Entre biomáquinas que se alimentam de algas, robótica, biomimética, soluções tecnológicas que produzem obras de arte e ideias para tornar cidades mais inteligentes, são as propostas para melhorar o mundo que dominam as palestras e as discussões no PicNic Brasil, a primeira edição brasileira do festival que se tornou famoso na Holanda, e que está sendo realizado até sábado (5) no Parque Laje, no Rio de Janeiro.
Em sua palestra “Em volta da fogueira digital”, o jornalista da Globonews Rafael Coimbra afirmou que tudo o que conhecemos hoje – as tão familiares telas de smartphones e tablets – se desmancharão no ar e darão lugar a experiências de Realidade Virtual e artefatos munidos de Inteligência Artificial. Robôs tomarão o lugar dos familiares aplicativos para solucionar nossas vidas.
O conteúdo não será mais criado por jornalistas, por exemplo, os contadores de histórias: ele estará disponível em cenários nos quais cada pessoa terá liberdade para viver a história que desejar, do jeito que escolher. Cada um criará sua própria história.
“Através dessas experiências expandiremos nossos sentidos ou, porque não, ganharemos novos que ainda sequer conhecemos. Uma nova responsabilidade se apresenta para os jornalistas: histórias em realidade virtual possuem maior carga emocional. Portanto, como dosá-la? Como lidar com a nova avalanche de informações, recursos, e principalmente como captar a atenção das pessoas nesse novo cenário?”, questionou.
Coimbra lembra do robô chinês que veio ao Brasil cobrir os Jogos Olímpicos e produziu nada menos que 450 histórias de maneira autônoma. Mencionou experiências do Google e outras empresas que testam a autonomia das máquinas e sua capacidade de “pensar” por si próprias e criar linguagens próprias. Relembra a experiência da Microsoft com um robô que ganhou um perfil no Twitter e era alimentado com opiniões e imputs humanos e acabou tornando-se neonazista e teve de ser deletado. São muitas perguntas, a grande maioria ainda sem respostas.
A estrategista criativa e designer de inovação Louisa Heinrich, da empresa SuperHuman, dedicou sua palestra a discorrer sobre o fato de que durante anos trabalhando com design e estratégia digital chegou à conclusão de que as pessoas simplesmente não sabem identificar o que são, de fato, problemas verdadeiros. Aquilo que consideram problemas em geral não são importantes e relevantes o suficiente para motivar energia. Ela se inspira na natureza e nos ecossistemas naturais para sugerir que pessoas e empresas funcionem de maneira semelhante, menos movidas a dinheiro e mais em busca de sentido.
“As pessoas se esqueceram o que são reais problemas. O dinheiro é um meio e não um fim. A chamada ‘economia compartilhada’, do ‘sharing’, é uma grande besteira porque ninguém está compartilhando nada. Está alugando por dinheiro. Voltamos à era do escambo, em que eu dava um bode e você me dava o vinho.”, observou.
Louisa sugeriu três passos importantes para voltar a buscar o verdadeiro sentido daquilo que se faz. O primeiro é repensar a relação entre tecnologia e dinheiro, e pensar em alguns tipos de negócios em que o dinheiro não é o fim, não é o motor. O segundo é pensar como um ecossistema, onde tudo se interliga, tudo se conecta, como na natureza, e não pensar individualmente, de maneira estanque. O terceiro passo é assumir responsabilidade individual por tudo aquilo que se faz no planeta.