As séries de TV e produções voltadas ao entretenimento e conteúdo em geral ainda estão alavancando o faturamento das produtoras. Afinal, a lei da TV Paga, mesmo já consolidada, pode ser considerada muito recente. E o boom da produção nacional continua em alta.
Caso da Conspiração, que, até pela sua expertise no cinema, hoje possui cerca de 45% de sua receita proveniente deste setor – contra os outros 55% da publicidade. Divisão esta que ainda continua, na maior parte das produtoras, bem mais desigual, com a propaganda ainda predominando. “Apesar de ter sido um ano mais complicado, fechamos o ano muito bem, com grandes projetos realizados e resultados muito bons na nossa área Corp e Concept. No cinema, lançamos três filmes: ‘Rio, Eu te Amo’, ‘Made in China’ e ‘Boa Sorte’”, diz Gil Ribeiro, diretor-presidente da Conspiração, que espera um ano com “cinto apertado” para 2015.
“Acho que a movimentação do governo nos últimos anos, em relação às novas leis de incentivo, capitaneadas pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), favoreceu de maneira expressiva o aumento das produções nacionais”, afirma Wal Tamagno, sócio e produtor-executivo da Cine, chamando atenção não só para a área de conteúdo, mas também como ele está mudando a publicidade.
“A nova forma da publicidade que, hoje, mais do que nunca, está dividida entre on e offline, com o on ganhando cada vez mais espaço, interfere diretamente na receita de qualquer produtora. Acho que estamos em um caminho sem volta. A busca da propaganda por conteúdos relevantes, que criem engajamento natural com os consumidores, colocando a marca por trás de boas histórias, me faz acreditar que o entretenimento e conteúdo, além do caminho natural que já vem seguindo, ganhe mais força”, afirma o executivo.
A Delicatessen, por exemplo, é uma das operações cuja divisão entre publicidade e conteúdo está na casa dos 80% e 20%, respectivamente. “Mas com a crescente demanda das TVs por assinatura e incentivos da Lei, em três anos queremos ter uma proporção de 50% a 50%”, afirma o sócio e diretor-executivo geral Mario Peixoto. “2015 será um ano para consolidar os projetos iniciados em 2014. E de muito trabalho”, completa.
A mesma expectativa – de se chegar a três anos em uma divisão equilibrada – tem Edu Tibiriçá, sócio-gestor e produtor-executivo da BossaNovaFilms, e que também aposta no trabalho árduo para conseguir “passar” por 2015. “Será um ano muito difícil para o mercado em geral, mas que conseguiremos superar, pois acreditamos que as reestruturações que implementamos nos darão condições de trabalharmos por um caminho seguro e promissor”, ressalta.
Outra produtora que passou por reformulações foi a Cia de Cinema, comandada por Rodolfo Vanni e Maria João Calheiros, e que no segundo semestre deste ano ganhou um sócio de peso: Carlos Righi, profissional de extrema experiência em agências e produtoras. “Também trouxemos, para o time de diretores, Martin Toro, Paula Goldman e a dupla Iê (Clara e Zé Inlê); contratamos o Claudio Costa para comandar o atendimento; mudamos a cara da produtora com uma nova identidade visual; e já começamos a colher os frutos”, diz Vanni.
“O ano de 2014 foi de adaptação e de encaixe dos nossos talentos, tornando a Dinamo uma produtora também com características de uma ‘boutique’, atuando de acordo com a necessidade do cliente”, afirma Edu Cama, sócio e diretor de cena, também falando em mudanças. “Em 2015 vamos reforçar e aumentar a pós-produção justamente para atender aos conteúdos fora do trade publicitário. A tendência, por meio das parceiras, é termos a equipe de finalização unificada e trabalhando na casa”, revela, dizendo que na publicidade é difícil projetar o volume de produção e investimento. “Principalmente em 2015, já que a tendência é pulverizar a verba cada vez mais, ou seja, não concentrando investimento apenas na televisão.”
Produção de programas para a televisão foi a tônica da Zola: foram seis colocados no ar. “Mas o ano foi também de muitos trabalhos internacionais na área de publicidade, conteúdo de TV e serviços de produção. Fornecemos serviços para a produtora Pulse, de Nova York, para a realização do projeto para a Converse, intitulado ‘Converse Rubber Tracks’. Prestamos também serviços de produção para a empresa norueguesa Rubicon para as filmagens da série de ‘Lilyhammer’, exibida na Netflix, e para as filmagens no Brasil do documentário ‘This is not a ball’, de Vik Muniz, finalista do Oscar em 2015”, lembra a sócia e produtora-executiva, Jimmy Palma.
Já o sócio e produtor-executivo da Paranoid, Egisto Betti, lembrou que em 2015 o mercado dependerá muito das ações políticas na área econômica do governo. “Que terá que tomar uma série de medidas para corrigir, por exemplo, a inflação, a credibilidade dos investidores e do consumidor, sem exagerar na dose para que o país volte a crescer. A sensibilidade dos ajustes terá de ser cirúrgica. Se a nova equipe econômica errar na dose, as medidas podem surtir o efeito contrário, de uma estagnação ou recessão”, explica. “Nós, da Paranoid, apesar de acreditarmos nesse 2015 difícil, confiamos em mais um ano muito produtivo aqui. E um mercado com maturidade para continuar investindo no Brasil, que bem ou mal é uma das maiores economias do mundo”, diz.
“Esperamos boas oportunidades do mercado em 2015, apesar do desempenho apático de nossa economia”, completa Nívio de Souza, diretor de atendimento da Zohar Cinema.
Copa do Mundo
O Mundial de futebol realizado no Brasil também foi abordado pelos executivos das produtoras, que foram quase unânimes em dizer o que está sendo falado em todos os outros setores da comunicação: quem teve trabalhos ligados a anunciantes da Copa do Mundo, se deu bem.
Caso da Trator Filmes, do sócio e diretor de cena Alex Miranda, que teve um crescimento da ordem de 50% – um bom número para uma operação já consolidada – e fez o filme oficial da Copa do Mundo para a Fifa. “Além disso, fizemos projetos para Sony, Procter, Unilever, Bradesco, Gillette, Guaraná, Coca-Cola, Chevrolet, Boticário, MasterCard e outros. Foi um ótimo ano”, diz.
Tivemos um 2014 atípico, pois as marcas patrocinadoras da Copa e da seleção brasileira investiram mais pesado em publicidade, enquanto outras esperaram o evento passar”, afirma Renato Assad, da Side Cinema, que em 2014 produziu um grande trabalho da Africa para o catchup Heinz – a primeira campanha da marca no país. “Também lançamos o novo portal Terra, na Argentina.”
Francesco Civita, sócio da Prodigo Films, disse que o Mundial fez com que as produções publicitárias crescessem 35% no primeiro semestre, com desaceleração no segundo. E que, apesar da produtora ter uma relação de 85% a 15% entre publicidade e conteúdo, esse número não mostra exatamente a realidade.
“A composição de faturamento não é a única maneira de se analisar esse mix. O conteúdo tem uma característica muito diferente de timing, pois desenvolver uma série de ficção e produzir um longa-metragem demora muito mais tempo quando comparado com a rapidez da produção publicitária. E no ano de 2014 a Prodigo criou e desenvolveu muitos projetos de conteúdo para canais e para o cinema, que serão produzidos em 2015 – números não aparecem no faturamento”, explica.
Prêmios
No caso da Hungry Man, 2014 foi “um ano maravilhoso”, segundo Alex Mehedff, managing partner e produtor-executivo. E os prêmios contribuíram muito para isso, foram 10 Leões em Cannes; ouro no Clio; GP no El Ojo de Iberoamérica; Estrela Preta no CCSP; entre outros. Destaque para o projeto “Speaking Exchange”, produzido para o CNA, com criação da FCB Brasil. “Completamos nove anos no mercado realizando filmes, projetos multiformatos e séries para TV”, diz o executivo. “E a nossa divisão de Projects está muito bem estruturada”, afirma.