Depois de participar do maior festival de criatividade do mundo, a gente volta e fica ainda por um bom tempo digerindo tudo o que ocorreu por lá. O que foi mais importante afinal? Acompanhar in loco as premiações? Assistir às palestras, participar de fóruns e workshops? Fazer networking e contatos profissionais? Ver e ser visto? Colocar no currículo que você participou do festival? Curtir o verão na Riviera Francesa?

É caro participar do Cannes Lions Festival, principalmente com o euro a mais de R$ 3. Cabe, portanto, o questionamento: “Por que, afinal, vamos a Cannes”? Eu estive em Cannes pela primeira vez há exatos 19 anos. Fui um dos felizardos escolhidos pela DPZ, que queria mandar profissionais do atendimento para lá, “para entender e saber vender qualidade criativa”.

Na época, só iam criativos. Daí nós, do atendimento, nos sentirmos privilegiados. Existia muito pouco conteúdo paralelo. O grande lance era ficar horas no Palais assistindo a um rolo interminável de comerciais.

No escurinho do Debussy dava pra ver um monte de gente cochilando, abatida pelo fuso horário e pelo excesso de comerciais a serem conferidos.

De vez em quando pintavam aplausos e todo mundo acordava. Mas também surgiam vaias. Depois dessas sessões, dávamos uma passada pelos trabalhos finalistas de Press&Poster, expostos pelos salões do Palais, e participávamos das rodinhas, tentando adivinhar quem seriam os campeões.

O Brasil já mandava muito bem naquele tempo e nós voltamos inchados de orgulho e nos sentindo os reis da cocada preta por termos participado.

Até porque, sem internet, éramos os portadores das novidades pós-Cannes. Coincidentemente, outro felizardo, meu companheiro de viagem daquela época, Glaucio Binder, estava de volta ao festival esse ano. E foi dele a pergunta que intitula este artigo.

A questão é pertinente porque todos sabemos que o conteúdo apresentado em Cannes é acessível por outros meios, por mais que seja muito bacana estar lá, ao vivo.

Hoje em dia, a intensa cobertura do festival, feita brilhantemente pelo PROPMARK e por outros veículos, nos permitiria acompanhar a distância, em tempo real, apesar das cinco horas de diferença.

É possível conhecermos os ganhadores, de cada categoria, no momento exato em que são divulgados os resultados. Tudo isso sem sair do Brasil, sem gastar uma bela grana. Então por que vamos? Bem, eu sempre estive lá com propósitos bem definidos.

Já coordenei dois workshops (2008 e 2010), pela Ampro, quando era um dos seus VPs, e sempre me propus a fazer uma cobertura pessoal, que divido na volta com colegas e as instituições das quais participo. Este ano, fui representando a Fenapro, da qual sou diretor, e com uma missão dada pelo parceiro Estadão para montar uma apresentação pós-Cannes que será objeto de um road show pelo Brasil.

Mas, e quem não tem uma atividade predefinida no festival e vai mesmo só para participar como delegate? Vale lembrar que, somente este ano, foram mais de 12 mil que pagaram uma grana para estar lá, além da passagem e da estadia, tudo a preço de euro nas alturas.

Pois bem, eu acho que o principal benefício de estar lá é o efeito da imersão à qual nos submetemos ao longo de uma semana em que apenas se fala, se vê, se ouve, se transpira criatividade e inovação voltada à comunicação.

Mesmo quem não assiste aos seminários e fóruns, não comparece às cerimônias de premiação ou outras atividades do festival, está imerso num ambiente único e rico, impossível de ser vivenciado a distância.

É um processo osmótico, que nos deixa impregnados de manifestações criativas que nos marcarão por todo um ano, até que voltemos lá para reciclagem. É tenso! É até angustiante – pela imensidão de opções existentes.

Mas vale cada centavo de euro!