Ainda sem contar com uma “bala de prata”, apesar dos delírios das cloroquinas da vida e de uma vacina russa ainda sujeita a muita desconfiança, os governantes estão se dando conta de que não resta opção senão conviver com a Covid-19 desde já.

Na verdade, desde o início da quarentena, que completa cinco meses, temos convivido com a pandemia sem um isolamento absoluto. E isso incluiu escapadelas para ir ao supermercado ou farmácia, por exemplo. Sob o rigor de protocolos, desde os primeiros dias da quarentena, entendemos que seria possível essa convivência.

Pouco a pouco, governos estaduais e prefeituras foram estabelecendo condições para uma flexibilização gradual, à medida em que vão se obtendo mais controle da pandemia. Em diversas cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e as maiores capitais, foram criados critérios de avaliação da pandemia, estabelecendo-se fases expressas por cores.

Dependendo da disponibilidade de leitos e de outros instrumentos de controle, os governantes vão liberando uma retomada de atividades. Foi assim com o comércio de rua e os shopping centers, com os restaurantes e bares, cabeleireiros e academias, além de outras atividades que estão sob avaliação desses governantes para uma possível liberação gradual.

E finalmente chegou a vez dos eventos. Já não era sem tempo. O longo período de “seca” fez um estrago sem precedentes no setor. Estima-se em aproximadamente R$ 50 bilhões por mês as perdas decorrentes dessa parada forçada em todo o Brasil, se considerarmos a repercussão direta e indireta. Vale sempre lembrar que o ecossistema dos eventos abrange bem mais do que os espaços e os itens intrínsecos à atividade.

Suas ondas de repercussão econômica atingem os sistemas de transporte, hotelaria, bares e restaurantes e muitos outros setores que dependem umbilicalmente das suas realizações para sobreviver. Cada real investido diretamente em eventos gera mais R$ 30 de movimentação econômica. Os empregos diretos e indiretos passam de 25 milhões. Por isso, as principais entidades do setor, entre elas a Ampro, da qual sou dirigente, se mobilizaram e continuam mobilizadas para convencer os governantes da segurança da retomada dos eventos.

Não se trata de negacionismo ou irresponsabilidade: temos consciência da gravidade da pandemia e não queremos uma retomada descuidada, que possa ocasionar maior contaminação. Queremos um retorno respaldado por protocolos rigorosos. Assim como já ocorre com supermercados e shoppings, por exemplo. São locais com aglomeração de pessoas, mas todas conscientes dos cuidados e da observância aos protocolos estabelecidos.

E finalmente os eventos começam a dar sinais de retomada. As duas principais cidades do país – São Paulo e Rio – já estabeleceram condições para o retorno dessas atividades. Em São Paulo, desde 27/7, já é possível a realização de eventos com público sentado, guardadas ainda outras pré-condições, tais como a ocupação de, no máximo, 40% da capacidade.

Na semana passada, foi a vez de o Rio antecipar a volta dos eventos corporativos e encontros de negócios, liberando sua realização, desde que a ocupação se dê em até um terço dos espaços. É claro que essa liberação ainda não resolve totalmente o problema do setor, mas já é um alento.

Nesse período de impedimento, empresas e agências procuraram gerar opções alternativas para continuar atuando junto ao seu público e diversas lançaram mão dos eventos virtuais, alguns deles ganhando ares de “second life”, tentando reproduzir uma experiência mais próxima possível do evento físico.

Esse aprimoramento técnico, impulsionado pela necessidade, certamente será útil na fase pós-pandemia, mas não nos enganemos: o evento virtual não substitui o presencial. Os eventos serão cada vez mais híbridos no futuro.

Por isso, recebemos com esperança a liberação gradual dos eventos, mas queremos mais. Com responsabilidade e rigor de protocolos, é possível acelerar a volta de outros tipos de eventos!

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) alexis@ampro.com.br