Michel Lent e Alexandre Santos (diretor de operações) à frente da equipe da P&OD paulista

 

Depois de San Francisco, São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, o próximo pouso da Pereira & O’Dell deve ser em Londres. E após a Europa, virá a Ásia. Parece curiosa a história dessa agência do grupo brasileiro ABC, que abriu as portas primeiro nos Estados Unidos para, cinco anos depois, chegar ao Brasil – data que completa agora 18 meses. Mas o fato é que o país não estava nos planos iniciais de expansão da P&O’D.

A perspectiva de atender a Fiat, no entanto, acabou levando à abertura em São Paulo – decisão que se mostrou, rapidamente, mais do que acertada. A força internacional da marca, sua já consolidada identidade global e uma coleção de prêmios importantes ajudaram-na a crescer rapidamente por aqui. Em apenas um ano, a agência tinha mais de 50 profissionais e clientes como Fiat (Fiat fashion), B2W (Americanas.com e Submarino), Natura (institucional), Perdigão e Whirlpool (Brastemp e Consul).

Michel Lent, diretor-geral da P&O’D, está há alguns meses de volta ao Rio, depois de 12 anos em São Paulo. Mantém-se na ponte aérea e decidiu instalar a Pereira & O’Dell no Templo, um charmoso espaço de coworking na zona sul da cidade. Buscará uma sede própria apenas depois da Copa. A ideia é se comportar como uma genuína startup.

Lent, por sinal, tem experiência em startups: foram cinco vivências de abrir empresas ou departamentos do zero ao longo da carreira. “O que acelerou o sucesso do projeto foi, entre outros fatores, uma associação de marcas – a do PJ Pereira, do grupo ABC, do Nizan Guanaes, a minha em São Paulo, a da Liliane Badaró no Rio. E, claro, a Fiat, que originou a abertura no Brasil”, diz.

A expansão em São Paulo foi rápida. Inicialmente o projeto era ter uma sala na Sunset – operação de ativação de marcas do Grupo ABC – somente para atender a montadora, mas, ao entrar no jogo, Lent tomou a decisão de fazer uma “agência de verdade”. O aval do grupo ABC ajudou a atrair clientes, além da enxurrada de prêmios conquistados pela Pereira & O’Dell americana em 2013 – foram três GPs em Cannes, para ficar no mais conceituado.

Mas segundo Lent, não foram apenas esses os motivos. “O mercado sentia falta de algo diferente”, diz. Ele afirma que a agência tem uma abordagem orientada para a solução de problemas. Essa é a sua proposta, em uma época em que a propaganda é menos sobre “que meios” – como no passado – e mais sobre “o que dizer nos meios”. “A essência inovadora é a busca permanente de novos formatos”, diz.

O anúncio da abertura do escritório carioca gerou um alvoroço. Lent procurava talentos e pediu ajuda ao Clube de Criação do Rio de Janeiro. O retorno de um post na página do CCRJ no Facebook entupiu a caixa de entrada do e-mail da diretora-geral da agência no Rio, Liliane Badaró. Ela conta que recebeu 600 currículos em uma semana. Houve profissionais dispostos a trocar empregos de muitos anos e bons salários para ganhar menos, apenas pelo desafio.

Lent diz que o modelo da agência é não ter modelo. Em São Paulo, por exemplo, há quatro supervisores de criação, e não um diretor. Também não há diretor de mídia. É bem verdade que se trata de uma contingência, uma vez que o executivo admite não ter de fato encontrado pessoas com o perfil almejado. Mas tudo funciona perfeitamente e as equipes se misturam com frequência – Rio, São Paulo e São Francisco. Na capital fluminense, a equipe criativa reúne talentos de televisão, tecnologia, mobile, telecom e artes plásticas.

“A propaganda está em um momento de reinvenção. O que mais pesou foi não termos de fato um ‘formato’. A agência não é digital, não é offline, não é baseada em mídia. É uma mistura, porque nasceu há seis anos e não pode ser montada numa estrutura que depende de um ‘formato’. Empresas mais tradicionais foram montadas em um tipo de modelo de negócio difícil de mexer. Como gestores, sabemos como é complexo promover essas mudanças. Começar do zero, já de um jeito diferente, é mais fácil”, comenta Lent.

E assim foi. A Perdigão entrou no portfólio quando a agência tinha quatro pessoas – e trabalhava basicamente com o time americano. “Há um novo modelo de agências menores, que chegam com um formato diferente, que funciona melhor. A nossa vantagem, talvez, em relação a outras multinacionais que chegam por aqui, é que somos gringos mas falamos português”, observa Lent.

Ele conta que tem sido fácil aprovar projetos em formatos diferentes, pois a maioria dos clientes procurou a agência e não o contrário, o que torna sua disposição e maturidade para o novo naturalmente maior. “Tenho um grande orgulho da consolidação da agência. A confiança das marcas que vieram trabalhar conosco e a possibilidade de montar um bom time é uma grande conquista”, conclui.

Para 2014, a meta é dobrar de tamanho em funcionários e quadruplicar o faturamento. Há espaço para conquistar contas e crescer nos atuais clientes. Em São Paulo, se decidirem permanecer na sede atual, podem chegar a uma equipe de cerca de 50 pessoas. No Rio, a estrutura pode vir a crescer mais. “Aprendemos que não é preciso estar na mesma cidade que o cliente e a Fiat é o grande exemplo disso. Por que não ter 100 pessoas no Rio de Janeiro? Isso é possível, mas não era há cinco anos”, diz o executivo, que projeta entre 100 e 150 pessoas no país até 2016.