Já comentei com vocês nesta coluna marketing sobre o dia em que cheguei à Disney com a Katinha, minha companheira de vida, e fomos fazer o check-in no Hilton Disney Village, em Orlando. E a recepcionista, terminado o check-in, nos convidou para conhecer um café da manhã – disse ela, “o melhor café da manhã do mundo” – de um novo hotel que a cadeia Hilton estava inaugurando na Universal. Além do café, oferecia limousine com motorista para vir nos buscar e trazer de volta, e ainda pagava US$ 150 por termos aceito o convite e pelo tempo. E, caso a Katinha topasse e fosse junto, outros US$ 150. Claro, não aceitei e fomos direto na manhã seguinte para o Magic Kingdom reencontrar o Mickey depois de muitos anos.

A partir da virada do milênio, e com o digital decolando, o “freemium” foi prevalecendo. Oferecer-se por um determinado tempo e de graça o que custa alguns dinheiros. A plataforma de business mentoring do MadiaMundoMarketing, Perennials, por exemplo, oferece os primeiros 30 dias para degustação e sem nenhum desembolso. Depois custa uma mensalidade de R$ 58.

Na última Black Friday aqui no Brasil, o pagar para as pessoas comprarem prevaleceu em muitos negócios. Em especial no território da alimentação e na briga histórica entre o McDonald’s e o Burger King. Na crença que comprando por um preço simbólico, que nem mesmo pagava o valor da entrega, as pessoas acabariam gostando e, na medida em que cederam e liberaram seus dados para ter o benefício, poderiam ser motivadas na sequência. Assim, para a perplexidade de muitos:

  • Mc e Burger King estapeando-se venderam alguns de seus sanduíches que custam na faixa dos R$ 20 por R$ 1 ou R$ 2. Menos que o que custa um pão de queijo.
  • Os aplicativos de entrega entraram na mesma “vibe” e o Uber Eats passou a oferecer o Big Mac por R$ 1 para os novos clientes do aplicativo… Legal, mas, imagino que os clientes de sempre não ficaram muitos felizes e sentiram-se, de certa forma, punidos pela preferência e lealdade. Uma espécie de tiro no pé…
  • O Mc também vendeu 10 cheeseburgers por R$ 20, desde que o comprador utilizasse o cupom presente no aplicativo…
  • Já quem usou o Mercado Pago, sistema de pagamento do Mercado Livre, comprou e comeu um Quarteirão e um Cheddar McMelt por apenas R$ 4,90.
  • O Burger King respondeu através do mesmo aplicativo de pagamento do Mercado Livre oferecendo 6 lanches por R$ 15.

Terá valido a pena? O tempo dirá. Mas os dois lados acreditam que, para não decepcionar seus admiradores, jamais poderiam jogar a toalha e fugir da “guerra”. O que eu acho? Que se tivessem se planejado de forma mais consistente, poderiam praticar os mesmos preços de sempre, oferecendo brindes e contrapartidas competentes para permanecerem e serem lembrados por um tempo infinitamente maior do que apenas uma única e tumultuada sexta.

Brindes e contrapartidas exclusivas, únicas, irresistíveis, memoráveis, repito. Mas, como negligenciaram nos planos, em meio à excitação e atropelos, tentaram, minimamente, salvar as aparências. Que para o próximo Black Friday, que está confirmado, sexta, 27 de novembro, e depois da imensa surra coletiva em todos os negócios aplicada pela pandemia – ainda têm mais de 3 meses pela frente – sejam irretocáveis em seus planos, e abandonem o RM – Repentista Marketing, também conhecido como GM – Gambiarra Marketing. Quem gosta de repentista é forró. Black Friday prefere outro tipo de música.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)