos ventos constantes e deve crescer ainda mais com o marco regulatório de energia eólica offshore.

E temos ainda a biomassa (etanol, biodiesel, biometano) e o emergente hidrogênio verde, com um potencial enorme no futuro. Essa demanda mundial crescente por energia limpa (apesar do “Drill, baby, drill!” do Trump), pode fazer o Brasil ser o maior provedor do mundo em 2050, uma verdadeira Arabia Saudita da energia limpa.

É só ter foco e políticas que privilegiem a produção dessa energia verde. No fim deste ano, sediaremos, em Belém, PA, a COP 30.

Apesar da provável ausência (ou participação diminuída) dos EUA, será o momento ideal para apresentarmos ao mundo a capacidade, não só de proteger nossas florestas e biodiversidade, mas também de gerar e distribuir energia verde para suportar a demanda mundial e fazer frente às mudanças climáticas.

Podemos contrapor o “Drill, baby, drill” com um “Produza, que a gente garante energia limpa!”.

Devemos resistir à tentação da exploração do petróleo, que ainda existe debaixo do nosso solo, e focar na geração de energia limpa, que é a nossa vocação.

Outros países estão investindo bilhões para buscar uma matriz energética mais limpa, mas nós já demos a largada nessa corrida há tempos, com as hidrelétricas e o etanol, a princípio, e agora com solar, eólica, biomassa, SAF e hidrogênio verde.

Ninguém conseguirá nos alcançar tão cedo, nem em décadas! Produza, baby! Produza! E deixe a energia por nossa conta!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br