Empresários, profissionais e colaboradores do setor publicitário brasileiro, com ênfase maior em São Paulo, estão indignados com a inércia pelo menos aparente das lideranças do setor, diante de uma crise sem fim que desde há tempos se desenrola, tomando porém um vulto inigualável este ano.

Todos sabemos das transformações técnicas ocorridas nas comunicações, atingindo em cheio a atividade publicitária, não apenas no Brasil, mas praticamente em todo o planeta.

Porém, o que aqui mais se reclama é do silêncio dos que comandam as entidades de classe, tanto patronais, como profissionais e até mesmo as que cuidam do institucional publicitário no país, independentemente de representarem categorias do setor.

Para piorar o quadro recessivo, que evidentemente não começou neste ano, o novo governo federal, instalado no comando do país a 1º de janeiro, vem cuidando também de fazer a sua parte, para prejudicar ainda mais o mercado.

A liberação da obrigatoriedade das veiculações em jornais de todas as variáveis da publicidade legal, transferindo-as para a web, foi apenas mais uma pá de cal sobre o setor, em um momento já de grandes dificuldades por tudo o que vem lhe atingindo.

Nessa questão da publicidade legal, prevalece ainda a versão de que a decisão do Executivo Federal ocorreu propositalmente, como repulsa às críticas que vinha e prossegue sofrendo por parte de grande parte da mídia, porém com maior força e constância da mídia impressa.

Mas, essa é apenas uma parte pequena de todo o grande dano que o novo governo vem causando ao mercado, inibindo as grandes estatais com relação às práticas publicitárias, colocando dessa forma sob suspeita a necessária comunicação publicitária de empresas do Estado que disputam o mercado com congêneres da iniciativa privada.

É o caso do Banco do Brasil, da Caixa e da própria Petrobras, com os derivados de petróleo explorados comercialmente por ela e outras grandes companhias, com destaque para as poderosas multinacionais do setor.

Pior dessa história é que o próprio governo se prejudica com a sua decisão autoritária, já que deixando de fazer propaganda desses produtos e serviços sob a sua tutela, além de outros segmentos que também assina, perde uma oportunidade inestimável de combater os seus críticos, muitos deles mal-intencionados nessa batalha política que foi por demais aguçada a partir da era Bolsonaro.

Se não podem agir em nome do governo, todos os que pertencem à iniciativa privada, em especial do setor publicitário, deveriam se unir e exigir das lideranças do setor um enfrentamento vigoroso diante dessa questão (que chega a ser inexplicável em determinados segmentos), lembrando às atuais autoridades do Executivo que o nosso modelo econômico é o da iniciativa privada, sem a qual não teríamos atingido, e vimos mantendo por tempos já sem conta, a condição de oitava economia do planeta.

É profundamente lamentável essa situação criada quem sabe por objetivos bem-intencionados, mas que estão atrapalhando de forma incalculável todo um setor onde o Brasil é (ou foi) sempre vencedor. Que o digam as principais competições publicitárias que anualmente se realizam mundo afora, com destaque para o sempre prestigiado Cannes Lions.

Mas, esse bater de palmas não se limita apenas ao nosso produto final publicitário, mas também a muitas das empresas do setor, com destaque para o segmento das agências, que constituídas lá atrás em sua grande maioria por ex-publicitários que se tornaram grandes líderes do setor, a ponto inclusive de enfrentarem certos desmandos institucionais da ditadura militar, dentro da qual algumas cabeças pensantes chegaram a imaginar a exclusividade do setor, entregando a tarefa publicitária brasileira à então Agência Nacional, órgão do governo federal.

A ideia, como tantas outras dessa época terrível, chegou a empolgar figuras importantes do então governo militar, mas foi abortada porque importantes lideranças publicitárias da iniciativa privada do nosso país resolveram enfrentar a situação e conseguiram brecar o processo ainda em fase de estudos.

Outras iniciativas do poder central e não apenas do período da ditatura militar voltadas para a comunicação publicitária, com destaque para uma absurda censura de costumes que chegou a ser implantada, mas não durou muito, foram derrubadas ou descontinuadas porque as mesmas lideranças da nossa iniciativa privada publicitária viajavam em bloco para Brasília, participando de audiências inclusive com o presidente da República e seus ministros, mostrando o erro oficial que estava sendo cometido, ou prestes a ocorrer, em detrimento de um setor que já naquela época honrava o país diante das multinacionais do setor primário aqui presentes, além de causar curiosidade e permanente boa impressão além dos nossos limites pátrios.

Esperamos sinceramente que as nossas lideranças civis de hoje do setor compreendam a missão que lhes cabem e lutem pela preservação dos valores incalculáveis obtidos pela eficácia e organização da publicidade brasileira, que não para de fornecer receitas de qualidade até mesmo a países do Primeiro Mundo, não apenas como dissemos na elaboração do seu produto final publicitário, como também e principalmente na união pela defesa dos interesses comuns que uniram essas forças até aqui.

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Bom saber que pelo menos respeitamos nossos ídolos, reconhecendo neles o talento inexcedível que se expandiu por todo o setor, a todos beneficiando.

Ainda agora, está sendo produzido um filme em homenagem a esse craque que é e sempre foi José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, com depoimentos de amigos e conhecidos que de alguma forma têm uma história a contar sobre esse herói brasileiro.

Todos que militam no setor leram ou pelo menos ouviram falar do livro sobre a sua vida, editado em 2011 pela Casa da Palavra.

Logo no prefácio da obra, assinado por ninguém menos que Domenico De Masi, uma citação de Federico Garcia Lorca que justifica tudo o que o leitor lerá dali em diante, nas 463 páginas do livro, batizado pela editora com a simplicidade que sempre acompanhou o famoso e já lendário personagem, que todavia prossegue produzindo: O livro do Boni.

Por contar a trajetória de quem se propôs, a obra dispensaria qualquer outro título.

Aguardaremos agora o filme, produzido pela sua TV Vanguarda, contendo relatos de muitos profissionais que devem a ele, sob muitas formas e causas, o que aprenderam na sua trajetória.

Este editor, por exemplo, ainda muito jovem, trabalhando na então Multi MP Propaganda (estamos falando de 1958/1959), teve a grande sorte, não podendo almoçar em casa (hábito da época) devido à distância da agência e a casa dos seus pais, de frequentar a mesma mesa de almoço da agência onde profissionais já consagrados tomavam assento diariamente e discutiam as campanhas que estavam sendo criadas e produzidas pela agência ou por sua ordem.

Um deles era simplesmente o Boni, com seus 25, talvez 26 anos, já brilhando naquele grupo da hora do almoço na Multi, ao narrar suas ideias para determinados trabalhos.

Para mim, essa oportunidade de aprendizado é inesquecível até hoje, tantos anos já passados.

Grato por tudo, querido amigo!

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Apesar de tudo o acima escrito, a propaganda brasileira prossegue criando e produzindo trabalhos incomparáveis, como a megacampanha de lançamento do Onix Plus, assinada pela WMcCann sob a supervisão de Hugo Rodrigues.

Mereceu matéria nesta edição do seu PROPMARK.

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Na edição de julho/agosto (nº 302) da Revista Abrigraf, em foto de página dupla, uma homenagem dos editores à equipe de redação do PROPMARK.

Agradecemos, emocionados.