Muito se evoluiu, mas sempre há espaço para melhorar. Assim se resume a opinião das publicitárias das novas gerações que foram ouvidas pelo PROPMARK e começam a se destacar no mercado. O espaço das agências de publicidade, assim como todo o mundo corporativo, aos poucos, vai se abrindo para uma maior presença feminina. “Precisamos que as questões de gênero sejam pauta mais frequente nas empresas e, principalmente, precisamos de políticas que ajudem a acelerar esse processo”, fala Andrea Faccio, head of digital accounts da Leo Burnett Tailor Made.

Por ser considerada uma área de vanguarda, a comunicação tende a apresentar uma realidade menos desfavorável às mulheres. “O que me admira na publicidade é ver como a mulher conseguiu conquistar o seu lugar de forma equânime em relação aos homens. Percebo que em outras áreas isso é mais complicado”, conta Juliana França, gerente de planejamento da Ogilvy Brasil.

Divulgação

 

“Comparadas a outros tipos de empresas, as agências me parecem mais democráticas e abertas às lideranças femininas, mas nunca poderíamos dizer que é uma relação de igual para igual. As mulheres estão mais preparadas, confiantes e ambiciosas. Cada vez mais sabem se posicionar melhor e, de um modo geral, isso é bem aceito e assimilado, mas sempre há espaço para melhorar”, diz Nicole Godoy, diretora de RTV da Y&R.

Mesmo com esse posicionamento mais moderno, o ambiente não está totalmente adaptado para acolher a diversidade. “Ainda tem gente que reclama que o politicamente correto mata a criatividade, que acha ok reforçar estereótipos e objetificar a mulher ou que não vê problema em silenciar uma colega durante um brainstorming. Essa conversa é desconfortável, sim, mas não é moda e não pode parar”, fala Larissa Magrisso, diretora de conteúdo da W3haus.

Divulgação

A divisão por áreas também ainda é apontada como problema, mas isso começa a mudar. “Na área de negócios, no atendimento, acredito que a mulher ainda seja a maioria, talvez pela ‘teoria da organização feminina’, mas é muito bom ver a presença da mulher crescendo na liderança de todas as áreas das agências. Todos, de forma igual, têm suas chances de evoluir, crescer e se destacar. Basta fazer acontecer”, diz Isabel Marques, head de eventos da Bullet.

“Hoje ainda existem alguns cargos que têm mais homens do que mulheres, mas acredito que tenha mais a ver com o perfil profissional do que com o gênero. Antes, na área de mídia e nos grandes cargos faltavam homens, mas agora igualou. Nas agências, por ser um ambiente mais informal, não acredito muito que exista esse preconceito de gênero. Primeiro vão olhar você como profissional. A gente consegue entrar na brincadeira de meninos, perdemos essa ideia do sexo frágil”, fala Gláucia Montanha, diretora de mídia da Y&R.

Divulgação

Algumas profissionais percebem que o talento já supera o preconceito. “Aqui não tem muito essa coisa de masculino e feminino. Todo mundo tem voz. As grandes ideias vêm de todo mundo. Ainda tem mais homem que mulher, principalmente na criação, mas na mídia e no planejamento já é bem divido. Essa geração nova cresceu com a igualdade muito presente. Acredito que daqui para a frente vai ser muito fácil ser igual”, declara Julia Prais, planner da Crispin Porter + Bogusky Brasil.

Para as mulheres das novas gerações, é cada vez mais comum que o valor profissional seja colocado à frente da questão de gênero. “A nova geração é antenada a tudo e faz valer a sua voz. Estamos cada vez mais preocupadas com resultados efetivos, não apenas com uma divisão entre homens e mulheres. Entendo que ainda exista essa diferença na disposição de cargos, mas cada vez mais vejo essa barreira sendo rompida. A igualdade do mercado é o trunfo dessa nova geração, que tem focado na entrega de bons trabalhos, independentemente de quem o faça”, fala Isabel.

“Para essa nova geração, já está um pouco mais fácil. Eu vejo até pelas minhas amigas que se formaram comigo e estão no mercado de trabalho. Elas não tiveram dificuldade em crescer. Acredito que para a geração dos nossos filhos deve ser uma divisão 50/50”, afirma Gabriela Toledo, 30 anos, da área de atendimento da BFerraz.

Com a presença maior das mulheres nos ambientes, as características tidas como femininas ganham espaço. “A nova geração tem sede de conhecimento, é conectada e tem grande facilidade de se renovar, se adaptar a novos desafios o tempo todo. Falando da mulher especificamente, temos duas grandes características que vale destacar: sensibilidade e multidisciplinaridade. Fazemos tudo e mais um pouco”, Isabel Castro, gerente de atendimento da Africa.

Divulgação

Onde ainda não há tanta presença feminina, cabe às próprias mulheres garantir o espaço. “Foram as mulheres que puxaram a ascensão social que criou a nova classe média. São as mulheres que podem transformar a visão de uma empresa em relação às escolhas, às atitudes, aos interesses e aos desafios femininos através de uma nova ótica. Não há mais espaço para profissionais ou campanhas que não tenham acompanhado ou não entendam as tendências de comportamento feminino. Além do mais, pesquisas apontam que empresas lideradas por mulheres são mais lucrativas”, defende Juliana Possato Altstadt, diretora de grupo de contas da F.biz.

“As mulheres vêm conquistado espaço pelo seu do talento e relevância. Mas precisa haver uma equivalência de oportunidades entre os sexos para que a seleção natural passe a ser pela capacidade e pelo talento de cada um. Guerra dos sexos é tema muito velho. A guerra hoje é por oportunidade”, conta Claudia Schneider, diretora de atendimento e operações da Pereira & O’Dell.

“Precisamos parar de acumular papéis e dividir responsabilidades. Mais parceria de todos os lados. Já sabemos que optar pela carreira e abdicar da vida pessoal não funciona. Temos de usar exemplos de países como a Suécia para essas questões, de flexibilidade e jornada de trabalho”, sugere Maristela Raucci, gerente de planejamento da WMcCann.

Mesmo com a mudança, ainda há situações constrangedoras, em que o machismo vigente se apresenta como se fosse algo natural. “A igualdade de oportunidade e discussão sobre gênero estar constantemente na pauta ajuda a quebrar antigos preconceitos. Já ouvi mais de uma vez que criação é lugar pra homem. ‘Homem aguenta o tranco. Mulher chora’. Isso é inaceitável. A preocupação das pessoas deve estar mais voltada para a sua relevância do que para o seu gênero. Focar no seu crescimento e tomar cuidado para não ser engolido por um contexto antigo e preconceituoso, sem dúvida, ajuda”, fala Claudia.

Divulgação