Não retornaremos aos tempos da alfaiataria. Mas não mais nos interessa a vida de gado. Zé Ramalho, “Êh, oô, vida de gado. Povo marcado. Êh, povo feliz!”.

Carlos Araujo Souza, meu saudoso pai, era o secretário municipal da Prefeitura de Bauru. Chegou nessa importante posição jovem, por competência e merecimento. Terno, gravata e chapéu. Chapéus encomendados nas Lojas Cury. Prada ou Ramenzoni. E ternos, de casimira, sob medida, com “seo” Avelino.

A Deloitte divulgou semanas atrás os resultados de sua pesquisa mundial GMCS – Global Mobile Consumer Survey –, feita em 31 países, incluindo o Brasil, onde foram entrevistadas 2.005 pessoas de todas as regiões. Se possível fosse contar para as pessoas, 20 anos atrás, como se comportariam, exclamariam: “nem por um cacete!”

Sem precisar de qualquer tipo de cacete, 37% dos entrevistados acordam de noite para verificar mensagens em seus smartphones – devidamente engatilhados e ao lado de suas camas. 48%, depois de fazerem o último xixi e de escovar os dentes, dão uma última olhadinha. 12% dirigem olhando para o para-brisa e para o smartphone; smartphone, para-brisa. 15% atravessam a rua conferindo as mensagens. 48% deixam o smartphone à vista durante o trabalho. 51% veem TV e smartphones; smartphones e TV…

Mas, de todo o estudo, o que mais me impressionou é que, se não estamos, ainda, retornando aos tempos da alfaiataria – talvez esse seja o final –, agora em nossos hábitos e preferências caminhamos inexoravelmente para o prêt-à-porter no tocante às fontes de conteúdo e de informação. Retomamos – já era tempo – o controle do o quê, como, quando, quanto e onde. Em 2030, salvo raríssimas exceções em que respeitaremos o momento do fato pela sua importância, relevância e significado, tudo o mais decorrerá de nossa conveniência.

Mas, vamos à informação da pesquisa da Deloitte. No estudo divulgado em 2016, nos Estados Unidos, 55% do que se viu na TV foi “on demand” – na hora em que cada pessoa quer e não mais na hora em que a atração ou programa é realizado. Quando se diminui ou se estreita o foco e concentra-se nos millennials, esse percentual salta para 72%. Ou seja, para a galerinha, 72% dos “ao vivo” são vistos “on demand” – horas, dias, semanas e até mesmo meses depois. E, quase sempre, saltando ou sem os comerciais.

Trazendo especificamente tudo isso para o território que mais nos interessa – o do Marketing e do Branding –, comunicar-se – condição essencial de ser e sobreviver – é cada vez mais sensível e desafiador. Mas, por outro lado, e nesse comportamento, define-se a receita.

ON DEMAND!
Tornar e deixar todas as informações sobre a empresa, produtos e serviços “avaiable” disponíveis. Preferencialmente nos lugares certos de total e plena acessibilidade. Para que as pessoas se sirvam confortavelmente quando sentirem vontade. Como a natureza procede com os pássaros. No marketing e no branding não há mais lugar para uniformes. Aproximamo-nos da alfaiataria.

Assim, se sua empresa alimenta qualquer esperança de realizar a comunicação, esmere-se na preparação. Mas, nunca mais, nem por mil cacetes, interrompa. Deixe suas mensagens e sempre “avaiable” e “prêt-à-porter”. Como nos ensinou Quintana, “todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão, eu passarinho”. Ou, se preferir, Luiz Vieira, “menino-passarinho, com vontade de voar”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)