Em vez de caminharmos a passos largos, preferimos que sejam lerdos. É uma tradição brasileira, herança de tempos idos, quando o mundo era mais lento.
Queremos nos referir aqui ao processo de escolha dos nossos novos governantes, cujo primeiro turno não definiu qual será o próximo presidente da República, provocando um segundo turno que só será realizado no próximo dia 28.
Ou seja, três semanas após o primeiro turno, amarrando por mais tempo a economia do país, que reduziu sua velocidade em função do processo eleitoral.
Por que mais três semanas de espera? Não foram feitas todas as campanhas necessárias para melhor esclarecimento da população sobre os candidatos?
O segundo turno não é consequência do primeiro? O que se disse neste, pelos finalistas, não vale agora para a próxima etapa?
A impressão que fica é que não temos urgência do urgente. E nada é mais urgente para o Brasil neste momento do que definir de uma vez por todas os novos quadros diretivos do governo, com destaque para o cargo mais importante, que é o de presidente da República.
Nestas três semanas (agora só restam duas) que ficaremos à espera do vitorioso, a economia estaciona ou até mesmo dá marcha à ré.
Será que os responsáveis pelas eleições não pensaram nisso? Todas as reflexões sobre os concorrentes já foram feitas antes da realização do primeiro turno. O segundo é apenas consequência deste, devido a não se ter obtido os 50% mais 1 voto por nenhum dos finalistas. Muito bem, façamos um novo pleito, desta feita só com os dois primeiros. Mas, por que aguardar mais três semanas para essa definição? Por que não se fazer no máximo em uma semana depois do primeiro turno?
Sempre haverá quem justifique que é assim porque é, porque está definido na Carta Magna, porque… porque… porque.
Ninguém consegue, porém, explicar de forma convincente mais este longo prazo concedido ao processo de escolha, que faz o país se não parar, ao menos estancar de forma importante, o seu desenvolvimento.
Gostamos de imitar muitas vezes países mais adiantados, mas nesse ponto preferimos ficar com as nossas lerdezas, as nossas dificuldades de avançarmos quando tudo recomenda e exige que assim se faça.
Então, vamos aguardar o dia 28 para saber quem vai governar o país nos próximos quatro anos. Se a eleição do segundo turno tivesse sido realizada uma semana após o primeiro turno, a esta altura dos acontecimentos já teríamos um novo presidente da República, que tomaria posse, sim, no mesmo dia previsto para a decisão em primeiro turno, mas com mais tempo para escolher melhor sua equipe de governo e o mercado interno melhor assimilar e se preparar para os novos tempos.
Os países mais adiantados do planeta têm pressa. O nosso país, bastante adiantado em muitos setores, nem tanto em outros, prefere na maioria das vezes ignorar o antigo e sempre respeitado ditado que ensina que time is money…
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Prosseguindo a série temática aprovada pela Redação do PROPMARK, temos nesta edição matéria especial sobre o segmento out of home, abrangendo 15 páginas de conteúdo que procura cobrir todo o setor.
Quando Gilberto Kassab, então prefeito de São Paulo, aprovou a Lei da Cidade Limpa, não poderia imaginar que o idealizado por ele e sua equipe de trabalho alcançasse os bons resultados que hoje são vistos na capital paulista.
À época da promulgação da nova lei, a grita foi geral, inclusive por parte da imprensa, devido principalmente ao pouco tempo dado às empresas exibidoras para se adaptarem às novas disposições legais.
Mas, o tempo, senhor da razão – como costumava repetir outro luminar da política nacional, o presidente da República impichado Fernando Collor de Mello –, acabou proporcionando uma reviravolta na então chamada propaganda ao ar livre, modernizando os formatos egressos do mundo digital, que passaram a ocupar lugares de destaque na cidade, sem a poluição física e visual gerada pelos seus antepassados.
Alguns proprietários de exibidoras do antigo outdoor, com suas folhas desbotadas e desmilinguindo-se antes do término de cada período de exibição (na prática, 15 dias), que também dominavam o setor de placas metálicas pintadas com as mensagens publicitárias, estas com maior durabilidade, mas sujeitas às ferrugens das intempéries, juram hoje que Kassab não previa esse futuro vencedor da nova geração do outdoor.
A ideia do então prefeito, segundo alguns mais a ele chegados, era a de que São Paulo seria transformada em um gigantesco jardim, sem nenhum tipo de propaganda a lhe enfeiar a paisagem, não tanto devido às mensagens, mas principalmente pela má conservação dos quadros e painéis, além de muitas paredes e muros que eram ilegalmente invadidos diante da necessidade de sobrevivência de uma das mais antigas formas de comunicação publicitária do universo.
Pode ser que essa acusação tenha procedência, mas há quem jure que ele antevia o que hoje se tornou realidade: uma cidade com o seu exterior cada vez mais moderno, descolando-se do que foi um dia duas ou três décadas atrás.
Para ser prefeito de uma cidade gigantesca como São Paulo, além de uma boa dose de conhecimento arquitetônico, precisa ter também e em proporção maior o que na gíria popular tem outro nome, mas preferimos o verbete sorte que está em todos os dicionários.
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A mesma São Paulo que glorificou Gilberto Kassab na questão da propaganda ao ar livre, sem que ele próprio esperasse o resultado alcançado, tem realizado em todo outubro um grande esforço comunitário no combate ao câncer de mama.
Preocupação de toda a humanidade, pela força do mal que a doença pode causar às suas portadoras, o Outubro Rosa, movimento popular que ganhou foro internacional logo após seu surgimento nos Estados Unidos, onde uma legislação especial transformou outubro no mês nacional de combate ao câncer de mama, obteve forte adesão na capital paulista.
As noites na maior cidade da América Latina têm sido iluminadas em muitos espaços pela cor rosa, que representa o esforço do combate ao mal que deve ser vencido antes de vencer.
Os primeiros registros de combate ao câncer de mama no Brasil, nos moldes de alertas à população que crescem a cada outubro, tiveram início em 2002, ganhando hoje uma força de engajamento extraordinária, menos de duas décadas depois.
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Este Editorial é em homenagem a Tati Oliva, que acaba de lançar o imperdível livro de cases promocionais Um mais um é maior que dois.
A autora, diretora da Cross Networking, há dez anos no mercado e sendo considerada a primeira agência brasileira especializada em parcerias estratégicas, demonstra fartamente nas 160 páginas da sua obra que o título não se trata de exagero autoral.
Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).