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As interfaces de voz já fazem parte da vida de alguns brasileiros, especialmente aqueles que realizam buscas pelos assistentes instalados nos mobiles. A tendência é que essas tecnologias vitaminadas por inteligência artificial se expandam no país, e se tornem comuns em TVs, geladeiras, lavadoras e demais itens do lares e escritórios, e nos automóveis. A CES (Consumer Electronics Show), realizada na semana passada, trouxe alguns insights de como será a vida das pessoas nesse novo ecossistema e ajudou a sinalizar algumas oportunidades para os anunciantes, agências e mídia. Os assistentes pessoais como Siri (Apple), Cortana (Microsoft), Alexa (Amazon), Bixby (Samsung) e Google Assistente (Google) foram onipresentes em equipamentos lançados durante a feira, mas, em relação a anos anteriores, a novidade da CES é que as interfaces de voz já começam a demonstar seu potencial para vendas de produtos e serviços. 

Para acelerar esse movimento, a quantidade de devices do tipo speaker para o lar, como Google Home e Echo Amazon, segue viés de alta nos Estados Unidos, com 53 milhões de americanos possuindo ao menos um equipamento, de acordo com estudo da Edison Research e NPR, apresentado na CES. O número total de speakers nos lares subiu 78% em 2018, na comparação com 2017. Há também um acréscimo na média de speakers por lar: 2,3 contra 1,7 do ano anterior.
“O aumento na compra de speakers mostra a utilidade que os assistentes de voz estão tendo. Esses devices estão se tornando algo integrado ao dia a dia da vida de dezenas de milhões de americanos”, assegurou Tom Webster, vice-presidente da Edison Research. A Amazon, com o Echo, domina esse mercado, mas o que mais cresce é o Google Home, que pode ser lançado em breve no Brasil e já aceita comandos em português. Outros, como o Apple Home Pod, também concorrem nos EUA.

Com a inevitável massificação dos speakers, fica evidente o potencial para o chamado voice-commerce, comércio possibilitado por interações de voz com máquinas e seus assistentes pessoais. Um estudo da Visa, How We Will Pay, publicado em outubro, apontou que donos de speakers com voz já estão tendo experiências de compras em seus equipamentos, com destaque para supermercados (5% dos usuários de speakers) e alimentação (4%). Tratam-se de early-adopters, por enquanto.

Outro report recente da OC&C Strategy Consultants mostra que voice-commerce deve crescer 1.900% até 2022, gerando US$ 40 bilhões em vendas nos EUA. Em geral, a sensação na CES é que os americanos estão cada vez mais aptos a comprar produtos por meio de seus Google Home ou Amazon Echo. E que as marcas precisam estar preparadas para consumidores que vão decidir suas compras por meio de interação com assistentes pessoais.

Como de costume, a CES foi palco para apresentação de dezenas de lançamentos, de TVs 8K com assistente de voz e inteligência artificial a outros mais curiosos, como uma lava-louça sem canos ou o armário com robô que dobra todas as roupas. Causou polêmica um vibrador criado por uma startup chamada Lora DiCarlo, que foi premiado como inovador, mas teve seu troféu retirado, após constatação de que ele não se aplicada à categoria drones, onde foi inscrito.

A Samsung fez grande investimento no evento, com iniciativas que unem inteligência artificial, internet das coisas e 5G.  A empresa também revelou suas futuras plataformas robóticas com inteligência artificial, que podem ser usadas para gerenciar atividades da vida diária, como ajudar populações idosas a gerenciar suas rotinas de saúde de forma independente.

Além do setor de eletroeletrônicos, uma das indústrias com lançamentos mais interessantes foi o de automóveis. A Ford anunciou que vai oferecer, em parceria com a Qualcomm, a tecnologia de comunicação do veículo-com-tudo pelo celular – a chamada C-V2X – em todos os seus veículos novos nos Estados Unidos a partir de 2022. A tecnologia foi planejada para operar com a rede 5G. “Atravessar cruzamentos, por exemplo, será muito mais fácil com a C-V2X, pois os veículos poderão se comunicar entre si para negociar qual tem a preferência. Da mesma forma, um carro envolvido em um acidente pode informar a ocorrência para os demais e um pedestre na pista com telefone celular pode ser localizado pelos veículos, mesmo se estiver fora do campo de visão”, diz Don Butler, diretor executivo de Veículos Conectados da Ford.

Todas as inovações apresentadas têm a possibilidade de ganhar tração com a rede 5G. “Ela não é apenas mais rápida e eficiente, mas real-time, o que muda todo o jogo”, afirmou durante o evento John Donovan, CEO da AT&T. A empresa lançou a rede 5G Evolution e uma iniciativa para que um  hospital de Chicago seja o primeiro do mundo com 5G.

Philip Thomas, chairman do Festival de Cannes, moderou um painel sobre o 5G, com Adobe, Deloitte, National Geographic e outras empresas. A mensagem geral do painel foi que, além de suportar tecnologias como carros autônomos e realidade virtual, o 5G terá a capacidade de transformar o marketing e as diversas formas de contar histórias. Thomas questionou Jill Cress, Chief Marketing and Communications Officer da National Geographic sobre os planos da empresa de abraçar o 5G. Com histórico de storytelling visual de 130 anos, a NetGeo fez uma experiência em realidade virtual e 360 graus para promover o documentário Free Solo. Mas além de experiências imersivas, que já são razoavelmente comuns, o 5G pode de fato ajudar a dar escala no lançamento  e popularização de conteúdos do tipo. Ainda na CES, em parceria com a Verizon, o New York Times lançou o projeto 5G Lab, que pretende oferecer mais de conteúdo imersivo com experiências de realidade virtual e aumentada.