No início de outubro de 2016, mais precisamente no dia 2, o resultado de um plebiscito surpreendeu e decepcionou os quatro cantos do mundo com a vitória do “não” a um histórico acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Após quase quatro anos de negociação, tal acordo, concluído em agosto passado, em Havana, poderia ter tido respaldo popular para colocar fim a um período de mais de cinco décadas de guerra civil e conflitos armados que deixaram pelos menos 260 mil mortos e cerca de 45 mil pessoas desaparecidas.
Para Paula Feged, uma arquiteta colombiana que optou por um trabalho no mercado publicitário, o resultado do plebiscito foi “simplesmente devastador”. Desde 2007, ela está à frente do banco de imagens Slide Depot, que representa Cannes na Colômbia e também organiza o mais importante festival da publicidade local, o El Dorado, que terá a sua quinta edição realizada neste mês de novembro, entre os dias 21 e 22, em Bogotá.
Além dos motivos óbvios, o resultado do plebiscito tem também esse ar “devastador” para Paula porque o Festival El Dorado será realizado neste ano exatamente sob o conceito “Amor e Paz”. A competição, antes mesmo do anúncio do acordo feito em Havana, também instituiu, em parceria com a Câmara do Comércio de Bogotá, um prêmio especial nesta edição, o Inovação para a Construção da Paz, com o objetivo de destacar ideias que possam contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de paz na Colômbia.
Pouco mais de um mês após o plebiscito, Paula afirma que a Colômbia não perdeu a busca e o caminho para a paz. Logo depois do resultado, segundo ela, houve muitas marchas em prol da paz e o mercado, como um todo, ainda de acordo com ela, “têm muitas pessoas buscando criatividade para inspirar paz.”
“O que ocorreu foi bem similar ao Brexit. Houve muita decepção e, mesmo os que votaram pelo não, ficaram surpresos”, diz Paula, em uma comparação com a consulta popular realizada em junho, que optou pela saída do Reino Unido da Europa. “Mas agora a Colômbia vai para uma fase ainda mais importante, que é saber que a paz é possível e isso é imaginar sobre nós mesmos”, afima Paula.
A diretora do El Dorado afirma que os anos de guerra civil fizeram a Colômbia ser percebida como uma “terra do nunca”. Essa imagem, que afetou negócios e a segurança do país, começou a ser significativamente revertida nos últimos anos. “Houve desenvolvimento em quase todos os segmentos, a segurança melhorou muito e, aos poucos, as pessoas estão vindo mais do exterior para a Colômbia, que está abrindo as suas portas e o coração para os estrangeiros, tanto para visitas quanto para investimentos”, avalia.
Sobre a criatividade, nesse contexto, Paula destaca um famoso case da publicidade colombiana que sintetiza tanto os anos de conflito armado quanto as tratativas do acordo de paz. Ela se refere ao trabalho Balígrafo, criado pela McCann para o governo colombiano. O case, premiado com Leões de ouro e bronze em PR Lions, e bronze no Promo & Activation Lions em Cannes 2016, mostra uma bala de arma de fogo que se transforma em caneta com a proposta de ressaltar a importância da educação para uma cultura de paz.
Sobre as expectativas para o El Dorado 2016, Paula fala que ficou “maior” o desafio de manter o tema “Paz e Amor” com o resultado do plebiscito. O festival avalia apenas peças publicitárias produzidas e veiculadas na Colômbia. Neste ano, o presidente do júri será o argentino Pablo Del Campo, atualmente sem agência, que vai trabalhar a definição dos prêmios com cinco jurados: a brasileira Fernanda Romano (Malagueta), Jaime Rosado (J. Walter Thompson Porto Rico), Luca Pannese (Saatchi & Saatchi Nova York), Laura Visco (72andSunny Amsterdã) e Álvaro Becker (Prolam Y&R/Chile). O festival também contará com um programa de palestras e seminários com temas sobre inovação, futuro da publicidade e design.