Criar uma estratégia de presença em eventos internacionais pode render grandes frutos às empresas de publicidade e seus profissionais. O custo é alto, passando facilmente dos R$ 15 mil por evento, segundo estimativa de um dos entrevistados pelo PROPMARK. Por isso, é preciso ser cirúrgico nas escolhas. Em geral, o que se observa dos profissionais entrevistados é uma tendência de se criar um cardápio que inclua eventos tradicionais, como o South by Southwest (SXSW), que começa no próximo dia em 9, e o Festival Internacional de Criatividade de Cannes, em junho. Mas também está em franco crescimento a necessidade de se buscar inspiração em novas fontes para complementar a experiência.
“Os festivais se tornaram menos lineares. Cada participante sai do evento com algo completamente diferente dos demais na bagagem. Hoje, os conteúdos estão distribuídos por igual em todos os lugares, por isso, mais importante que escolher o festival certo, é entender como você quer se aprofundar na experiência de cada um”, reflete Cleber Paradela, vice-presidente de planejamento da Sunset.
A “wishlist” de Paradela inclui o SXSW, com seus 80 mil participantes interessados em tecnologia, criatividade e inovação; e a Vidcon, conferência focada nos creators de conteúdo digital, que ocorre em Ananheim (Califórnia) desde 2010. O evento, que reúne 30 mil pessoas, foi comprado pelo Viacom recentemente e será realizado entre 20 e 23 de junho. Sua lista também inclui a Consumer Electronic Show (de 8 a 11 de janeiro de 2019) e eventos brasileiros que ele coloca no mesmo patamar dos globais, com especial destaque para o Hacktown, evento com 3 mil participantes realizado em Santa Rita do Sapucaí (MG).
A mistura entre tradicionais e novidades fica clara na agenda de Rui Branquinho, CCO do DAN Brasil e do Isobar Brasil Group. Ele frequenta, por exemplo, o NRF, grande evento do setor de varejo da National Retail Federation. “Através dos grupos organizados para os brasileiros, o evento consegue promover a troca de experiências e permite uma visão adaptada do que é apresentado para o nosso mercado”, analisa Branquinho. Outro peso-pesado na agenda é o Web Summit de Lisboa. “O evento era realizado em Dublin até 2015. Com a mudança para Lisboa, sofreu um boom e hoje é considerado a melhor conferência de tecnologia do planeta. Embora quem esteja escrevendo isso seja um português, a opinião não é parcial e pode ser confirmada por diversos artigos e pelo momento efervescente de empreendedorismo que vive a capital de Portugal”, analisa. Na última edição, mais de 60 mil pessoas foram ao evento, que tem diversos investidores à procura de negócios.
Mas Branquinho também tem agenda reservada para um evento com apenas 80 pessoas: o The Do Lectures, do Reino Unido. “O próprio evento fala que não pode se definir. Logo, quem sou eu para tentar fazer isso. Longe de ser mainstream, ele é feito para quem busca inspiração. É feito de “quem faz” para “quem faz” no longínquo e misterioso País de Gales”, afirma.
Uma dica importante ao se criar agendas de eventos é entender de que forma um vai complementar o outro. Antonio Fadiga, CEO da Artplan São Paulo, aposta em uma trinca com o KES Trek e suas viagens para centros de inovação como Vale do Silício e Israel, os cursos da Hyper Island, que permitem aceleração do mindset digital e visão exponencial sobre processos, e o já mencionado NRF. “Fazendo um paralelo entre minhas três sugestões: O Hyper cria o mindset, enquanto o KES provoca mudanças práticas e questiona aspectos de business no contexto do “errar rápido”. E tem o NRF porque, no fim do dia, tudo é questão de alguém comprar o que você vende”, afirma o executivo.
INOVAÇÃO NO DESERTO
Fernando Figueiredo, CEO da Bullet, aposta em eventos como o Consumer Electronic Show, com sua tecnologia aplicada à vida das pessoas. “É um evento sobre a inovação em sua essência, mostrando o que está para ocorrer agora e as tendências a longo prazo”, analisa. A lista inclui SXSW e NRF, além dos programas da Singularity University, como o Executive Program, direcionado a CEOs. “Além do seu rico conteúdo voltado para temas como robótica, gaming e inteligência artificial, o programa possibilita que você esteja sentado ao lado de pessoas de culturas, níveis e poderes bem diferentes”, afirma.
Sua agenda tem espaço para experimentações como o Burning Man, evento de contracultura que ocorre a partir de 26 de agosto. O festival, para 50 mil pessoas, tem desde uma galeria de arte a céu aberto a uma megaescultura de madeira, além de carros decorados, pessoas nuas com corpos pintados, e muitas outras atrações no Black Rock Desert, em Nevada. “Ele inspira as pessoas, pois é praticamente um movimento cultural, e não uma festa”, explica Figueiredo, que menciona ainda o Super Bowl como lugar imperdível para se estar e viver uma grande experiência, enquanto observa aspectos técnicos como a logística.
DMEXCO E MWC EM ASCENÇÃO
Diversos eventos estão tentando ganhar espaço na agenda de “essenciais” dos executivos e ficar lado a lado com Cannes, SXSW, CES e outros. Dois deles estão na agenda de Fabiana Baraldi, diretora de operações digitais da Africa: Dmexco, com foco na economia digital e com presença crescente de empresa de mídia e publicidade, que atraiu 40 mil pessoas à cidade de Colônia (Alemanha) em setembro passado; e o Mobile World Congress (MWC), que foi realizado de 26 de fevereiro a 1º de março, em Barcelona, que se posiciona como evento líder da indústria mobile.
Ela também vai ao Innovation Festival (Fast Company), Adobe Summit, Future Festival e ao Festival de Cannes. “Não há um evento que entregue tudo e nenhum tem o papel de substituir os mais tradicionais. Busco neles insumos sobre tecnologia, troca de conhecimento, novos talentos e ferramentas, além de termômetro sobre o futuro próximo e oxigenar o dia a dia”, afirma Fabiana.
Sua companheira de agência, a diretora-geral de planejamento Marina Pires, busca conectar perspectivas multidisciplinares sobre comportamento e cultura. “O desafio é encontrar curadores e conteúdo que não fiquem apenas deslumbrados com as inovações tecnológicas que, de fato, consigam colocá-las a serviço de propósitos maiores, mais democráticos e verdadeiramente transformadores”, analisa. Uma de suas escolhas é Sustainable Brands, plataforma de eventos que terá edições em Tóquio, Istambul, Madri e São Paulo. A proposta é conectar profissionais a uma agenda otimista com visões de futuros possíveis. Ela também vai ao The Conference, evento na Suécia com foco na complexidade que impacta as novas tecnologias e o comportamento, Internet Age Media, congresso em Barcelona que se dedica a discutir o futuro da mídia, educação e arte, e ao LITF, em Genebra, uma grande conferência sobre inovação digital na Europa.
Paulo Aguiar, diretor-executivo de criação da Sapient AG2, faz um balanço centrado em festivais como Cannes. “É o mais importante da indústria criativa e continua relevante demais. Verticais como Innovation e Entertainment Lions aprofundam discussões e influenciam o futuro do nosso negócio. Outro tema que dificilmente se vê em outros eventos é o de liderança criativa, sem contar a presença de grandes players como Facebook e Google”, afirma o publicitário. Ele também foi ao SXSW e ao D&AD e planeja ir ao CES. “Acredito que seja um dos locais mais ricos para buscar novas tecnologias aplicadas a iniciativa de inovação para grandes marcas”, analisa. Também estão na lista o Vidcon, com seus creators digitais, e o Innovation Festival, da Fast Company, que visa aproximar os participantes das empresas mais inovadoras do mundo.
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