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Eu sempre acreditei na ideia de que o dinheiro não vem quando você precisa dele, mas quando ele precisa de você. Ao mesmo tempo, porém, vivi uma aparente contradição, ao dedicar-me, desde jovem, a fazer o que gostava e não necessariamente àquilo que acreditasse ter potencial para render dinheiro.

Por sorte, o que eu gostava o dinheiro também gostava. Influenciado pelos meus pais, li muito desde criança e adquiri, bem cedo, certa habilidade para a escrita. Principalmente, um enorme gosto pela escrita.
Depois de iniciar uma carreira na hotelaria, acabei convidado pelo meu primo, Paulo Tiarajú, para trabalhar numa agência de publicidade.

Eu queria jornalismo, na verdade. Mas descobri que ali pagavam melhor para escrever pior. Só vantagens, portanto. Onde quero chegar? Tenho conversado com alguns jovens estudantes de publicidade e percebido uma angústia gigantesca nas suas cabecinhas. Dedicam-se incansável e burocraticamente à tentar decifrar o que a profissão espera deles para remunerá-los bem. Um horror!

Todos, ao mesmo tempo, querem saber, exatamente, como ganhar muitos prêmios e muito dinheiro!
Estão dispostos a qualquer sacrifício para obter essa resposta. Inclusive, a trabalhar de graça! Não posso falar pela medicina ou pela engenharia, mas não estará faltando a esses jovens candidatos a publicitários exatamente a necessária independência no exercício de seus dotes e talentos para se tornarem objetos do desejo da profissão?

Sobremaneira hoje, em que há uma profunda dicotomia entre a grade curricular da maioria das faculdades e as praxes de um mercado que, aliás, nem o próprio sabe mais definir-se, surge uma grande oportunidade de a gente apostar em si. Porque não existe nenhuma segurança na formação acadêmica, embora o preço alto cobrado mesmo pelas piores instituições.

Há casos de um verdadeiro estelionato! Conteúdo arcaico, amadorismo na ministração das aulas, indisciplina disfarçada de liberdade criativa, enfim, um perfeito me engana que eu gosto, sem nenhuma perspectiva de futuro.

Mesmo assim, jovens da periferia, à custa do sacrifício dos pais, cruzam a cidade, em trens, metrô ou ônibus, faça chuva, faça sol, acreditando que, em quatro anos (absurdamente desnecessários!), cruzarão as portas do paraíso encantado da publicidade.

Não! Pelo contrário, terão jogado no lixo o dinheiro de seus pais! Toda essa dedicação, com raríssimas exceções, de pouco ou nada valerá na avaliação do mercado. E não há que se culpar a publicidade por isso.
Pelo contrário, a profissão apenas reage ao estado de mediocridade instalado, à produção em série de pseudoprofissionais que carregam muito mais ilusão do que capacidade reflexiva, muito mais uma euforia angustiada e boba do que um entusiasmo genuíno com o desenvolvimento do próprio talento.

Na vida profissional, nos lugares por onde passei, contratavam palhaços de circo bissexuais, pintores de parede com tiques nervosos, bailarinas insones, enfim, gente louca e com tudo a contribuir. Aprendi muito com eles. Principalmente a consolidar o meu amor pela liberdade.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing