Discussões sobre a reinvenção das agências, a ética em torno do universo de influenciadores, o medo dos dados e os caminhos do storytelling estão entre as atrações do Festival da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), realizado nesta segunda-feira (22) pela entidade na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. Cerca de 400 pessoas devem passar pelo evento até a noite, quando serão entregues as tradicionais Lâmpadas para trabalhos escolhidos pelos júris do Festival e também para os Destaques Profissionais eleitos por votação online.
Um dos destaques foi a painel sobre mulheres na criação, moderada pela editora do PROPMARK Kelly Dores. No painel estiveram Laura Florence, fundadora do More Grls, Alessandra Sadock, diretora de criação da Artplan e Guilherme Jahara, CCO da F.biz. Laura, que trabalhou em algumas das principais agências do mercado em cargos de liderança, fundou a More Grls e hoje se dedica a uma variedade de ações com foco em aumentar a diversidade de gênero no departamento de criação das agências.
“Fizemos as contas e levaria 217 anos para conseguirmos uma igualdade de gênero, mas as marcas podem acelerar esse processo, influenciando com seu poder de comunicação. Hoje temos apenas 2% de mulheres em cargos de liderança na criação, menor do que a média mundial que já subiu de 3% para 15%”, comentou Laura.
Alessandra, da Artplan, destacou o processo de contratação às cegas implantado pela agência, para evitar o famoso “viés inconsciente” das contratações, que acabam beneficiando “os iguais”, ou o mais familiar. “Estamos longe ainda de 50% de mulheres na equipe, mas queremos chegar lá”, disse. Jahara reconheceu que a criação ainda é um ambiente machista, mas que hoje a demanda por maior diversidade vem inclusive dos clientes, e a agência está atenta.
Na discussão sobre novos modelos de agências, Rogério Taka, CMO da Oi, disse que seu mundo, da Telecom, vive desafios semelhantes aos das agências, pois segue tentando vender tarifas, bits e bytes enquanto o consumidor hoje quer conteúdo diferenciado. “Vamos perder o bonde se continuarmos tentando entregar o que as pessoas não querem mais. No caso das agências, muitas ainda estão apegadas ao velho modelo de entrega do filme que faz chorar. Precisamos abandonar nossas vacas sagradas. Comunicação não passa mais somente por publicidade”, comentou o executivo.
No painel sobre Storytelling, Adilson Xavier, CEO da Zola Filmes, que foi moderador, destacou que o termo já era antigo e agora ficou batido por excesso de (mau) uso. “Não estamos aqui para dizer verdades porque somos todos estudantes, estamos aprendendo. Mas o que sabemos, é que o que queremos, como pessoas, é sermos compreendidos, amados e lembrados. Transportando isso para as marcas, elas precisam se esforçar o tempo todo para captar a atenção das pessoas. Mas o fato é que ninguém mais presta atenção em nada”, provocou.
André Lima, sócio e CCO da NBS, disse que o desenho das narrativas tem que ser relevante. “Nosso desafio é desenhar histórias relevantes para as pessoas, e pensar na forma, claro, mas em especial no conteúdo. É ele que importa”, concluiu.