1. Os inimigos da democracia e, por extensão, os defensores da falta de liberdade de expressão e do chamado controle da mídia no Brasil exultaram nos últimos dias com as perdas irreparáveis de dois dos melhores patriotas que o país já teve.
Parafraseando o filósofo, se você luta um dia, você é bom. Se você luta muitos dias, você é muito bom, mas se você luta sempre, você é imprescindível.
Ruy Mesquita e Roberto Civita lutaram sempre pelos mesmos ideais e por isso se tornaram imprescindíveis para a vida pública brasileira.
Formaram ambos duas barreiras contra os arbitrários, denunciando suas ambições de poder sob um manto de bondades. Como a fábula do lobo com pele de cordeiro, os algozes das instituições manipulam as palavras a seu bel prazer, esmerando-se na prática de um ilusionismo explícito que encanta as grandes massas.
São os momentos ideais e necessários para o surgimento de iluminados como Mesquita e Civita, contrapondo-se aos mal-intencionados e denunciando os embustes à população. Além do enorme sacrifício que é combater o bom combate, há nesse tipo de líder uma incalculável dose de coragem pessoal, já que o enfrentamento dos adversários da democracia é tarefa árdua e ao mesmo tempo delicada.
Tudo porque estes se valem das franquias que somente o regime democrático oferece, para solapá-lo fingindo sua defesa. Todos os que lutam sabem que esse é o pior contendor, porque dissimula, engana, promete o bem-estar, mas só faz aumentar a miséria, acena com a educação e procura manter a ignorância. Jamais seguiu a sabedoria oriental que recomenda ensinar a pescar, em vez de dar o peixe.
A torcida dos cidadãos de bem, que amam verdadeiramente a sua pátria e tudo o que nela de bom existe é para que os exemplos deixados por Mesquita e Civita não parem de se reproduzir, influenciando principalmente os jovens, presas mais fáceis do canto da sereia dos que no fundo querem nos silenciar a todos.
2. A propaganda anda precisando de si mesma para se fortalecer. Quem acompanha o debate atualmente travado entre os leitores da Folha, percebe que apesar de fazer parte da vida diária dos cidadãos, proporcionando-lhes múltiplos créditos, sendo o principal deles auxiliá-los na liberdade de escolha, ainda assim ela consegue ser execrada.
Tudo começou desta feita porque um leitor questionou o jornal sobre o excesso de anúncios em uma determinada edição do mesmo. E concluiu que comprava o exemplar para ler notícias e não publicidade.
Antes que você, leitor do propmark, e, portanto, quase certamente um profissional ou empresário do trade, se revolte contra o cidadão por estar atingindo uma das mais importantes atividades do planeta, cujo montante de dinheiro que movimenta, ao contrário do que muitos pensam, é irrisório diante dessa mesma importância, pare um pouco para refletir se a indústria da propaganda, ela mesma, não é pelo menos um pouco culpada por algumas pessoas pensarem como aquele cidadão que protagonizou este tópico.
Não se trata de fazer um mea-culpa isolado, mas apenas lembrar que a atividade publicitária tem sido insuficiente em sua autodefesa, permitindo que proliferem idiossincrasias a respeito da atividade, como ocorre com o citado leitor da Folha.
É bem verdade que ele já foi contestado por outros leitores, alguns até explicando o que muitos publicitários não sabem a respeito da sua própria atividade profissional.
Mas, a nosso ver, é chegado o momento das grandes forças do setor intercederem para que todos passem a entender corretamente valores produzidos ou assegurados pela propaganda, cujos mecanismos jamais lhes ocorreram.
Sequer cogitamos em lembrar os efeitos mais corriqueiros da atividade publicitária sobre o bem-estar da população, como, por exemplo, os decorrentes de campanhas comunitárias, lembrando como símbolos desse braço que compõe o todo do corpo da propaganda, a guerra travada contra a Aids e o tabaco.
O leitor há de concordar conosco que há ainda valores mais fortes, embora os que acima citamos sejam campeões de importância junto à população.
Para reforçar a ideia deste editorial, basta citar apenas um deles, muito necessário nos tempos que vivemos não só no Brasil como em toda a América Latina (com reflexos, pasme o leitor, inclusive nos Estados Unidos).
Estamos nos referindo à independência econômica que a publicidade proporciona aos meios de comunicação, sem a qual ou não existiriam, ou seriam obrigados a alianças espúrias com governos ou entidades que concentram grande volume de verbas em seu poder.
Assim como nas guerras, a primeira vítima desse tipo de remédio é a verdade.
A solução para corrigir a distorção de entendimento da publicidade pode residir nela própria, e no passado já tivemos alguns exemplos disso: campanhas de esclarecimentos junto à população sobre a importância dessa atividade econômica que está por detrás de quase tudo o que consumimos, inclusive o desfrute do nosso direito de informação amplo e irrestrito, o que nem sempre ocorre, mas exceções só confirmam a regra. E esse direito só é plenamente atingido se nossas fontes forem livres, expressando corretamente as informações que possuem, levando-se em conta apenas o interesse público.
3. Imperdível o artigo “Palavra nenhuma”, de Eugênio Bucci, publicado na página 2 do Estadão de 30/5. Bucci começa por registrar o espaço em branco do primeiro editorial da página 3 do jornal, na edição do dia seguinte à morte do Dr. Ruy Mesquita, em uma “tirada gráfica de rara inspiração”, assinalou Bucci.
Mas o seu artigo não se restringe a uma justa homenagem ao já saudoso Dr. Ruy. Vai além, defendendo a importância do papel impresso, mais especialmente o papel-jornal, “matéria sobre a qual as nações modernas forjaram sua identidade”. O autor não se contenta e afirma: “Sem a instância da palavra impressa as sociedades democráticas simplesmente não existiriam”.
Reiterando Bucci, “se o leitor não viu e quer ver essa instância cara a cara, procure um exemplar do jornal do dia 22”. (N. do R.: Estadão, 22/5, página 3).
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2451 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 3 de junho de 2013