Agronegócio garantiu o abastecimento de alimentos e foi o único setor a apresentar expansão durante a pandemia (Crédito Freepik)

O agronegócio foi essencial durante a pandemia. A recomendação era adotar todos os cuidados para continuar abastecendo as cidades. Se falhou em alguns momentos foi pouco. O certo é que garantiu produtos essenciais para a população confinada em casa.

“Os produtores se empenharam ao máximo, bem como os 19 milhões de trabalhadores no agronegócio e as milhares de empresas que, juntas, compõem uma cadeia produtiva fantástica, responsável por 23% do Produto Interno Bruto, e fornece alimentos para a população brasileira e para mais de cerca de 200 países”, relata Jorge Espanha, presidente da ABMRA (Associação Brasileira do Marketing Rural e Agronegócio).

As estratégias adotadas pelo setor para manter o tonos da produção, segundo Espanha, são impulsionadas por três fatores principais: pessoas (produtores), tecnologia (uma das melhores do mundo) e sustentabilidade. Espanha avalia que o agro é o único setor da economia com resultado positivo no PIB do primeiro semestre deste ano.

“Enquanto indústria e serviços encolheram, a agropecuária está crescendo 2,5% em 2020, segundo o IBGE”. O executivo revela que, neste ano, o Brasil colheu a maior safra de grãos da história: mais de 255 milhões de toneladas. “Quanto às exportações, certamente ultrapassaremos a barreira dos US$ 100 bilhões comercializados no exterior. O Valor Bruto da Produção (produção dentro das fazendas) superou R$ 742 bilhões este ano. O brasileiro deveria se orgulhar de pertencer a um país cuja natureza produz qualidade e abundância para o mundo”.

Ainda sobre o desempenho do segmento, Espanha ressalta que praticamente todas as atividades agrícolas e criação de animais estão crescendo em 2020 em relação aos anos anteriores. Segundo ele, a oferta de grãos aumentou mais de 8 milhões de toneladas e as carnes também estão indo muito bem. “As exportações de carne superam 25% e já se sente o consumo interno crescendo.

A indústria de máquinas vai bem e o crescimento em todos os setores pode chegar a surpreender. O agronegócio, dentro e fora da porteira, pode chegar a cerca de 30%, quando avaliamos serviços, indústria e negócios periféricos, agricultura e pecuária como parte deste PIB”, argumenta.

Mas nem tudo são flores, já que as queimadas são uma pedra no sapato do setor e prejudicam muito a sua imagem dentro e fora do país. Espanha lembra que 2020 tem sido um ano de elevação da temperatura, menor fluxo de chuvas e consequente estiagem prolongada em praticamente todo o país – especialmente nas áreas de produção.

“Esse cenário é ruim para a produção, para a fauna e a flora, com focos de incêndios acima das médias históricas. A teoria da seca é mais complexa do que se pensa, mas com certeza os produtores de CO2 não ganham tanta notoriedade como o produtor rural brasileiro. O questionamento é: quem veio primeiro, a seca ou o efeito estufa produzido pelas nações industrializadas?”, critica o presidente da ABMRA.

Ele fala que o produtor não pode ser condenado pelas queimadas criminosas. “Sabemos que 98% dos produtores atuam na legalidade e dentro dos princípios de proteger a terra e os biomas que o sustentam. Queimar indiscriminadamente ou destruir o bioma, para o produtor moderno de hoje, seria o mesmo que fazer um furo no barco deixando a água entrar até afundar”, analisa.

Para ele, queimada criminosa é caso de polícia e não de produção, e revela que muitos dos incêndios no Centro-Oeste, por exemplo, tiveram origem na Bolívia. “Os responsáveis precisam ser identificados e punidos com rigor”. Ele garante que o produtor rural brasileiro não compactua com as queimadas criminosas. Os responsáveis por elas, segundo o executivo, são pessoas que querem ganhar no curto prazo e não se preocupam com os impactos a médio e longo prazos.

O desmatamento segue a mesma linha de raciocínio. “Há no país cerca de 5,1 milhões de produtores rurais (dados do IBGE). A expressiva maioria respeita o meio ambiente e recentes estudos com pesquisadores nacionais e internacionais provaram que 98% atuam na legalidade”, conta.

Ele comenta ainda sobre o Código Florestal, aprovado em 2012, que acredita ser um dos mais rígidos do mundo. “As áreas protegidas são 20% do total das propriedades rurais na maior parte do país, incluindo Centro-Sul e campos gerais, 35% nos cerrados e 80% em áreas de florestas da Amazônia Legal. Ou seja, os produtores somente podem produzir em uma área limitada de suas propriedades. Isso está na lei, e tem de ser cumprido.

A fiscalização precisa ser incrementada e o estado tem
um papel fundamental de polícia e jurídico no combate à ilegalidade”.

Marketing
Em recente artigo, Alberto Meneghetti, diretor de integração da ABMRA e CMO da Neodigital, disse que neste atípico ano de 2020, abalado pela crise sanitária global, as agências tiveram de se reinventar no formato de trabalho, no qual a proximidade entre as equipes sempre foi fundamental para gerar as faíscas criativas para seus clientes, e também entender novos briefings que, em muitos casos, passavam longe de buscar apenas soluções criativas para incremento de vendas.

“Na comunicação do agronegócio no Brasil, imperou, neste ano, um tom mais ‘institucional’ no discurso das marcas, até porque temos verificado que um grande esforço tem sido feito pelas entidades e players do segmento para descolar a percepção negativa que as pessoas têm do agronegócio brasileiro. E, como afirma Ricardo Nicodemos, vice-presidente da ABMRA, mais do que a preocupação com as vendas, só terão destaque as marcas que deixarem um legado após o fim da pandemia”.

Mesmo diante de um cenário aparentemente desfavorável a premiações, a ABMRA está programando para o primeiro semestre de 2021 o lançamento da XIX Mostra da Comunicação Agro da ABMRA, que premia a publicidade e o marketing do agro. “O presidente do júri será Luiz Lara, fundador da Lew’Lara e chairman do grupo TBWA/Brasil. O publicitário vai coordenar o trabalho online”. A expectativa, segundo Meneghetti, é que a Mostra supere a anterior, cujo vencedor foi o projeto da TV Globo Agro é tech, agro é pop, agro é tudo.