Designer de formação e publicitário moldado por uma carreira sólida, com passagens por estúdios e agências no Brasil e nos Estados Unidos, Saulo Rodrigues, diretor-executivo de criação da R/GA, conquistou a honraria de integrar o júri de Digital Craft, em Cannes. Apesar de julgar campanhas pela primeira vez na Riviera Francesa, Saulo não é um jurado de primeira viagem. Já foi “Grand Jury” do Lisbon Festival, e avaliou peças em eventos como o El Ojo, Clio Awards e Andy Awards. Na entrevista a seguir, ele explica sua relação com a categoria e quanto ela é significativa e relevante para o presente e o futuro da propaganda.

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Categoria relevante
É impossível não entender o valor de algo quando ele está presente no nosso dia a dia. As coisas ficam mais fáceis, divertidas ou melhores por conta disso. O mundo é conectado e as marcas nascem para viver nas mãos das pessoas. O craft sempre criou valor através da estética. Antigamente era por meio de um package ou um comercial que trazia emoção. Hoje em dia esse craft tem o poder de aparecer a cada instante, na mensagem que você manda, na transferência para seu amigo, na escolha do seu filme ou até mesmo na compra de um ingresso. O bom craft traz valor para a vida de qualquer pessoa, seja o consumidor, o jurado, a agência ou o cliente.

Digital e Craft
Eu sempre fui designer, desde o começo entendi que um bom design também era uma excelente forma de propaganda. Comecei como programador, virei designer e depois experimentei a publicidade. E entendi que a coexistência entre essas ferramentas era essencial, uma deixa a outra mais forte. Você junta design e code e cria um design mais otimizado, inteligente, como o design system por exemplo. Com publicidade e code podemos ter uma mídia personalizada, única e contextual. Sem o digital e sem o craft eu não estaria onde estou hoje.

Critérios importantes
Quando se fala sobre Craft em Cannes, é preciso ser lindo, ser simples e mágico. Mágico no sentido de te devolver a única coisa que a gente não compra: o tempo. Eu acredito que beleza por beleza não deveria ser motivo de glória hoje em dia, não para o digital. Se você analisar o Facebook, ele não é e nunca foi bonito, muito menos o WhatsApp, mas eles são extremamente funcionais. É uma beleza totalmente diferente, mas não deixa de ser belo. O craft hoje permeia várias categorias, o design, a simplicidade, a eficiência, a utilidade… Logo, acho fundamental avaliar toda extensão desse craft e a sua beleza.

Caminhos infindáveis
É muito difícil você olhar para o digital como uma única caixinha. Um imã de geladeira pode facilitar o seu pedido, um OOH pede um Uber para você quando está bêbado, ou um banco que você abre conta sentado no seu sofá. Com tantos canais, tecnologia e possibilidades acredito que tudo pode ser feito. E, sem dúvida, é a categoria hoje mais próxima do nosso consumidor, ou pelo menos a que tem maior valor pra ele.

Expectativas
Eu espero ver a evolução e a mudança do nosso mercado. Estamos sendo desafiados dia após dia para nos reinventar, achar novas formas de usar nossa criatividade, coisas que vão além da publicidade tradicional. No ano passado vimos um pouco dessa mudança, mas acredito que neste ano isso deva ser ainda maior, eu espero pelo menos. Premiar ideias que realmente estão sendo feitas para os consumidores e não para nós, publicitários. Ideias com reais impactos na sociedade, que transformaram empresas e trazem resultados.

Brasil e Cannes
Temos desafios parecidos. O nosso mercado globalmente está sendo desafiado e Cannes sofre do mesmo questionamento. Acredito que podemos levar a nossa criatividade, que tem nos ajudado a se reinventar. Temos a felicidade de ter um case no Brasil como o Next, onde uma agência criou um banco do zero, fazendo o branding, o coding, a comunicação, e isso é um aprendizado que podemos compartilhar com o mundo, por exemplo.

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