A conta não fecha. Infelizmente a máxima tem sido recorrente entre as produtoras brasileiras de audiovisual, com cerca de 80% do faturamento, de mais de R$ 6 bilhões, oriundos dos filmes publicitários, as empresas têm sofrido com os longos prazos de pagamentos praticados no mercado, se tem notícia de pedidos de até 200 dias à remuneração. Durante uma produção, elas atuam na organização de processos; na coordenação de profissionais, fornecedores; com grande quantidade de desembolsos imediatos. Segundo Leyla Fernandes, produtora-executiva da Honey Bunny, 30% do orçamento da peça já sai numa semana, que são os pagamentos à vista, 50% entre 20 e 30 dias depois do start do filme, e somente o restante é que se consegue negociar. Por isso, ajustar prazos mais céleres junto aos contratantes tornou-se ponto crucial à saúde financeira das produtoras e foco da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais) que, em abril, anunciou seu reposicionamento com novo Código de Conduta, composto por um conjunto de regras de compliance, na busca da manutenção de boas práticas no mercado audiovisual. O documento consolidou normas mais rígidas, que incluem uma atuação mais contundente contra produtoras que pratiquem a política de pagamento do BV de produção, por exemplo. “Uma medida positiva no mercado são as agências de propaganda que estão investido em manuais de compliance. Empresas que passam a seguir estas regras são mais valorizadas. O que queremos é justamente isso, que nossas associadas tenham um nível de qualificação, respeitadas não só pelas suas entregas, mas por serem éticas, com relações comerciais saudáveis”, diz Paulo Schmidt, presidente da Apro e sócio-diretor da Academia de Filmes.
Em meio a discussões importantes para o setor, em novembro a entidade realiza o 4º Fórum de Produção (o primeiro ocorreu em 1996), iniciado em março, período de debate das melhores práticas para consolidar as demandas das produtoras. A ideia é que os Fóruns aconteçam com uma periodicidade menor. “Porque se não há uma renovação, as normas vão se perdendo. É preciso ser atuante”, explica Schmidt. Mais uma vez, serão abordados novos modelos de contratos referenciais, incluindo assuntos que retratam a nova realidade da produção publicitária, como branded content. O evento terá ainda novo formato, com espaço para palestras e mesas de trabalhos com temas mais abrangentes e pertinentes. Entre as pautas selecionadas, está o ajuste dos prazos de pagamento (especificamente para filmes publicitários), com a intenção de que todos os atores envolvidos no processo (produtoras, agências, clientes, profissionais e fornecedores) possam discutir e chegar a soluções que ajudem a viabilizar, de uma forma mais equilibrada, os filmes publicitários. Atualmente os prazos de pagamentos é o que mais tem prejudicado a indústria audiovisual.
“Quando se fala de formas de pagamento, tem a ver com a necessidade das empresas em otimizar processos e gerar resultados econômicos, mas passa pelas relações comerciais. Porque quando se estende o prazo e não há reação, isso vai aumentando. Há cinco anos quando fizemos a última edição do Fórum, repactuamos a questão dos prazos de pagamentos”, diz Schmidt. A crise econômica que tem assolado o mercado vem desde 2014 servindo de justificativa para grandes anunciantes pressionarem por prazos nocivos às produtoras, elo mais frágil da indústria da propaganda. Elas detêm 5% do volume movimentado em compra de mídia de mais de R$ 130 bilhões, valor de 2015, segundo a Kantar Ibope Media (valor considerando tabela cheia, sem descontos). “A pressão é do gigante. Do volume da verba publicitária a produção não representa meio porcento. Somos a parte frágil, constituídos de pequenas e médias produtoras, temos poder se estivermos juntos. Não podemos estabelecer regras comerciais em bloco, por causa da livre concorrência. Nossa militância nesse sentindo é pelo convencimento, de que nosso negócio é extremamente relevante à comunicação dos grandes anunciantes. Se não houver um bom filme, de nada adiantará uma boa mídia”.
De acordo com Schmidt, a Apro está organizando reuniões com os grandes anunciantes para identificar o interlocutor dentro das companhias. “Aprofundamos estudos para demonstrar que não é por que não queremos aumentar os prazos, mas sim por que é impossível. Somos muito pequenos para financiar grandes marcas, também não conseguimos transferir essas negociações para os nossos fornecedores, que são ainda menores que nós. No nosso trabalho, em média 40% é de mão de obra, de talentos. Não dá para propor a um diretor de fotografia receber o salário daqui a 30 dias. São mais de 100 mil pessoas que trabalham no mercado audiovisual como freelancer. Além da questão humana, tem a legal para prazo de pagamento de mão de obra”.
Outra dificuldade encontrada pelas produtoras na questão dos prazos de pagamentos é que, em geral, os profissionais das mesas de compras não são de mar-
keting, muitas vezes desconhecem o processo de produção de um filme ou até mesmo a importância dele à comunicação da empresa. “Certa vez, numa produção para L’Oréal em Lençóis Maranhenses, levei cinco toneladas de equipamentos em dois caminhões saindo do Rio de Janeiro para fazer um filme de 30 segundos. É difícil imaginar tudo isso. Creio que falta compreensão, as pessoas são colocadas para comprar e pior ainda, são remuneradas pelo que conseguem de menor preço, maior qualidade e prazo de pagamento”, explica Schmidt. Nas últimas décadas, com a globalização e as agências multinacionais, a influência internacional tem crescido em todas as áreas, compras, produção, etc. De um lado, isso corrobora para elevar a qualidade, mas perde-se autonomia, com mais pressão nas mesas de compras por custos e prazos de pagamentos. Diferente do que aconteceu com as agências de publicidade, as produtoras não foram compradas por grupos estrangeiros, o que ocorreu foram produtoras internacionais se instalarem no Brasil.
A previsão para este ano é que o mercado audiovisual tenha um decréscimo de 10%, com perspectiva de retomada de crescimento em 2017. A publicidade, carro-chefe da indústria audiovisual no país, permite a formação de técnicos e talentos. Dá espaço para experimentação, e é uma boa via de entrada para profissionais de audiovisual. “Porque é desafiada todos os dias para inovar e absorver novas tecnologias”, aponta Schmidt.
Prazos de pagamento
Razoáveis: esta é a reivindicação da Apro em relação aos prazos de pagamentos adotados por alguns anunciantes, de 90, 120, ou até passando de 200 dias. A entidade tem buscado apoio no mercado para reajustar esse cenário, com a Aba (Associação Brasileira dos Anunciantes), Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade) e agências. Isso porque as empresas do setor de produção não possuem linhas de crédito específicas para viabilizar o desconto de duplicatas, o que ajudaria a ter capital de giro para manter um número razoável de produções em casa. Sem essa possibilidade, as empresas podem fazer apenas uns poucos filmes por vez. Sem contar que as produtoras menores têm ainda mais dificuldades, já que não possuem estrutura financeira para suportar grandes desembolsos.
“Os pagamentos dos talentos na publicidade são curtos. Quando se tem prazo de pagamento de 120 dias, significa que a produtora tem que desembolsar quase que 100% do filme. O que é realmente impossível, como foi o debate do BV, hoje é essa nossa dificuldade, não temos estoques. Não há opção de fazer financiamento, é um mercado competitivo de fazer mais por menos”, argumenta Renata Brandão, diretora-presidente de negócios da Conspiração Filmes.
“Quando temos uma Associação com propriedade, conseguimos fazer disso um movimento para conscientização do meio. Nós produtoras, que estamos lá embaixo na cadeia, não temos recursos para financiar campanhas para os anunciantes. O que está acontecendo é que represamos todos os problemas em nós, da questão da dilatação dos prazos. Temos que levantar uma bandeira do coletivo que esteja bem estruturada para criarmos a argumentação de defesa, em que possamos dividir com os anunciantes. Se tivéssemos a ajuda das agências seria muito melhor”, diz Eduardo Tibiriçá, sócio-diretor da Bossa Nova. Nos últimos quatro anos, o executivo tem tido presença efetiva na atuação da Apro.
Outro conselheiro na luta por melhores práticas no mercado é Marcelo Altschuler, sócio-produtor-executivo da Saigon. Para ele, as agências de propaganda também estão mais fragilizadas neste momento. “O país está em crise e o bolo menor, está mais fácil as pessoas olharem para sua própria sobrevivência do que para o mercado como um todo, e é ruim porque isso vai passar, quanto mais fortes estivermos será melhor para todos. Porque não consigo acreditar que clientes do porte que temos acreditem que sufocando os fornecedores estarão fazendo um bom negócio, a médio e longo prazo é ruim para toda a cadeia”, diz Marcelo, que já deixou de fazer job por causa dos prazos impossíveis de se praticar. “O máximo que consegui foi 60 dias, o que já não é bom para nós. O ideal é 60% 15 dias após a aprovação do filme e o restante 15 dias após a entrega do filme”.
O executivo fala com propriedade de quem já trabalhou por 11 anos em agência, conhece os dois lados, as fragilidades. “Os clientes atualmente estão mais fortes e maiores”, ressalta. Segundo ele, também há profissionais de agência e produtoras indo trabalhar em mesas de compras dos anunciantes. “A situação delas também não é fácil. Estão buscando um bom senso, gente que entende, que já vendeu e agora está comprando, a experiência é válida”, conclui.
Outro a pedir bom senso é João Daniel Tikhomiroff, sócio-diretor da Mixer. “A livre negociação deve existir, porém, dentro de um limite possível e razoável. Evitar práticas nocivas ao mercado, pode ocorrer que alguns anunciantes desconheçam as negociações. É importante que saibam sobre as leis que temos que cumprir. A história mostra que problemas passados sempre foram solucionados pelo diálogo, por nossos Fóruns, encontros entre as entidades desta indústria”, diz.
Para o premiado diretor (com mais de 40 leões) é também tempo de mudanças, ele crê que grandes nomes da propaganda que deixaram a atividade estão num período sabático, reflexo da insatisfação com o modelo atual de negócios. “Estamos num momento de grande transformação na área da comunicação, alterações que serão feitas em curtíssimo prazo, tanto tecnológicas, como nas formas de comunicar. As produtoras se tornam mais próximas de agências e anunciantes”.
Bônus de Veiculação
“Considerando que o BV era uma coisa significativa, mas de certa maneira já conseguimos resolver, o movimento valeu, houve produtoras que se associaram por causa disso, como houve também o contrário, aquelas que se afugentaram para continuar com a prática”, conta Paulo Schmidt. Para Fernando Meirelles, sócio-diretor da O2 Filmes, a prática do BV foi uma pedra no sapato das produtoras por décadas. “Pessoalmente, sempre que sugeria resistir era convencido de que era impossível e que a opção seria sair do mercado. Quando a O2, junto com outras produtoras, apareceu numa matéria de jornal ligada à Lava-Jato por causa de um depósito de BV numa conta que nos foi passada, tive um chilique, foi a gota d’agua. Ali ficou claro para o mercado que as produtoras corriam riscos. Como estamos vivendo um momento em que o Brasil busca melhorar suas práticas, a maioria dos colegas entendeu que precisávamos dar a nossa contribuição ao país e a adesão foi imediata. Uns 5% ficaram fora, receosos de perder mercado, mas mesmo estes, ao verem que as agências estavam sensíveis à ideia do fim do BV, logo aderiram. Sim, é possível trabalhar direito. Mostramos isso em nosso setor”.
“Gostaria que esta mudança pudesse se estender para outras áreas, inclusive fora da publicidade. Sempre que encontro amigos que têm produtora de som pergunto se não farão o mesmo. O que dizem é que as produtoras de som não têm uma associação forte quanto a nossa, falta organização para poderem fazer isso. Uma atitude desta só funciona se houver respeito pelos colegas e se todos aderirem”, conta Meirelles.
Pensamento compartilhado por Fabio Brandão, diretor-executivo de publicidade da Conspiração Filmes, que por 20 anos foi criativo de agência. “A importância da Apro é nos fazer coirmãos em bandeiras importantes do setor, apesar de concorrentes entre nós. O mercado tem mudado muito e algumas práticas podem ser equivocadas. O fim do BV, por exemplo, foi uma conquista importante para as produtoras”, afirma.
Streaming
A Apro propõe que o modelo a ser adotado no mercado seja radicalmente diferente do implantado pelas empresas de strea-
ming e pela Rede Globo. Assim, como em muitos países e, em especial no Brasil pela proteção legal do direito de reprodução do produtor, as empresas de streaming, segundo a entidade, deveriam ser selecionadas, homologadas e contratadas pelas produtoras. Isso porque elas, no momento, realizam o trabalho de entrega que competiria às produtoras. A questão não diz respeito exclusivamente ao controle da qualidade e dos direitos envolvidos no filme publicitário, mas também ao volume de receita gerado para as produtoras, que já faz parte do modelo de negócio. De acordo com a Apro, não é adequado que a remuneração pertencente à produtora seja transferida às empresas de streaming, que estão atuando no mercado sem competência legal e à margem da legislação, que protege os produtores. “As multinacionais que operam nesse sentido, precisam trabalhar para as produtoras. Ocuparam espaço no mercado brasileiro e não estão se relacionando com as produtoras, mas com os veículos. Este é outro assunto importante na nossa pauta, pretendemos até novembro esgotar essa negociação junto com a Aba e com a Abap, para encontrarmos a melhor forma de operar”, enfatiza Schmidt.
Fórum de Produção
Há 20 anos a Apro realiza o Fórum de Produção (inicialmente Fórum de Produção Publicitária), que nasceu com o objetivo de trabalhar de forma efetiva e constante para a atualização e formalização das melhores práticas do mercado publicitário. A previsão é que a 4ª edição do evento aconteça em novembro, com a formação de três grupos de trabalho: Contas Públicas, Contas Privadas e Branded Content. Os grupos contam com representantes das produtoras da Apro, da Aprosom (Associação Brasileira dos Produtores Fonográficos Publicitários), jurídicos e convidados pontuais dos sindicatos de atores, técnicos, seguradoras e outros participantes do mercado. Entre os principais temas tratados até agora estão: contratos de elenco e produção; condições de pagamento; aplicação das novas regras de acessibilidade; direitos autorais; copiagens e streamings; proposta de documentação atualizada para os procedimentos de produção; definição e compreensão do conceito de branded content; avaliação das melhores práticas e procedimentos para prestação de serviços para contas públicas.
Internacional
“A tônica geral é a união das produtoras, vencida a miopia da concorrência”, define Francesco Civita, sócio-produtor-executivo da Pródigo Filmes e CEO da Iconoclast (produtora francesa que desembarcou no Brasil no ano passado). Posicionamento vital para boas práticas, para fomento e profissionalização do setor. “Essa união se restabeleceu de maneira mais contundente por causa do BV, percebemos que juntos conseguimos fazer o mercado melhor. O mesmo vale para o internacional, a FilmBrazil está num esforço de anos, mas os últimos três anos nos fortalecemos pelo entendimento de que não estamos nos vendendo individualmente para o mercado internacional, mas vendendo o país como opção. No momento que está vendendo algo que é bem maior, só conseguirá fazer se houver coletividade”, diz Civita. De acordo com ele, países que são opções internacionais concorrentes, como Argentina, África do Sul, têm o coletivo como um dos seus princípios e o Brasil ainda não tinha. “A chegada de produtoras internacionais sinaliza que é mais mundo e menos Brasil. É estratégico, não é só o dinheiro que vai faturar ou trazer, é relevante ao país: porque traz dólar, visibilidade, além da importância criativa, com roteiro maravilhoso, com outro tipo de projeção, vale à produtora e ao diretor. É um negócio que vem aumentando”. A desvalorização do real frente ao dólar deixa o Brasil com um atrativo a mais para produção internacional.
A FilmBrazil é a plataforma de promoção do audiovisual publicitário brasileiro no mercado internacional. Foi desenvolvida em 2003 pela Apro, dois anos depois ganha a parceria da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) para o atendimento de 51 produtoras nacionais. Tem como público-alvo produtoras de imagem, de áudio, de animação, de pós-produção e VFX. Já os mercados-alvo são: EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Japão. Entre os serviços exportados estão: Production Service (prestação de serviços de produção. Os clientes são as produtoras estrangeiras, que trazem seus diretores de cena, diretores de fotografia e eventualmente alguns técnicos); Full Service (prestação de serviços de produção, oferecendo diretores. Os clientes são as agências de publicidade); Loan-out de Diretores (prestação de serviços do Artista. A produtora recebe uma taxa pelo empréstimo do diretor brasileiro para produtoras internacionais); Produção / Sincronização de Trilhas (prestação de serviços de produção de filme publicitário, com áudio do filme).
Na FilmBrazil as ações de relacionamento são fundamentais. São elas: Projetos FilmBrazil Experience (Ex.: Copa do Mundo; Carnaval; Formula 1); South by Southwest, SXSW (Austin – EUA); Cannes Lions Festival (Cannes – França); Brazilian
Directors Showcase (LA, NY e Chicago – EUA); D&AD Festival (Londres – Reino Unido); Ciclope Festival Internacional (Berlin – Alemanha) e Ciclope Latino (Cidade do México – México). Há ainda ações de capacitação internacional: Incubadora de Projetos Internacionais (Brasil) e FilmBrazil Talks (Brasil).
Este ano, a FilmBrazil marcou sua passagem pelo Cannes Lions. Durante os oito dias do festival, o espaço de networking da plataforma foi praticamente transferido para os sets de filmagens montados por toda cidade, que deram origem aos 14 filmetes que integraram a campanha Film [me] Brazil,
assinada pela F/Nazca Saatchi & Saatchi e produzida pela própria equipe da FilmBrazil. Estiveram presentes 28 empresas que participam da plataforma. De acordo com dados fornecidos pelas produtoras que integram a FilmBrazil, a expectativa de negócios oriundos de Cannes para os próximos 12 meses é de US$ 12,5 milhões (ver na tabela abaixo).
Quatro meses antes de Cannes, o projeto apresentava a segunda edição de “Brazilian Directors Showcase”, um road-
show para promover o Brasil como polo de produção audiovisual. A ação aconteceu em Los Angeles (EUA), local que deve abrigar também a terceira edição em 2017. Durante dois dias, um grupo formado por diretores e produtores de nove produtoras brasileiras (Academia De Filmes, Barry Company, Clan Vfx, Hungry Man, Lobo, O2 Filmes, Prodigo Films, Trator e Zohar) expuseram seus trabalhos a potenciais clientes internacionais (agências e produtoras). Os participantes do roadshow também tiveram encontros com executivos da Disney, Fox, Paramount, Warner Bros, Sony e Universal. Estima-se que a edição 2016 do evento, movimente US$ 6 milhões, aproximadamente.
Branded Content
Para além da propaganda tradicional, em tempos de ampliação dos formatos de mídia e dos pontos de contato com o público, branded content e branded entertainment, negócio que representa em média 20% do faturamento das produtoras, também tem sido o foco de atuação da Apro. “O conteúdo de marca tem vindo com mais força, se mostra como a evolução da comunicação. O investimento é menor para as marcas. Acreditamos que é um caminho de transformação da propaganda. Dentro disso, a Associação também está se preparando, porque as produtoras são as mais capacitadas para absorver essa demanda, já fazemos conteúdo tradicional. Assim como criamos uma autorregulamentação para a publicidade nos Fóruns, precisamos criar para o branded content, ainda não temos um modelo de negócio: cobrança, valor, estrutura jurídica e padrão estabelecido”, explica o presidente da Apro.
As marcas estão mais voltadas à produção de conteúdo, como nunca antes, pelo investimento muito menor, se comparado com os valores de mídia e a opção de explorar novos formatos de relacionamento com a audiência. “As grandes emissoras deste país são as produtoras de conteúdo, diferente de qualquer outro país do mundo. Nos Estados Unidos, 80% do conteúdo é produzido de forma independente. A Ancine veio para abrir o mercado, que ainda é muito pequeno, não chega a 1%, mas a pequena cota (lei 12.485/2011) já ajudou a fomentar. Agora estamos falando de novas oportunidades com conteúdo de marca”, diz Schmidt.
Trata-se de novos interlocutores, na publicidade convencional, a relação das produtoras é muito maior com as agências, nesta nova operação será maior com os anunciantes. Outra configuração graças a este cenário, é a reestruturação da produtora em relação à criação. Ela não tinha criação e sim diretores que participam da criação dos filmes publicitários. “Teremos que ter uma atuação mais estratégica com planejamento e criação. Com isso, tem ocorrido uma migração natural de pessoas de agências para as produtoras. Conteúdo de marca é relevante para nós e teremos que mexer no modelo atual de negócios. Neste sentido, o projeto Objetiva (ver mais abaixo) vai ter papel fundamental, continua criando gestores, agora mais especificamente para conteúdo de marcas”, conclui Schmidt.
Para Francesco Civita, propaganda e conteúdo são mercados distintos. “Nos últimos cinco anos, esse mercado mudou muito, porque antes disso praticamente não existia produção independente no Brasil, isso veio com a Lei de cota de produção. A beleza não está na obrigatoriedade, mas na experimentação para depois gostar. Creio que o desafio atual é como fazer conteúdo e propaganda se falarem mais, o digital abre uma série de possibilidades, é uma corrida ao ouro. Não é conteúdo com viés de propaganda. O consumo desta geração é outro, não assistem televisão. No mundo audiovisual, a informação também precisa entreter. As agências têm papel fundamental neste processo, possuem a confiança, o posicionamento, o atendimento das marcas, poderiam funcionar como um polo receptor de conteúdo”, diz.
De acordo com Tibiriçá, conteúdo de marca é a grande oportunidade para dar relevância às produtoras. Um novo papel neste cenário de comunicação contemporâneo em que a produção de narrativas não seja apenas de 30 segundos. “Nós temos uma propriedade forte para compor com as agências e estar junto das marcas de maneira mais forte que como prestador de serviço no filme publicitário. O investimento em comunicação estratégica está se diluindo. Esta demanda tem sido represada pelo modelo de negócios no Brasil, em que a forma de remuneração das agências está embasada na cultura de compra de mídia. Com esse movimento do branded content, que nada mais é que a união destes territórios que caminhavam em paralelo, o universo do entretenimento — TV, cinema, conteúdo — seja ele digital ou em qualquer mídia que esteja sendo distribuído com a propaganda tradicional, nossa busca é na disruptura de formatos, é a história podendo ser contada em todos os meios”, enfatiza. O executivo crê que as produtoras precisam estar no processo de produção desde o início, “pensando no projeto de maneira mais holística, com o descumprimento de formatos pré-concebidos, contar a história em todos os canais”, diz e acrescenta: “Estamos quebrando o modelo verticalizado e segmentado, a história é e sempre será soberana, não podemos estar presos a pré-formatos, a audiência está em todos os meios”.
Objetiva
Num movimento setorial, com caráter inovador, a plataforma Objetiva é um programa criado para formação de gestores, para a melhoria da qualificação, voltada para as empresas produtoras de conteúdo, com ênfase em conteúdo de marca, associadas da Apro ou não, e seus profissionais. Promovida pela entidade, nasceu graças ao projeto “Objetiva Empreendedorismo em Foco”, lançado em 2013 em parceria com o Sebrae. A fase inicial teve duração de dois anos (Out/2013 – Out/2015) e contou com o apoio da ABPI-TV (Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão) e do Siaesp (Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo). Durante esse período, foram capacitadas cerca de 200 empresas em cinco cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Recife. “Para a segunda fase, a intenção é ampliar o alcance, já que entendemos a necessidade de estender essa oportunidade para mais empresas de outras localidades”, diz Leyla Fernandes, da Honey Bunny.
O programa se estruturou em cinco pilares: Capacitação, Gestão Empresarial/ Roteiro/Desenvolvimento de projetos, Legislação/Editais/Leis de Incentivo, Distribuição/Comercialização e Transmídia/Inovação. Os conteúdos aplicados resultaram no Guia Audiovisual, com informações e referências ao aprofundamento de temas importantes ligados à área e é composta por nove cadernos em formato impresso e digital. Inicialmente prevista para ter 30 páginas, a versão impressa chega ao mercado com 1,4 mil páginas.
“O projeto Objetiva começou na busca por conteúdo em Los Angeles, na tentativa de padronizar as regras e leis de mercado. Saímos pelo Brasil oferecendo cursos. São mais de duas mil produtoras de audiovisual no país, a nossa preocupação era de passar a base mínima de como funciona uma produtora. Tentamos cobrir o máximo possível do Brasil. As pessoas tinham sede de saber como trabalhar neste mercado. Uma das grandes conquistas do projeto foi chancelar a Apro como uma entidade atenta à capacitação do setor. Um projeto nacional com a chancela do Sebrae, para melhores práticas, por um mercado melhor. Negociável”, diz Leyla. De acordo com ela, são mais de 30 contratos por filme, o que explica a necessidade de padronizar. “Estamos conseguindo chancelas da Ancine nestes contratos, faltam em média cinco. Essas medidas são para facilitar a vida do produtor”.
A estrutura
O novo posicionamento da Apro também trouxe mudanças no conselho consultivo. Foram eliminadas as vice-presidências temáticas e, em seu lugar, empossado o conselho, formado por 15 titulares e 15 suplentes: Paulo Schmidt (Academia de Filmes), Eduardo Tibiriçá (Bossa Nova), Márcia Fabrício (Cia de Cinema), Raul Dória (Cine Cinematográfica), Renata Brandão (Conspiração Filmes), Mário Peixoto (Delicatessen/Your Mama), Leyla Fernandes (Honey Bunny), Alex Mehedff (Hungry Man), Julia Tavares (Killers), João Daniel Tikhomiroff (Mixer), Rejane Back Bicca (O2 Filmes), Egisto Betti (Paranoid), Francesco Civita (Prodigo Filmes), Marcelo Altschuler (Saigon) e Sergio Salles (Vetor Zero). Já os suplentes são, respectivamente: Taís Caetano (Academia de Filmes), Sandra Maria Othon Teixeira (Bossa Nova), Claudia Gutierrez Caldeira (Cine Cinematográfica), Fábio Brandão (Conspiração Filmes), Breno Castro (Honey Bunny), Renata Correa (Hungry Man), Norma dos Santos (Killers), Hugo Mattos Janeba (Mixer), José Renato Ordine (Paranoid), Chico Pedreira (Prodigo Filmes), Carol Pessini (Saigon), Alberto Lopes de Oliveira Júnior (Vetor Zero) e Mayra Auad (Your Mama). “Quando reassumi a presidência da Apro no ano passado, desejei maior participação dos produtores. Reorganizamos a Associação de acordo com seus focos de atuação: publicidade, conteúdo e mercado internacional. Mas todo mundo atuava em todas as áreas. A ideia então, foi colocar as produtoras que lideraram o movimento do BV para um conselho mais participativo, todos atuam em todas as áreas”, explica Schmidt, que assumiu a presidência da Apro, pela primeira vez em 2003, entidade sem fins lucrativos que, desde 1973, representa os interesses dos produtores de obras audiovisuais (publicitárias e de conteúdo). Participa ativamente do desenvolvimento deste mercado em defesa de interesses comuns. Está presente em discussões sobre novas leis, dissídios de categoria, propostas da autorregulamentação de mercado e mecanismos que facilitem e minimizem os custos de produção. Atualmente possui cerca de 80 associados (APRO Institucional).
Conselheiros
Alex Mehedff
Sócio-diretor da Hungry Man
Eduardo Tibiriçá
Sócio- produtor- executivo da Bossa Nova
Egisto Betti
Sócio – produtor- executivo da Paranoid
Fábio Brandão
Diretor executivo de publicidade da Conspiração Filmes
Fernando Meirelles
Sócio-diretor executivo
Francesco Civita
Sócio- produtor- executivo da Prodigo Filmes
João Daniel Tikhomiroff
Sócio-diretor- executivo da Mixer
Julia Tavares
Produtora executiva da Killers
Leyla Fernandes
Produtora-executiva da Honey Bunny
Marcelo Altschuler
Sócio-produtor-executivo da Saigon
Marcia Fabrício
Diretora financeira da Cia de Cinema
Mário Peixoto
Sócio-produtor-executivo da Delicatessen/Your Mama
Paulo Schmidt
Presidente da Apro e sócio-produtor-executivo da Academia de Filmes
Raul Dória
Sócio-produtor-executivo da Cine Cinematográfica
Rejane Back Bicca
Diretora de atendimento da
O2 Filmes
Renata Brandão
Diretora-presidente de negócios da Conspiração Filmes
Sergio Salles
Sócio-produtor-executivo da Vetor Zero
Produtoras associadas
511 Filmes
Aba Filmes
Academia de Filmes
Alice Filmes
Bando Studio
Barry Company/Fulano Filmes
Big Bonsai
Bossa Nova Films
Bravura
Casablanca
Cia de Cinema
CINE Cinematográfica
CineGroup
Cinemá Produções
Clan VFX
Conspiração Filmes
Consulado
Corazon
Cygnus Media
Delicatessen Digital
Delicatessen Filmes
Digital 21
Dinamo Filmes – Antares
Dogs Can Fly
Domo Produções
Fábrika Filmes
Fantástica Filmes
Fast Bastard/Movie&Art
Filmart Filmes/Mixer
Fulano Filmes
Geral Filmes
Gos Filmes
Hogarth Produção
Honey Bunny/Produtora Associados
Hungry Man
Killers
La Casa de La Madre
Landia
Latitude Filmes
LinxFilm
Lobo Filmes/Vetor Zero
Lux Filmes
Malagueta
Minima
Mixer
Moovie House
Movi&Art
New Content
Nove90
O2 Filmes
Oca Filmes
Ocean Films
Paranoid BR
Piloto
Pródigo Films
Produtora Associados
Rebolucion
Saigon
Sanfona
Santa Transmedia
Sentimental
Shinjitsu Filmes
Side Cinema
Spray Filmes
Stink/Delicatessen
Studio Polegar
Tevezê Filmes
Trator Filmes
Tribbo Post
TVC
Urso Filmes
Urso Filmes
Utopia Films
Vapt Filmes
VCA Filmes
Vetor Zero
Volcano/CinemaCentro
Your Mama/Delicatessen
Zeppelin
Zohar