Já há muitos anos tenho o hábito de manter um caderno onde anoto pensamentos, ideias, aprendizados, textos que mexeram comigo, citações e outros achados que me inspiram.
Essa é a forma que encontrei para não perder conhecimento que, quando não registrado, se esvai com a limitação da nossa memória.
Vez por outra, costumo abrir o caderno e dedicar algum tempo a ler as anotações, o que sempre funciona como uma espécie de combustível tanto no âmbito profissional como pessoal, nas relações de trabalho e também na inteiração com a vida de maneira geral. É prazeroso, é estimulante.
Recentemente fui buscar no meu caderno algum conteúdo que pudesse me ajudar a manter o ânimo e a disposição de continuar acreditando que ainda vale a pena fazer as coisas certas do jeito certo. Folheando aleatoriamente as páginas, encontrei uma declaração que escrevi sobre qual era meu propósito em relação ao exercício do meu trabalho.
Sei que pode parecer um tanto quanto cabotino escrever um artigo sobre uma definição de propósito pessoal, mas me motivei por considerar que expor essa definição de caráter íntimo seria uma forma de compartilhar com outras pessoas que também consideram que, sem um propósito que realmente valha a pena, o trabalho perde o mais importante dos seus valores: dar um sentido maior àquilo que fazemos e transformar o que poderia ser um dever em prazer.
Prazer, essa é, em minha opinião, a maior motivação para fazer algo bem-feito, dando o máximo do que sabemos e podemos, sempre como apetite de melhorar, de aprender e evoluir. É o prazer em fazer algo que faz a diferença entre o protocolar e o verdadeiro engajamento.
Hoje existe praticamente um consenso de que as empresas e marcas precisam ter um propósito que vá além de suas atividades de negócio. Empresas precisam ter “causas” com as quais as pessoas se identifiquem e queiram aderir. Em outra ocasião, não muito tempo atrás, esse foi tema de um artigo que escrevi e foi publicado neste mesmo espaço.
Se a grande maioria está de acordo que empresas devem ter um propósito, por que não indivíduos adotarem esse mesmo princípio? Se empresas com “causa” agregam mais valor ao meio no qual estão inseridas, o mesmo deve valer para cada pessoa.
Não existe dúvida de que é muito bom prestigiar empresas e marcas com propósito, mas talvez seja ainda mais valoroso quando é você mesmo o responsável por definir, assumir e ser o mantenedor do seu propósito.
Bem, no meu caderno estabeleci que o propósito da minha vida profissional é: ser feliz e gerar felicidade, fazendo uso das oportunidades de obter conhecimento e ter a disciplina de levar esse conhecimento à ação, de maneira holística, com responsabilidade, sendo amigável, respeitando a vida, o outro e o afeto nas relações.
Pode ser que muitos achem uma formulação rasa, ingênua, que não merece o espaço da página nesta revista. Fazer esse juízo é um direito de quem lê, assim como aquele que escreve deve estar pronto para as críticas. No entanto, essa visão sobre o significado do trabalho tem funcionado muito para mim.
Ter a felicidade pessoal e comum como objetivo, aprender continuadamente, transformar conhecimento em ações práticas, cultivar o respeito pelas pessoas e a responsabilidade pelo que fazemos têm sido um guia para minha conduta.
Para continuar sendo um eterno aprendiz e evoluir, é preciso ter algo a mais como objetivo, além de ganhar o sustento. Ficamos muito melhores no que fazemos quando colocamos alma no trabalho.