Experiente em júris de festivais, Sergio Gordilho, copresidente e CCO da Africa, ressalta a importância da nova missão, agora como jurado de Creative E-commerce: “Você não está ali para dar prêmios e sim para ser um curador do que de mais criativo foi produzido no ano, o responsável pela foto que vai retratar o melhor da indústria”. Por isso, para ele, o critério é simples: “acredite no que acredita, defenda sua crença e seja honesto com seus valores”.

Segundo o criativo, os trabalhos não devem ser vistos como pré e pós-pandêmicos, porque a pandemia continua e as ideias são reflexo das necessidades da sociedade e da busca das marcas em encontrar soluções criativas. “O que pode se colocar na conta é uma questão de produção. E só. Porque fomos afetados nesse ponto devido a restrições sanitárias. E isso conta.”

CATEGORIA
Acredito que Creative E-commerce se tornou a categoria mais importante e relevante em Cannes neste ano. O momento acelerou a transformação da maneira de nos relacionarmos com o ato da compra. Comércio virou digital, smartphones se tornaram os showrooms e deixamos de apenas ir às compras, mas sim estar sempre comprando. Entramos em uma era movida não mais pelo comércio, mas pelo “comércio criativo”, onde as marcas passaram a precisar cada vez mais de soluções inovadoras, desde a aquisição até a fidelidade pós-compra. O que antes era chamado de ‘transação’, passou a ser uma relação. E isso mudou o jogo.

CRITÉRIO DE DESEMPATE
Toda e qualquer ideia passa por no mínimo quatro cortes: o long longlist, o longlist, o shortlist e o short shortlist. Segundo Cannes, apenas 3% das ideias são premiadas. Muito pouco. E muitas vezes injusto com alguns trabalhos. Sorte, resiliência e fama prévia podem fazer a diferença. Por isso quem chega à final já é um vencedor. Para desempate, uso como critério o posicionamento da marca, a relevância da ideia com a marca, o craft, seu resultado e quem saiu primeiro.

Gordilho: “nossa indústria não podia ficar dois anos sem Cannes, sem a referência que estabelece tendências e inspira gerações”

PRESIDENTE DE JÚRI
A Tiffany [Tiffany Rolfe, CCO da R/GA] é uma referência. Ela tem essa combinação de realmente juntar a criatividade e a tecnologia. É muito difícil um presidente atuar a distância por dois fatores: quando vamos para Cannes, nós ficamos concentrados e fechados em uma sala durante muitas horas. Cada um avaliar e julgar da própria casa ou escritório, em países e fusos diferentes, torna isso muito complicado. E isso vem, de certa maneira, prejudicando muito os resultados em todos os festivais. E em Cannes não vai ser diferente, porque você tem menos oportunidades de discussão. A quantidade de horas que vamos julgar e discutir também é menor. Mas a Tiffany está com uma posição extremamente atuante.

CONTEXTO
Vivemos dois anos em um. Passamos pelas mesmas coisas. A diferença é que agora estamos mais acostumados ao momento. Juntar dois anos de festival foi uma opção que aumenta a quantidade de cases e isso é uma coisa complicada. Mas a nossa indústria não podia ficar dois anos sem Cannes, sem a referência que estabelece tendências e inspira gerações.

NETWORKING
Não está acontecendo, infelizmente. Quando você está junto, olho no olho, isso cria uma confiança. E a partir da confiança você se sente à vontade para discutir e conversar. Como as reuniões estão sendo remotas, temos pouco acesso ao “um a um”. E isso difere e altera toda a dinâmica de um júri. Fui presidente do júri do D&AD e de outros festivais neste ano e posso dizer que isso altera e faz cair a questão das relações, nas discussões e nas opiniões. Acho que tudo isso depende muito da confiança e da relação, então o voto está sendo um pouco mais mecânico.