Você já reparou que os dois maiores eventos mundiais da espécie humana – sem contar conflitos entre países – estão relacionados ao esporte? Os Jogos Olímpicos, que pudemos acompanhar recentemente, mesmo durante uma pandemia, e a Copa do Mundo de futebol têm a capacidade de parar o planeta, alteram nossa rotina, estimulam a migração de milhares de pessoas de um ponto a outro do globo. Mas o que é que está por trás deles que atrai tanto as pessoas? E o que isso tem a ver com dados?
Na minha opinião, o esporte é um espelho da vida. Uma versão comprimida da existência, resumida em uma partida, torneio ou temporada. As experiências são muito similares: cair, levantar, sonhar, treinar, persistir, conquistar, perder, chorar. A diferença é que em um, se não vencer, você perde o troféu ou a medalha. No outro, é a própria vida que termina. Logo, no esporte é como se você pudesse nascer de novo. Sempre dá pra tentar mais uma vez, fazer melhor na próxima oportunidade. E talvez seja isso que inspira tanto as pessoas: a capacidade de superação do ser humano. Erguer-se mesmo após uma queda.
Inclusive, um dos momentos Olímpicos mais memoráveis da história não foi uma vitória, mas o exemplo de superação da maratonista suíça Gabrielle Andersen nos Jogos de Los Angeles.
Não por acaso, muitos atletas são comparados a deuses por possuírem uma capacidade sobre-humana de superação. Mas aquilo que é visto nas provas olímpicas, é, na verdade, resultado de uma construção que começa muito antes disso, no dia-a-dia dos atletas, nas pequenas decisões de sua rotina, na constância dos treinos etc. E sabe qual é o principal fator que dá poderes a estes atletas? Acredite, são os números.
“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia”, William Edwards Deming
Os atletas de alta performance são obcecados por números. Eles analisam o tempo todo, estudam seus movimentos, buscam a ciência para extrair o máximo do próprio corpo. E é só através de muita preparação que conseguem seu grande objetivo, que não por acaso, não poderia ser mais numérico: estamos falando do recorde olímpico ou do recorde mundial.
Para ajudar os atletas, a tecnologia veio como uma grande aliada. Com dispositivos que ajudam a medir completamente tudo. Por exemplo, relógios que medem desde o batimento cardíaco até mesmo a aceleração do braço de um tenista. Então, nunca vimos tantas possibilidades de medir e melhorar performance do que nos tempos atuais, ajudando muitos atletas a encontrarem mais facilmente o caminho para bater seus recordes.
E se conhecer os números muda tudo para a preparação dos atletas, muda também na gestão e administração de times. Um dos exemplos mais conhecidos foi retratado em um filme, “O homem que mudou o jogo”, estrelado por Brad Pitt, que conta a trajetória do gerente esportivo Billy Beane e sua luta para quebrar paradigmas na hora de montar uma equipe de beisebol. Antes, um processo cercado de opiniões vazias, com palpites sem nenhum fundamento senão a experiência dos olheiros. Então, esse gerente contrata um estatístico que o ajuda a qualificar e selecionar um novo plantel totalmente com base nos números dos atletas. E o resultado é impressionante, pois a composição matemática e a ajuda do computador conseguiram fazê-lo enxergar coisas que o olho não poderia. Isso deu a ele uma vantagem extremamente competitiva, para montar um time com muito menos investimento que os outros, porém com resultado similar.
Quer mais exemplos? A reportagem publicada pela Forbes, relaciona exemplos de outros times que também utilizaram fortemente os dados para melhorar a performance e fazer escolhas mais acertadas:
Essa tendência, aliás, já migrou também para os esportes eletrônicos, mais conhecidos hoje como e-sports, como bem contou neste artigo a minha grande colega de Just a Little Data, Andrea Cotrim.
Então, da próxima vez que for assistir uma competição esportiva – seja os Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, ou qualquer outro torneio, independentemente da modalidade -, experimente prestar atenção aos números na tela, nas tabelas entre um competidor e outro, nos indicadores de desempenho, nas estatísticas da partida. Procure entender o porquê destes números. Repare como, em cada modalidade, a presença dos números é fundamental para entender não só o esporte, mas também a superação dos atletas.
Olhando para tudo isso, traga esse raciocínio para o seu mundo, a sua realidade. Ainda que você não seja um esportista (ou mesmo se for), pense em como os números traduzem a sua vida, seu trabalho, seus negócios. Da mesma forma que um atleta de alta performance analisa seu desempenho por meio dos dados e trabalha com afinco para melhorar suas chances de vitória, todos somos capazes de fazê-lo, ainda que em outros âmbitos.
É o princípio do trabalho com dados, que como eu tentei demonstrar aqui por meio do esporte, está presente em todas as áreas da nossa vida. Se você tem uma empresa, por exemplo, quais dados do seu negócio você não está olhando como poderia para descobrir o que é preciso melhorar? Transforme as suas metas de trabalho em um “recorde olímpico” que você vai perseguir usando os dados como ferramenta para melhorar a sua performance! E, se precisar de ajuda, já sabe: é só chamar nos comentários.
Fernando Taboada é head de CRM & Performance da Just a Little Data