Durante dois dias, vasculhei o Google, incansavelmente, tentando descobrir quais as agências que atendem ao governo federal. Chego quase à conclusão de que se trata de uma atividade clandestina, tamanha a dificuldade de chegar a algum indício. Lembro que, em anos passados, ganhar um quinhão de verba federal era redentor para quase todas as agências – menos para a W e a Talent, que não participavam das licitações públicas.
A razão, além da grana, naturalmente, era o espaço na mídia para a exposição do talento das equipes. A ditadura foi pródiga em anunciar e consagrou grandes marcas e nomes da publicidade brasileira. Na hora de escolher as agências, certamente o bom e velho lobby pesava, mas os milicos faziam questão de estrutura e profissionalismo. Para tanto, não se furtaram de contratar agências de ex-brizolistas/janguistas, como a MPM, ou de “catalães rebeldes”, como a DPZ, nem as agências se esquivavam de justificar, brilhantemente, suas escolhas, contribuindo para o desenvolvimento do país.
Era ditadura? Sim. Havia perseguição política? Sim. Havia censura? Sim. No entanto, acima das questões político-ideológicas, e ainda que, simultaneamente, se exercesse alguma militância pela derrubada do regime, ninguém estava disposto a abrir mão da oportunidade de se consolidar empresarial e profissionalmente. A favor das agências brasileiras, havia a vocação nacionalista da milicada, a mesma que nos ferrou na informática, mas que serviu para manter as marcas mais importantes da publicidade nacional, durante décadas, na liderança do ranking. Uma consagração! Com o fim da ditadura, assumiram civis também muito simpáticos à publicidade, como Sarney (dono de repetidora de televisão), Collor (dono de repetidora de televisão), Fernando Henrique e Lula. Em 1986, João Doria, então presidente da Embratur, “descumpriria” uma lei não escrita, que “determinava” que contas públicas não poderiam ir para agências estrangeiras, e entregou parte da verba publicitária da autarquia para a Ogilvy. Assim, abriu a porteira para as multinacionais também disputarem as maiores contas do país.
Controverso ou não, tudo isso era absolutamente exposto, com nomes e rostos despontando, sorridentes, em jornais, revistas e tevês. Os publicitários tinham orgulho do que faziam e muitos se converteram em verdadeiras celebridades. Então, chegamos em 2018, quando uma figura bisonha, oriunda da zona do baixo Congresso, se arvora candidato da moral e da família e, aproveitando o caminho escancarado pela mídia no combate ao PT, chega à presidência com bizarra facilidade.
Fiel à torpeza das sua ideias, o eleito se volta contra tudo o que remeta à cultura e à civilidade. O que inclui, naturalmente, o desmantelamento de qualquer estrutura profissional de comunicação. A improvisação passa a dar o tom da produção e o patético ao conteúdo das mensagens.
Além de amadorismo e breguice, no entanto, a situação revela um novo personagem no mercado: o publicitário-hiena, aquele que se dispõe a faturar em cima da carcaça em decomposição do pior governo que o Brasil já teve. Naturalmente, não quer mostrar a cara.
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing (stalimircom@gmail.com)