Logística reversa se apresenta como estratégia vantajosa para empresas que buscam melhorar sua imagem junto aos consumidores engajados
A logística reversa é um conceito que se refere ao processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de produtos, materiais e informações, que vão desde o ponto de consumo de volta à ponta de origem ou à reciclagem. Essa prática tem como objetivo atender a requisitos ambientais e econômicos, visando a reduzir o impacto ambiental, economizar recursos e, em alguns casos, criar novas oportunidades de negócios sustentáveis.
De forma descomplicada, a logística reversa nada mais é do que fazer os produtos retornarem na cadeia de suprimentos, ou seja, ao invés de um bem ser feito, usado e descartado, ele é devolvido e reciclado.
Ações do tipo envolvem várias atividades, como a coleta de produtos usados, a recuperação de materiais recicláveis, o descarte adequado de resíduos perigosos, o recondicionamento de produtos para reuso, redistribuição de produtos devolvidos e muitos outros. Por isso, ela se faz fundamental para a sustentabilidade ambiental, uma vez que contribui para a redução da poluição, a conservação de recursos naturais e a diminuição do desperdício.
Empresas
Ela pode ser uma estratégia vantajosa para empresas que têm em sua cultura a preservação do meio ambiente ou buscam melhorar sua imagem junto aos consumidores preocupados com o meio ambiente e também reduzir custos operacionais, por meio da recuperação de materiais e da reutilização de produtos.
“Desde 2006, o Fórum Econômico Mundial publica relatórios anuais com a previsão dos principais riscos que podem impactar os negócios. Em 2023, o documento publicado apresentou um Top 10 com os riscos mais graves em um curto prazo, sendo oito deles relacionados com mudanças climáticas e crises sociais”, explicam Beatriz Busti e Flávia Galdiano Fonsatti, consultoras de sustentabilidade da Protiviti.
As consultoras contam que o relatório trouxe ainda os dez principais riscos para o longo prazo. “Na mesma toada, os quatro primeiros estão relacionados às mudanças no clima, ao aumento dos desastres naturais e dos eventos extremos e à perda da biodiversidade. Esse tipo de previsão está presente nos últimos cinco relatórios, reforçando a cada ano a necessidade de se revisar a forma como a humanidade interage com o ambiente.”
Com essa necessidade de mudança na forma com que consumidores e empresas lidam com resíduos no meio ambiente, o investimento em logística reversa passou a ser compromisso de marcas.
ESG
A logística reversa também tem uma relação direta com os critérios ESG, que se referem a fatores ambientais, sociais e de governança (Environmental, Social, and Governance) usados para avaliar o desempenho de uma empresa em termos de sustentabilidade e responsabilidade corporativa.
Para fatores ambientais, a logística reversa se concentra na redução do impacto ambiental por meio da reciclagem, reutilização e gestão adequada de resíduos. Ao implementar práticas de logística reversa, as empresas podem reduzir a extração de recursos naturais, diminuir a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários e reduzir as emissões de carbono associadas à produção de
novos produtos.
Para fatores sociais, ela pode criar empregos na coleta, desmontagem, reciclagem e reparo de produtos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a inclusão social. Além disso, as empresas que promovem a logística reversa demonstram preocupação com o bem-estar dos consumidores.
Já para o fator governamental, está relacionada à maneira como uma companhia é gerenciada e como as decisões são tomadas. A implementação bem-sucedida da logística reversa requer uma abordagem estruturada e eficiente na gestão da cadeia de suprimentos e das operações. Isso reflete uma boa governança, uma vez que as empresas precisam definir políticas, processos e métricas para garantir que a logística reversa seja eficaz e alinhada aos objetivos de sustentabilidade da empresa.
“Nesse cenário, a sustentabilidade tornou-se uma pauta mais ativa na mesa dos conselhos e da alta direção, de modo que o conjunto de ações que envolvem o ESG passou a ser parte da estratégia das empresas no mundo todo”, completam Beatriz e Flávia.
Para elas, embora em um primeiro olhar possa parecer que toda essa temática ESG está limitada ao âmbito das grandes corporações, a realidade é que as médias e pequenas empresas são peças importantes na transição para um cenário mais sustentável.
“Para tanto, tais empresas precisam se desprender da crença de que investir em uma gestão ESG significa apenas aumento de gastos, e entender que tal estratégia é capaz de gerar redução de custos e riscos, bem como torná-las mais atrativas. Ao se debruçar sobre os pilares ambiental, social e de governança, as médias e pequenas empresas fortalecem suas marcas e aumentam a confiança por parte deste público”, apontam as consultoras.
Em resumo, investir em logística reversa não apenas demonstra responsabilidade ambiental, mas também pode resultar em benefícios econômicos, melhorias na imagem da marca e atendimento às expectativas dos clientes. É uma estratégia que pode contribuir para o sucesso a longo prazo das empresas, ao mesmo tempo em que promove práticas sustentáveis.
Desafios
A implementação de ações de logística sustentável e práticas ESG pode ser desafiadora para as marcas de diversas maneiras. A começar pelos custos iniciais elevados, já citados anteriormente. Estabelecer um sistema de logística reversa eficiente, por exemplo, pode ser caro, isso inclui a criação de infraestrutura para coletar, classificar e processar produtos devolvidos ou descartados de maneira adequada.
A complexidade das atividades também aparece como um desafio, a implementação de sistemas de logística reversa, reciclagem e reutilização de produtos pode ser complexa e exigir mudanças nos processos operacionais existentes. As empresas, muitas vezes, também dependem de fornecedores e parceiros externos para implementar práticas sustentáveis em toda a cadeia de suprimentos. Coordenar essas ações e garantir que todos os envolvidos estejam comprometidos com os mesmos princípios pode ser complicado.
Julia Ades, fundadora e head de pesquisa e conteúdo da Apoema, destaca que educar o consumidor é um dos maiores desafios. “Muitas pessoas buscam marcas que falam sobre sustentabilidade e oferecem atributos sustentáveis, mas, quando vamos destrinchando, vemos que a consciência ambiental e sustentável ainda é, para muitos, bastante superficial. Não existe uma compreensão integrada sobre esse tema”, conta.
Para ela, educar o consumidor é um desafio e uma oportunidade, uma vez que as “pessoas têm bastante curiosidade e interesse para aprender sobre sustentabilidade na prática e quais são seus reais impactos”.