Norma Jeane Mortenson nasceu no dia 1º de junho de 1926, em Los Angeles. Depois de viver em lares como filha adotiva e em um orfanato, casou-se pela primeira vez com 16 anos. Algumas tentativas fracassadas no cinema, sem dinheiro, concordou em posar nua no dia 27 de maio de 1949, para o fotógrafo Tom Kelley. Em uma sessão de duas horas tirou 24 fotos e ganhou 50 dólares. Doze delas decoraram os meses de um calendário que invadiu o país… Em 1953, Hugh Hefner era o responsável pela circulação da revista Children’s Activities. Recém-chegado do Exército, ainda guardava algumas revistas com “pin-ups” que faziam megassucesso entre os recrutas. Mas, careciam de conteúdo de qualidade. Decidiu somar mulher bonita e pelada com entrevistas e matérias emblemáticas e foi atrás de dinheiro.

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Dando como garantia os móveis de seu apartamento, levantou US$ 8 mil. Lembrou-se das fotos do calendário e comprou os direitos por 500 dólares. Dentre diferentes nomes para a publicação decidiu-se por Playboy – na época, marca de carros e designação de homens com determinado estilo de vida. Pediu para seu amigo Arthur Paul criar um pequeno mascote que traduzisse o espírito da publicação. Nasceu um coelho. Em novembro de 1953, 69 mil exemplares de Playboy com a ex- Norma Jeane Mortenson rebatizada Marilyn Monroe chegam às bancas. Tudo o mais é história…

Em 1975, a Editora Abril compra os direitos da revista, mas tem de ceder ao governo militar e a rebatiza como Revista do Homem. Em 1978, retoma a denominação original, Playboy. Em 2015, diante da crise das plataformas analógicas, muito especialmente as revistas, a Abril desiste da Playboy… Mas durante 40 anos marcou época em nosso país. Mal sabia e muito menos imaginava que quando completou 20 anos nascia uma rede que abreviaria seus dias e tornaria irrelevantes as peladonas do editorial. Uma tal de www…

A primeira edição da Playboy brasileira chegou às bancas em agosto de 1975. Vinte anos depois, entre 1995 e 2000, batia recorde atrás de recorde de tiragem e circulação. Muitas edições superavam a tiragem de 1 milhão de exemplares e sabe-se Deus – ou o diabo – os números de circulação. Alguns números passaram por mais de 30 “leitores”. E, dentre esses, recordistas com Joana Prado (Feiticeira), Suzana Alves (Tiazinha), dançarinas do Tchan, Adriane Galisteu e, ainda, Maitê Proença na Sicília e Vera Fischer em Paris. Clics de Bob Wolfenson.

Veio a crise. A tiragem despencou ladeira abaixo. Às vezes mal chegavam a 80 mil exemplares. De modelos que ganharam o equivalente a um bom apartamento em dinheiro – mais de R$ 1 milhão – a modelos que conformaram-se com R$ 20 mil ou R$ 30 mil. Foram prejuízos e mais prejuízos. A Abril jogou a toalha. Em abril, uma nova editora, do Paraná, tenta ressuscitar a Playboy. Para aparecer na capa e no miolo da revista, Luana Piovani aceitou receber seu cachê de estimados 500 mil reais fazendo propaganda para eventuais anunciantes da revista no ensaio fotográfico.

Probabilidade de Playboy sobreviver? 1%. Não obstante o entusiasmo dos novos parceiros da revista no Brasil – PBB Entertainment –, os tempos são outros. E da mesma forma que Victor Hugo estava coberto de razão quando disse, e Tom Peters se apoderou da frase, “Nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”, o inverso é rigorosamente verdadeiro: Nada mais débil do que ideia cujo tempo se foi. Pessoas não compram produtos. Compram os serviços que os produtos prestam. E os serviços prestados por Playboy há muito perderam a relevância para seus leitores veteranos e supostamente saudosos do passado; e não dizem absolutamente nada para os X, Y, Z… “Playboy? WTH! WTF!”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing