A crise financeira global de 2008, somada a outra crise – da dívida pública da zona do Euro –, acertou em cheio a economia de Portugal. Empresas decretaram falência, aumento no número de desempregos e de desigualdade. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a economia ia muito bem, obrigado.

Em 2010, por exemplo, o Brasil registrou um crescimento de 7,5% na economia em comparação com o ano anterior. De acordo com o IBGE, à época, o ritmo de expansão do país só perdia para China e Índia, e superava países como Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos.

Andreia Tavares fala do dinamismo da indústria brasileira (Fotos: Divulgação)

Essa diferença de realidade foi o motivo pelo qual Andreia Tavares, formada em comunicação social e cultural, decidiu fazer as malas e desembarcar no Brasil. “Eu vim porque em 2010 a crise europeia estava no seu momento mais preocupante, e o Brasil parecia promissor não só na propaganda como em outras áreas nas quais trabalhei nos meus primeiros quatro anos de país novo”, conta.

E uma dessas áreas foi o jornalismo voltado para o universo da moda – Andreia escreveu para o Portal FFW e para a revista Nova, da Editora Abril. Ela ainda atuaria como atendimento na Narita Design antes de ingressar no time da VMLY&R & Red Fuse, onde ocupa atualmente a cadeira de head of strategy.

A executiva conta que, além do Carnaval, o dinamismo da indústria e a rapidez em que os profissionais brasileiros abraçam novas ferramentas e tecnologias foram os pontos que mais despertaram sua atenção.

“O Brasil é um dos países do mundo que mais crescem em social media e em novas mídias no geral. É uma velocidade de inovação muito difícil de encontrar na Europa”, ressalta a profissional, que também atuou por cinco anos na Ogilvy Portugal.

Shyn, diretor na Cheil Latam: oportunidades diferentes

A americana Amy Golembeski, diretora de arte da FCB Health Brasil, veio para o Brasil em 2013, depois de conhecer aquele que seria seu futuro marido em Nova York. Pouco tempo depois, ela conta, visitou o país para passar um mês, e decidiu ficar. “Foi quando eu descobri a publicidade como uma oportunidade de trabalhar com arte aqui em São Paulo”, conta a diretora de arte da FCB Health.

E a criatividade teve um peso e tanto para Amy. “Gosto muito da tenacidade e da coragem das pessoas de ir atrás de ideias arriscadas, que podem realmente mudar o jeito que a sociedade pensa. As pessoas brasileiras são muito criativas, sinto que aprendo um outro tipo de criatividade aqui”, diz.

Levantamento mais recente feito pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgado no ano passado, mostrou que o número de estrangeiros empregados no país quase triplicou. Os dados mostram que 147,7 mil pessoas vindas de outros países estavam com carteira assinada no país em 2019, um ano antes do início da pandemia – em 2010, esse número era de 55,1 mil estrangeiros.

Entre eles está o coreano Daniel Shyn, que chegou ao país em 2014 para ser especialista regional da Samsung, por meio de um programa realizado pela empresa. Shyn conta que, todos os anos, em torno de 300 especialistas da Samsung são enviados para diversos países, com o objetivo de entender melhor a cultura e os hábitos do povo, entre outros.

“Quando fiquei em São Paulo e no Rio de Janeiro, duas grandes cidades do Brasil, aprendi que existem tantas formas de viver, que não existe uma resposta correta na vida. A partir daí, eu quis muito trabalhar no Brasil e conviver com os brasileiros”, relembra.

Agustina trabalhava na Renault Argentina

Atualmente, Shyn é diretor de varejo e consumer experience da Cheil Latam. Em relação ao mercado brasileiro, ele confessa que, um dos principais benefícios, são as oportunidades de conhecer novas realidades dentro da própria empresa.

“Um dos benefícios mais legais de trabalhar em uma agência é que, entre três e cinco anos, em média, você é designado para uma equipe diferente, com contas diferentes e sente que acabou de mudar de empresa”, diz. “Acredito que é por isso que meu espectro de experiência com clientes é muito amplo: telecomunicações, farmacêutica, alimentos e bebidas, produtos domésticos, startups de biotecnologia, imóveis, móveis e eletrônicos”, completa.

Diretor da Fenapro (Federação Nacional Agências Propaganda) e presidente da Sinapro-RS (Sindicato das Agências de Propaganda), Fernando Silveira concorda com Shyn sobre o modelo de negócio brasileiro.

“É um mercado que se organizou para regulamentar e estabelecer regras positivas para a condução do trabalho de publicidade e propaganda, comunicação e marketing, a partir de entidades autorreguladoras, como o CENP”, afirma. Outro fato, na opinião dele, é a presença de companhias multinacionais do país, o que facilita a vinda de estrangeiros para o Brasil. “Além disso, o Brasil é um país interessante, curioso, diversificado e muito criativo”.

A Covid-19 mudou os planos de muita gente e, em alguns casos, foi para melhor. A argentina Agustina Torres, coordenadora de CRM da Jüssi, que o diga. Ela desembarcou no Brasil em fevereiro deste ano, depois de experiências em marketing na Group Renault Argentina.

“A situação da Argentina com a pandemia estava difícil. Eu já não tinha a certeza econômica que eu gostaria, além de as projeções não eram encorajadoras”, fala.

Amy, dos Estados Unidos para a FCB Health Brasil

Agustina também conta que trabalhar em outros países sempre foi uma de suas metas. “Eu sempre quis ter uma experiência profissional em um outro país, conhecer novas culturas e pessoas. Eu também já estava há um tempo na empresa anterior, então eu precisava de uma mudança, novos desafios”, afirmou.

ECONOMIA
Ao contrário de 2010, quando a economia brasileira estava em alta, atualmente, o cenário é diferente. Em 2020,  o país fechou o ano com uma queda de 4,1% em relação a 2019.

Daniel Shyn concorda em relação à instabilidade econômica do país. “É verdade que a flutuação instável da taxa de câmbio não é das melhores, mas nunca pensei em sair do Brasil”, garante. “Eu amo história e uma lição aprendida com a história do Brasil é que este país tem se transformado de uma maneira cada vez melhor, aos poucos, mas de forma constante. Eu acredito no Brasil”, completa.

Já a americana Amy confessa que a questão econômica pesa um pouco, principalmente com a grande desvalorização do real frente ao dólar, atualmente. “Toda vez que volto para visitar, o dinheiro que eu ganho vale menos, e isso, sim, me faz questionar se vale a pena ficar. Mas, sempre decido que sim, pois realmente amo o Brasil, é um amor que nem consigo explicar”, finaliza.