Sem sombra de dúvidas, nos últimos anos, o e-commerce nacional se tornou um segmento da economia muito importante para medir o nível de confiança e pujança dos consumidores brasileiros. Apesar da grave crise política e econômica enfrentada pelo país, o setor continuou mostrando crescimento em 2016. Dados do último relatório Webshoppers, da E-bit, revela que o faturamento do comércio eletrônico foi de R$ 19,6 bilhões no primeiro semestre do ano. A quantia representa um avanço nominal de 5,2% em relação ao mesmo período de 2015.
Mesmo registrando menor crescimento comparado aos semestres anteriores, o e-commerce conseguiu atingir taxas de avanço muito mais elevadas do que outros setores da economia. E as perspectivas apontam que o ritmo não vai parar de aumentar. O principal motivo é o aumento da penetração dos smartphones junto à população brasileira. Em 2015, o país registrou mais acessos à internet pelos dispositivos móveis do que em computadores tradicionais e notebooks. Pesquisas apontam ainda que 6 em cada 10 espectadores usam o dispositivo móvel ao mesmo tempo em que assistem TV. Além disso, 62% dos proprietários de smartphones tem mais de 25 anos e 47% estão na classe C – camada social que movimenta R$ 495 bilhões em renda própria por ano.
Outro dado interessante, segundo os relatórios de tendências da internet elaborados pela analista Mary Meeker, revela que olhamos nossos celulares mais de 150 vezes por dia e é um dos poucos objetos que, pelo fato de ser muito pessoal, necessita de uma senha. O canal tão íntimo e direto mudou todo o ato de compra e decisão. Atualmente, 86% das pessoas fazem pesquisas no smartphones por entender que é possível adquirir produtos de uma forma mais consciente, realizando rapidamente a comparação de preço, frete, prazo de entrega, entre outros itens.
Dentro desse contexto, os marketplaces segmentados também ganhamcada vez mais força nesse cenário do e-commerce nacional. Empresas como Airbnb, iFood, Uber e Trivago, que basicamente comercializam serviços e experiências, já alcançaram grande maturidade e são, cada vez mais, utilizadas diariamente pelos consumidores, principalmente nos dispositivos móveis. Os dados mostram que o mercado nacional de smartphones está amadurecendo rapidamente. E que o comportamento, expectativa e intensidade de utilização dos gadgets por parte dos usuários brasileiros estão avançando de maneira irreversível, criando um novo canal para o relacionamento com clientes. O grande desafio, nesse momento, é tornar relevantes os marketplaces que disponibilizam produtos para determinados nichos e segmentos de mercado, como o setor automotivo e saúde/beleza, tal qual os aplicativos citados.
Para isso ocorrer, algumas medidas importantes precisam ser implementadas com intuito de facilitar a vida do consumidor e, consequentemente, fazer com que se sinta confortável e estimulado para comprar tais produtos no aplicativo ao invés de se deslocar até a loja física. A primeira delas envolve o fato de o usuário ter a possibilidade de adquirir itens de diferentes lojistas em uma única compra. Apesar de ser uma ação simples, muitos shoppings virtuais nichados ainda não contam com essa modalidade de venda e, certamente, perdem receita por não disponibilizá-la.
Os marketplaces também precisam ficar atentos com a forma de finalização das compras dos usuários. Algumas lojas virtuais abrem até 15 telas para que o consumidor conclua o pedido. Essa quantidade longa de passos confunde e traz insegurança às pessoas, contribuindo com a elevação do índice de carrinhos abandonados e, consequentemente, prejudicando o negócio como um todo.
Por isso, é fundamental que as parcerias entre indústrias e empresas de tecnologia sejam capazes de gerar melhor eficácia e resultados neste processo. Nesse caso, a indústria deve permanecer focada em produzir bons produtos, com base nos desejos e necessidades de seus clientes, e as empresas de tecnologia precisam continuar mirando o desenvolvimento de soluções que ofereçam a melhor experiência de compra e segurança de transações. Dessa forma, sem grandes impactos nos processos internos, as indústrias criam seus novos canais de venda mobile.
Importantes parcerias de sucesso entre varejistas e empresas de tecnologia devem ser firmadas para o desenvolvimento de soluções tecnológicas que levam o consumidor à experiências de compras mais assertivas e menos burocráticas, possibilitando um aumento considerável na recorrência de pedidos efetivados. Há diversos mecanismos que podem ser aplicados em uma experiência de compra, somente empresas focadas neste objetivo, podem captar e implementar tais soluções de acordo com a constante mudança do comportamento de compra dos mobile-consumidores, o que na maioria das vezes não é a expertise dos varejistas. Outra ação a ser executada consiste em demonstrar ao varejo as estatísticas e novos modelos de comportamento do consumidor, para que então estes desenvolvam políticas comerciais específicas para o marketplace. Promoções, lançamentos e ofertas exclusivas aos usuários do aplicativo ajudam no processo de fidelização tanto para o marketplace quanto para a marca anunciante.
Por fim, talvez o mais importante tópico envolve a verificação da qualidade do serviço prestado pelos parceiros. Hoje, a reputação de qualquer marca está a alguns toques na tela de qualquer smartphone e é um fator extremamente importante para tomada de decisão da compra por parte do consumidor. Por isso, a presença de anunciantes capacitados e com produtos diferenciados é fundamental para o marketplace alcançar relevância, além de aumentar as chances de recorrência de compra. Uma forma eficaz de incentivar a melhoria da qualidade do serviço dos anunciantes é estimular, através de rotinas específicas desenvolvidas para aplicativos e sites, uma pontuação pública, inserindo filtro para verificação dos melhores lojistas, de acordo com a avaliação dos próprios usuários.
Com todas essas questões ajustadas, a tendência é que pouco a pouco os marketplaces segmentados entrem com mais facilidade no hábito de consumo das pessoas, uma vez que as plataformas aperfeiçoam sensivelmente a experiência de compra. Para os lojistas anunciantes também é a certeza de aproximação com novos usuários e, consequentemente, a entrada de receita extra. Sem dúvida, essa modalidade é um caminho sem volta e que deve aumentar ainda mais o número de brasileiros que buscam, pesquisam e compram por meios digitais, principalmente pelo smartphone.
Robson Michel Parzianello é engenheiro de computação e sócio-fundador da Pharmacy S/A, empresa catarinense especialista em tecnologia mobile