Entrando em dezembro, chega o momento de fechar planos e budget para o próximo ano. Nós, brasileiros, já estamos acostumados a planejar no meio de incertezas, mas vamos combinar que este ano está bem mais difícil.
Por um lado, temos uma perspectiva de muita turbulência sociopolítica por conta das eleições do ano que vem. E, junto com essa turbulência, vêm os solavancos econômicos: inflação alta, juros em ascensão, câmbio pressionado, desemprego e instabilidade geral.
Por outro lado, porém, há a distensão pós-pandemia, com a perspectiva de finalmente termos liberdade para atuar livremente, sem as restrições impostas pelo período mais agudo da Covid-19. Isso já é sensível em 2021 no mercado de eventos, por exemplo.
O último bimestre do ano está sendo marcado por um grande aquecimento de negócios, com a retomada de eventos de todos os portes. O GP São Paulo de Fórmula 1 foi um exemplo. Ver as arquibancadas cheias outra vez foi animador (a propósito, veja meu artigo sobre a F-1).
Também é muito bom ver os estádios cheios novamente. Isso tudo dá uma sensação de que os negócios na área de live marketing têm tudo para voltarem turbinados em 2022. Três toques na madeira.
A dificuldade, portanto, está em imaginar os pesos dessa balança. Até quanto a turbulência sociopolítica-econômica poderá pesar e neutralizar o aquecimento dos negócios numa área que, depois de um represamento de quase dois anos, vive uma quase euforia com os jobs voltando?
Bares, restaurantes, entretenimento presencial e comércio em geral também vivem o bom momento de liberação total das suas atividades, depois de um perrengue enorme.
Tudo pode estar justificado pela vontade das pessoas de voltarem às atividades presenciais, de saírem de casa e interagirem com amigos, sem as limitações de antes. Mas e quando tudo se acomodar?
As pessoas precisam de dinheiro para sair, se divertir, consumir. Se a conjuntura econômica pesar demais, como fica? E a questão do home office. Vai continuar? Fala-se que o sistema híbrido deve prevalecer. Qual o impacto disso na movimentação econômica? O que acontecerá com todos aqueles restaurantes que dependiam de escritórios cheios para atender os trabalhadores na hora do almoço? Muitas questões a serem resolvidas.
E tem ainda o recrudescimento da pandemia, que volta a mostrar suas garras com a tal variante Ômicron. E se tiver uma nova onda em todo o mundo? Argh! Sai pra lá com esse pensamento! Mas planejar é preciso. Nem que seja para ter plano A, plano B, plano Z…
Independentemente das ameaças externas, temos de fazer toda a análise SWOT, identificando não só as ameaças, forças e fraquezas, mas também as oportunidades. Para isso, é preciso cuidar de outra variável que não pode faltar nos planos anuais, que é a vertente da inovação.
Toda e qualquer empresa tem de dedicar uma atenção a processos inovadores, sob risco de ficar para trás. Ou seja, além de cuidar do que já está consolidado – o que não é pouco –, é preciso prever tempo e recursos para prospecção de caminhos disruptivos. Houve um tempo em que eu, trabalhando em multinacional, tinha de fazer planos quinquenais.
Hoje, os planos anuais devem prever revisões trimestrais, mensais ou sem tempo preestabelecido. Uma empresa competitiva tem de pensar e agir como uma startup, pronta para pivotar, pivotar e pivotar outra vez.
Reforço a figura de linguagem que já usei outras vezes neste espaço: é preciso surfar com duas pranchas, uma já conhecida e acostumada às ondas existentes, e outra diferente, mais ágil, preparada para surfar ondas irregulares e imprevisíveis.
Tudo isso, na teoria, é plenamente aceitável e justificável, mas, na prática, é um processo de enlouquecer gestores. Pois bem, encha-se de coragem e ataque seu planejamento. Se não der certo, vá para o plano B, plano C…
Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)