Lá se vão mais de 20 anos desde a popularização da internet e o início da chamada digitalização do mercado de comunicação. Descobrimos essa imensa rede global de computadores, pensamentos e pessoas, toneladas de informações e uma desmassificação dos meios de comunicação como nunca imaginamos que veríamos. Até porque estávamos acostumados com grandes conglomerados de comunicação controlando a distribuição massiva de conteúdo.
Atualmente, qualquer um pode publicar seu livro de maneira digital, fazer suas opiniões alcançarem milhares de pessoas pelas redes sociais e distribuir suas obras de arte, singles ou álbuns completos num simples apertar de botão ou, ainda, um toque da ponta dos dedos, respondendo a um comando de voz ou até movendo o gadget no ar com as mãos.
Depois de anos de liberdade criativa e publicação, ou seja, de alcance, aprendi duas coisas: estamos absolutamente felizes, animados e, ao mesmo tempo, resistindo absurdamente a esse movimento. Como indivíduos amamos essa liberdade de escolha, o VOD (videoondemand), com a liberdade de assistir o que quiser, como quiser, onde quiser. Amamos Uber, idolatramos Popcorn Time, admiramos Spotify e Netflix.
Mas, como gestores de comunicação e marketing, absolutamente odiamos essa liberdade. Nos esforçamos todos os dias, horas, minutos, para perseguir o consumidor no caminho da liberdade que ele conquistou (nós também, não é?). Se estou navegando em um buscador e procuro por algum assunto, logo vem aquela empresa ou marca perseguir o meu caminho com infinitas impressões, sugestões de posts e afins, com algum produto ou serviço que a empresa precise vender.
Os algoritmos estão trabalhando a todo vapor a nosso serviço. E não digo que isso não possa ser feito de maneira eficiente e respeitosa. Mas, estamos ansiosos, precisamos seguir, perseguir e cercar o consumidor até convencê-lo de que nosso produto e serviço é melhor e precisa ser consumido. De preferência, já.
Como profissional de comunicação há mais de 23 anos, escuto sobre o “empoderamento” do consumidor e como ele comanda o relacionamento com as marcas. De que modo as redes sociais seriam grandes SACs 2.0, ao mesmo tempo em que permitiriam um relacionamento verdadeiro da marca, enquanto brand persona com o consumidor. O que noto hoje é um esforço em transformar essa grande via expressa de livre compartilhamento de dados e conteúdo numa estrada tortuosa e cheia de becos e vales, onde possamos cercar nosso target. Isso mesmo, ainda usamos essa palavra para definir nosso consumidor: target. Precisamos acertá-lo. Triste né?
Isso vai na contramão do consumo de VOD, de ter milhares de canais de distribuição colaborativos em nossas mãos, algo que admiramos como seres humanos, porém lutamos como loucos para controlar enquanto profissionais de comunicação. Marcas, profissionais, produtos e serviços precisam aprender que o consumidor mudou e com ele mudou o modo como se relaciona com as marcas.
Você tem ou é responsável por uma marca? Então pense no quanto ela pode ser relevante para o seu consumidor. Tem um produto? Entenda como comunicá-lo através da relevância enquanto conteúdo. Deixe de perseguir seu consumidor. Seja relevante, comunique o seu conteúdo e ele virá até você com mais disposição, dinheiro e aberto a estabelecer uma parceira de longo prazo.
Clineu Júnior é CEO do Guiato no Brasil