Um movimento formado pelas 25 maiores produtoras do Brasil com apoio da Abap (Associação Brasileira das Agências de Propaganda) pretende acabar de vez com a prática conhecida no mercado como BV da produtora, em que agências de propaganda do país cobram comissões de produtoras de filme e som.
A iniciativa, que sempre foi vista com desconfiança, surgiu a partir de uma descoberta da Operação Lava Jato, que revelou que um pagamento de comissão feito pela O2 Filmes a pedido da FCB Brasil acabou caindo na conta de uma empresa fantasma do ex-deputado federal André Vargas, envolvido em esquemas de corrupção dentro de órgãos públicos. De acordo com os documentos, o pagamento foi feito em 26 de fevereiro do ano passado, mesmo dia em que a FCB conquistou uma conta de R$ 110 milhões da Petrobras.
Em contato por telefone com o propmark, o diretor Fernando Meirelles esclareceu que a O2 Filmes não está sendo investigada e que a comissão paga à FCB é correspondente a um trabalho realizado para um cliente privado – não para a Petrobras – e que a produtora não atende nenhum cliente público há pelo menos quatro anos. Meirelles também deixou uma “carta” nesta página que pode ser lida na seção de comentários ao fim da reportagem.
Na ocasião, a FCB divulgou um comunicado à imprensa pedindo desculpas à O2 por ter envolvido a produtora e alegou que a quantia foi depositada na conta de André Vargas por solicitação de Ricardo Hoffman, ex-vice presidente da Borghi Lowe (atual Mullen Lowe Brasil), que foi condenado a 12 anos e dez meses de prisão nesta semana. A FCB alega que o dinheiro seria referente ao pagamento de um trabalho de consultoria que Hoffman teria feito para a agência de publicidade.
Por conta deste caso e por uma indisposição geral em relação ao “BV” que se arrasta há anos, de acordo com fontes consultadas pelo propmark, os sócios das grandes produtoras estão se reunindo com agências de publicidade para negociar o fim do BV da produção. Apontado por fontes como um dos líderes do movimento, Francesco Civita, da Pródigo, não retornou o contato até a publicação desta matéria. Neste ponto, Fernando Meirelles também declarou que não há a definição de líderes e que tanto ele como Civita fazem parte de um grupo que está trabalhando de maneira democrática e transparente para tentar acabar com a prática.
O movimento está sendo conduzido de forma independente, sem a participação da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), e tem a expectativa de atingir o objetivo em breve. O anúncio oficial será feito por meio da publicação de uma carta elaborada em conjunto.
A “proibição” é proposta como uma iniciativa de bom senso do mercado e não conta com a criação de nenhuma nova lei que trate especificamente do tema. Por isso, a adesão ao movimento terá que se dar de forma espontânea, pois agências e produtoras continuarão tendo a mesma autonomia para decidir se aceitam ou não negociar o BV da produtora.
Notícia atualizada às 15h50 do dia 25 de setembro