Olhos grandes e cabeças bem maiores que o corpo. As características são de uns bonequinhos já famosos no Brasil e que ganharam uma nova porta de entrada. A Funko, empresa de colecionáveis criada em 1998, abraçou o país através de parceria com a Piticas, que passa a ser a distribuidora oficial dos produtos. A companhia americana tem dezenas de licenças e várias linhas, entre elas a Pop!, carro-chefe desse acordo.

Inicialmente, a Piticas fechou duas levas de 80 modelos e 27 mil itens em cada. Mas não para por aí. A parceria prevê itens exclusivos e limitados da loja brasileira, como acontece no exterior com as lojas Hot Topic, Target, Barnes & Noble, por exemplo. O primeiro item único da Piticas será lançado perto da estreia de “Vingadores: Ultimato”, quarto longa da franquia criada pela Marvel e o filme mais aguardado do ano. 

Piticas

Às camisetas e além!
A empresa criada pelos irmãos Felipe e Vinicius Rossetti em 2008 nasceu só com camisetas. Em pouco tempo, o projeto se especializou em estampas de cultura pop e conquistou grandes licenças, produzindo de 17 a 19 mil peças por dia. Mas nem só de roupas se faz um “destino geek”, como Felipe define a Piticas. Em 2017 o negócio passou a diversificar sua oferta de produtos e dá um novo passo com a Funko.

Com e-commerce, 288 quiosques e 42 lojas (e mais uma a ser inaugurada em fevereiro na Paulista, em São Paulo) a empresa vendeu cerca de 2,4 milhões de peças de vestuário em 2018 (média de 6570 camisetas/dia), com faturamento estimado em 140 milhões. E a tendência é crescer. A seguir, o empreendedor e sócio-fundador Felipe explica a parceria com a Funko, o que ela significa para o mercado de colecionáveis no país e para o futuro. 

Divulgação

EVOLUÇÃO
Até 2016 a empresa era focada em camisetas, que sempre foi e será nosso carro-chefe. De 2017 para 2018 começamos a diversificar nosso mix de produtos e entrar em outros nichos. Sempre fomos consolidados no vestuário, mas em 2017 sentimos que existia uma demanda reprimida por outros tipos de produtos, incluindo colecionáveis. Temos uma fábrica que produz toda parte de vestuário e não terceirizamos nada disso. Mas não queríamos entrar na produção de outras coisas para não perder o foco. Começamos a buscar parceiros que eram líderes de mercado para fornecer esses produtos. Em função da expansão focamos em quiosque, mas em 2018 decidimos abrir lojas. Começamos com seis e terminamos o ano com 42 lojas e 288 quiosques. Há uma tendência muito forte da Piticas virar loja, mas vão existir os dois. E por já termos esse público geek, existe uma aceitação muito grande para agregar novos produtos. As coisas combinam e fazem sentido. Os consumidores vão começar a enxergar essa migração, e aí que entram itens como os da Funko.

ACORDO
Fui para a Nova York conversar com os diretores da Funko, explicar que tínhamos uma rede e o feature perfeito – pesquisas dentro das lojas mostravam os produtos da empresa como o item mais pedido. A Funko tem fábricas em seis países diferentes. Para trazer para o Brasil pega do Centro de Distribuição na Califórnia ou importa de cada país. A diferença é que a Piticas já tem essas lojas, não precisa criar um mercado para vender Funko. Eles perceberam que fazia todo sentido, não tinha ninguém no Brasil que fazia isso de forma eficaz e oficial. Se você olhar para o mercado, 80% dos pops são ilegais, chegam pelo Paraguai, sem certificação. A Funko é uma empresa gigantesca nesse mundo de colecionáveis. E não ter no país como o Brasil, que tem um forte setor geek, para eles era uma vergonha. Falamos que faríamos tudo certinho, com Inmetro e todas as certificações. A responsabilidade é minha como franqueadora ter tudo isso. Fechamos a parceria.

COMEÇO
Pegamos uma primeira leva com 80 modelos, 27 mil pops, que já estão nas lojas e vendendo muito, e uma segunda leva de 80 modelos, também com 27 mil pops. E agora entra uma segunda fase, que inclui Funkos exclusivos Piticas. Eles devem chegar no começo de fevereiro para entrar em março nas lojas. Tem um Thanos exclusivo chegando no timing do filme em abril. São produtos limitados, uma produção exclusiva com selinho da Piticas. Sei que muitos consumidores não ligam, mas nosso lance é ter variedade, não ter somente o que encontra em qualquer lugar. Além dos exclusivos. Temos a programação deles do ano inteiro. Precisamos estar à frente do que está acontecendo para antecipar e ter o produto na loja na hora certa. Tem coisas que entram e saem do hype em meses. Eles estão nos ajudando bastante com isso. Sobre ter exclusivos de outras lojas, tem contratos que não permitem e outros que sim. Foi oferecido agora mais alguns exclusivos de uma rede que nos autorizaram a vender na América do Sul porque não conflitam. Entramos nesse mercado e estamos entendendo.

OFICIALIDADE
A Funko está muito feliz em ter alguém oficial no Brasil. É muito complicado fazer isso com pequenos distribuidores no país. De forma oficial, a conta não fecha para vender a R$70. Não é realístico. E a Funko não quer isso. Além de vendas, eles priorizam a marca. Como está sendo trabalhada a marca no país? Eles querem os produtos em lojas padronizadas, que consigam fazer de forma bem sinalizada. Estamos até revendo nosso projeto de loja para ter um corner para Funko, tudo bem desenhado. O Brasil é um mercado forte, mas precisa saber trabalhar isso. Eu não consigo, como Piticas, ir atrás de distribuidores que fazem da forma errada, não detenho a marca. A gente sinaliza para a Funko e eles tomam as ações que acham pertinentes. Não queremos monopolizar o mercado, nem temos força para isso, mas queremos fazer da forma correta. Outros distribuidores estão enxergando que o mercado está fechando para eles. E alguns já vieram falar com a gente: “vocês vão trazer mesmo?”, “a gente pode comprar de vocês?”. Existe uma procura gigantesca nesse sentido, de outros players querendo comprar da gente. O que não acho impossível. Quero ter produtos exclusivos que só é possível encontrar na Piticas. E outros produtos que são mais gerais não vejo problemas de vender para fora. Temos que traçar a estratégia antes de apertar o gatilho.

CONCORRÊNCIA
Essas lojas [de móveis, eletrodomésticos, brinquedos…] têm feature com o mercado geek? Não é um destino geek. Eles vendem por impulso, a pessoa está passando, vê e compra. Nós temos esse público nas nossas lojas. Acho que padronizar o mercado é saudável para todo mundo. Temos potencial e desejo de ser distribuidores oficiais e únicos no Brasil. Esse é o nosso objetivo. Além de vender nas nossas lojas, queremos fornecer para o mercado. Não sei quando isso vai acontecer. Precisamos entender como o mercado está reagindo. A tendência natural do mercado é entender quem está fazendo de forma oficial e vir atrás, enxugando esse mercado.

PREÇOS
Junto com a Funko desenvolvemos uma tabela de preços, que seja sustentável. de R$ 99 a R$ 129, em média. Devem existir as promoções, de R$ 89, R$ 79, por exemplo, e os exclusivos que são mais caros. Mas vender Funko a R$ 70 não é realístico. A partir de R$99 é um valor razoável por estar fazendo a coisa da forma correta. É muito o que aconteceu com as camisetas da Piticas, que vão de R$ 49 a R$ 69 em média. Existe camiseta a R$ 30? Sim, mas não tem controle de qualidade, variedade de estampas, licença por trás. Nesse nosso nicho de mercado o fã preza pelo oficial, pelo licenciado. Ter a segurança de comprar algo oficial e de forma correta, ir até uma loja, escolher, pegar no produto, isso tudo agrega valor ao produto. Os R$ 10 a mais valem a pena pela facilidade e confiança no que entrego.

2019
Fizemos um lançamento dessa parceria em dezembro, pelo Instagram, com um post. A Funko oficial vai entrar com um post anunciando. E em abril, quando tiverem os nossos exclusivos, vamos fazer uma campanha mais robusta, com PDV, social media e assessoria de imprensa. Quisemos sentir como funcionaria o mercado antes de entrar com a promoção. Em fevereiro abre uma loja da Piticas na Paulista. E no fim do ano tem a CCXP, que é o momento do ano que a gente mais espera, o contato direto com nosso consumidor-chave.

ORIGEM
A Piticas começou comigo e meu irmão, e R$5 mil. Compramos uma primeira leva de cerca de 140 camisetas na Galeria do Rock, de sátiras e coisas engraçadas. E aí aconteceu aquelas coisas meio de Deus. Uma pessoa em um shopping gostou do nosso projeto, emprestou uma loja por seis meses. Só pagávamos condomínio. Eu mesmo pintei e reformei. As camisetas venderam em menos de uma semana. O que começou com 140 virou 300 camisetas. Hoje vendemos quase dois milhões de camisetas por ano. Em 2018 foram quase 2,4 milhões de peças. Estamos fechando, mas devemos ficar próximo de 140 milhões de faturamento em 2018. Cerca de sete anos de empresa formada. Foi muito rápido, a gente até assusta. Estamos aprendendo muito, na raça. Pretendemos ir muito mais longe, é só o começo.