Quando Otávio de Carvalho fundou a Publivendas em 1956 avistou a promoção de vendas, uma ferramenta de mar-
keting que a revista PN-Publicidade e Negócios trazia nas suas páginas com frequência, como a última novidade nos Estados Unidos. Otávio representava a revista em Salvador e era admirador do baiano João Dória, diretor da Standard Propaganda, um dos arautos do então nascente marketing promocional no país.
Foi essa percepção em torno da promoção de vendas que inspirou o nome da agência. Publivendas significava Publicidade e Vendas e, fazendo jus a essa inspiração do fundador, lançou-se no mercado promovendo concurso de vitrines no Dia das Mães e outras ações do gênero em datas promocionais. Cabe ressaltar que o Dia das Mães era um evento recém-introduzido no país por João Dória. Importante destacar também que nenhuma outra agência brasileira, daquele tempo, assumiu o epíteto “Vendas” no seu nome fantasia.
Na década seguinte, a Publivendas já era uma das maiores agências de propaganda do mercado baiano, menos vocacionado à promoção de vendas e mais direcionada à mídia, dirigida por Otávio, porém, com a colaboração de dois irmãos, Gilda e Fernando. Este último assumiu-a em inícios da década de 1970 e foi seu presidente até 2013 quando passou o comando para o filho Claudio Carvalho, no contexto da incorporação pelo Grupo ABC. A empresa, então, já tinha outra denominação, Morya, nome adotado em 2002, como referência de uma nova filosofia de negócios.
Nomes ilustres
A dificuldade de se contratar mão de obra qualificada à agência levou Otávio e mais tarde Fernando Carvalho, a estabelecerem parcerias com algumas personalidades baianas: escritores e artistas gráficos. No início da década de 1970 quando a Unigraf (agência de publicidade de João Ubaldo Ribeiro) vivia dias incertos, Fernando Carvalho
propôs ao escritor um acordo de negócios. Foi assim que a Publivendas e a Unigraf atuaram juntas até João Ubaldo tomar outros rumos e se dedicar por inteiro à sua carreira de escritor e enquanto não vivia de direitos autorais, laborava como jornalista, na função de redator-chefe da Tribuna da Bahia.
Também atuaram na agência a folclorista, historiadora e escritora Hildegardes Vianna, o escritor Ariovaldo Mattos; os escritores e membros da Academia Baiana de Letras James Amado (irmão de Jorge Amado) e Epaminondas Costa Lima, este em uma duradoura parceria. E ainda o cartunista francês da Revista LUI, Gerard Lauzier, que morou na Bahia durante quatro anos e leiautou e ilustrou vários anúncios para a agência.
Uma conta para chamar de sua
E foi nos idos de 1975 que a Publivendas conquistou a conta que seria um divisor de águas e lhe proporcionaria um crescimento sustentável, inclusive atuando em outros estados, a conta de Paes Mendonça, então a maior rede de supermercados da Bahia. A conta foi da Publivendas/Morya por quase 40 anos. Nesse interim, enfrentou concorrências que contaram com a participação de outras agências e os naturais entreveros com a mudança do controle acionário da empresa.
Um dia Paes Mendonça vendeu a empresa para o grupo Serra da Pipoca, pertencente à Odebrecht. Mais tarde foi adquirida pela rede Bompreço e esta, por sua vez, pela holandesa Royal Ahold que após vendeu para o grupo Walmart. Cinco proprietários, cinco novas administrações, novos métodos de gestão e a Publivendas/Morya continuou a ser a agência que proporcionava resultados e atingia as metas.
Representatividade
Em 1978 quando se decidiu fundar o capítulo baiano da Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade), Fernando Carvalho, diretor da Publivendas, foi o escolhido por unanimidade. Representava o consenso do mercado publicitário. Foi o primeiro presidente da entidade. Anos depois, em 1987, seria novamente o indicado para presidir a entidade sindical empresarial: o Sinapro/Ba. Foi também seu primeiro presidente.
A representatividade dos diretores da Publivendas/Morya continuou com outras gerações da família e de executivos. Claudio Carvalho, filho de Fernando, foi eleito presidente da Abap em 2000, presidiu a entidade até 2002. E Gustavo Queiroz, diretor da Morya, recentemente elegeu-se como o candidato de consenso para presidir o Sinapro/Ba, até 2018.
60 anos transcorridos, a Publivendas/Morya é contemporânea desta revista, Propaganda. Nasceu apenas quatro meses após o seu lançamento, o seu fundador representava a concorrência, mas não o seria por muito tempo. Nenhuma outra agência de seu tempo, fundada por brasileiros e mantida por quase toda sua existência como empresa familiar, sobreviveu seis décadas.